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07/08/2001
-
04h51
da Folha de S. Paulo
Chorando, o carioca Paulo Coelho, único escritor brasileiro que alcançou fama internacional semelhante à de Jorge Amado, deu ontem à noite um depoimento para a Folha sobre o colega baiano. Falou por telefone, de seu apartamento em Copacabana:
"A literatura brasileira só existe internacionalmente por causa do Jorge. Ele era enorme tanto como artista quanto como ser humano. Percebi sua importância já criança, quando li "Gabriela Cravo e Canela". Foi o primeiro contato que tive com a obra dele. Depois, caiu-me em mãos "Os Velhos Marinheiros". A partir daí, li quase tudo o que escreveu.
É o escritor que melhor compreendeu o Brasil. Quando Jorge descrevia todos aqueles personagens, eu -mesmo menino- já sentia que ele estava falando da minha alma, da alma de meu país. Se me perguntam por que nunca escrevi sobre o Brasil em meus romances, respondo sempre: "Jorge Amado já deu conta do recado". Ele não deixou nenhum espaço vazio nesse sentido. Ninguém como ele mostrou tão bem os contrastes e conflitos do país. Mostrou e viveu. Certa vez, vi uma foto dele -um comunista- usando roupas do candomblé e entendi que, também como indivíduo, Jorge não desprezava as contradições da alma.
Injustamente, o criticaram pela simplicidade de sua linguagem. São críticas de quem ignora a busca de um escritor pelo contato o mais direto e fluente possível com o leitor.
Nas entrevistas que concedo, gosto de dizer que dois Jorges me influenciaram: o Borges e o Amado. Em torno deles, construí minha literatura.
Há sete anos, quando cheguei à lista dos mais vendidos na França com "O Alquimista", alguém comentou: "Xi, o Jorge Amado vai ficar chateado".
Uma semana depois, recebi no Rio uma carta com selo de Paris. Olhei o remetente. Era de Jorge. Não acreditei, porque àquela altura nunca havíamos nos visto ou falado pessoalmente. Quando abri o envelope, encontrei um bilhete (começa a chorar). Dizia: "Paulo Coelho, que orgulho!". Em anexo, grampeado ao bilhete, um recorte com a lista dos best sellers publicada pelo jornal francês "L'Express". Ainda não consigo acreditar que ele morreu."
Leia mais notícias sobre a morte de Jorge Amado
"Percebi sua importância já criança", afirma Paulo Coelho
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Chorando, o carioca Paulo Coelho, único escritor brasileiro que alcançou fama internacional semelhante à de Jorge Amado, deu ontem à noite um depoimento para a Folha sobre o colega baiano. Falou por telefone, de seu apartamento em Copacabana:
"A literatura brasileira só existe internacionalmente por causa do Jorge. Ele era enorme tanto como artista quanto como ser humano. Percebi sua importância já criança, quando li "Gabriela Cravo e Canela". Foi o primeiro contato que tive com a obra dele. Depois, caiu-me em mãos "Os Velhos Marinheiros". A partir daí, li quase tudo o que escreveu.
É o escritor que melhor compreendeu o Brasil. Quando Jorge descrevia todos aqueles personagens, eu -mesmo menino- já sentia que ele estava falando da minha alma, da alma de meu país. Se me perguntam por que nunca escrevi sobre o Brasil em meus romances, respondo sempre: "Jorge Amado já deu conta do recado". Ele não deixou nenhum espaço vazio nesse sentido. Ninguém como ele mostrou tão bem os contrastes e conflitos do país. Mostrou e viveu. Certa vez, vi uma foto dele -um comunista- usando roupas do candomblé e entendi que, também como indivíduo, Jorge não desprezava as contradições da alma.
Injustamente, o criticaram pela simplicidade de sua linguagem. São críticas de quem ignora a busca de um escritor pelo contato o mais direto e fluente possível com o leitor.
Nas entrevistas que concedo, gosto de dizer que dois Jorges me influenciaram: o Borges e o Amado. Em torno deles, construí minha literatura.
Há sete anos, quando cheguei à lista dos mais vendidos na França com "O Alquimista", alguém comentou: "Xi, o Jorge Amado vai ficar chateado".
Uma semana depois, recebi no Rio uma carta com selo de Paris. Olhei o remetente. Era de Jorge. Não acreditei, porque àquela altura nunca havíamos nos visto ou falado pessoalmente. Quando abri o envelope, encontrei um bilhete (começa a chorar). Dizia: "Paulo Coelho, que orgulho!". Em anexo, grampeado ao bilhete, um recorte com a lista dos best sellers publicada pelo jornal francês "L'Express". Ainda não consigo acreditar que ele morreu."
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