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07/08/2001
-
05h02
CYNARA MENEZES
da Folha de S. Paulo
Quantos escritores foram capazes de concluir suas memórias com uma ode a ela, à "flor de cacto", ao "pasto de miosótis", à "mestra de meninos", à "luz de candeeiro", à "peladinha" -enfim, ao órgão sexual feminino?
Pois é assim que termina, à guisa de desejo final, a autobiografia de Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem" (1992), "apontamentos para um livro de memória que jamais escreverei", no dizer do escritor.
"Na hora derradeira quero nela pousar a mão, tocar-lhe a penugem, a pétala do grelo, sentir-lhe a doce consistência, a maciez, nela depositar meu último suspiro", escreve.
A presença da mulher na obra de Jorge Amado é forte e quase tão importante quanto sua obra em si -não à toa, são elas o principal alvo das mais famosas adaptações feitas para o cinema e TV de seus livros: Tieta, Gabriela, Dona Flor, Tereza Batista.
Mulheres do povo, morenas e sensuais, onde o escritor despejou toda a sua paixão pelo sexo feminino, personificada, na vida pessoal, na figura de Zélia Gattai, a companheira de mais de meio século (descendente de italianos, completamente diferente, pelo menos no físico, das heroínas criadas pelo marido; embora, como disse ele, possua "o dengue, o requebro, o samba no pé").
"A mulher é o eixo em vários romances de Jorge Amado. O homem tem um papel secundário, as coisas giram em torno delas", diz a professora de literatura brasileira da Universidade Estadual de Feira de Santana Denise Ribeiro Patrício, autora de "Imagens de Mulher em Gabriela" (Fundação Casa de Jorge Amado).
A professora aponta ainda a "positivização" que a figura feminina tem nos romances do escritor. "É uma mulata sensual bem diferente, por exemplo, da Rita Baiana de "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, que destrói a vida do português Jerônimo, seu amante", diz. "Já Nacib prospera a partir da presença de Gabriela em sua vida. Ela o trai apenas porque não domina o código de mulher, mas tem bom coração."
Com Tieta, a heroína do romance homônimo, também é assim: a prostituta que volta, rica e disposta a ajudar a família. Ou Dona Flor, dona-de-casa dedicada e cheia de virtudes que, embora entediada com o segundo marido, só conhece a infidelidade quando reencontra o defunto redivivo Vadinho, seu primeiro amor.
Sultão da literatura, Jorge Amado sabia como tratar suas mulheres -real e imaginárias. É ele mesmo quem diz, nos versos que escreveu para Gabriela, cantados por Djavan: "O que fizeste, sultão, de minha alegre menina? /Palácio real lhe dei, um trono de pedraria/ Sapato bordado a ouro, esmeraldas e rubis/ Ametista para os dedos, vestidos de diamantes/ Escravas para servi-la, um lugar no meu dossel/ E a chamei de rainha, e a chamei de rainha."
Leia mais notícias sobre a morte de Jorge Amado
Presença da mulher é eixo da vida e da carreira
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da Folha de S. Paulo
Quantos escritores foram capazes de concluir suas memórias com uma ode a ela, à "flor de cacto", ao "pasto de miosótis", à "mestra de meninos", à "luz de candeeiro", à "peladinha" -enfim, ao órgão sexual feminino?
Pois é assim que termina, à guisa de desejo final, a autobiografia de Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem" (1992), "apontamentos para um livro de memória que jamais escreverei", no dizer do escritor.
"Na hora derradeira quero nela pousar a mão, tocar-lhe a penugem, a pétala do grelo, sentir-lhe a doce consistência, a maciez, nela depositar meu último suspiro", escreve.
A presença da mulher na obra de Jorge Amado é forte e quase tão importante quanto sua obra em si -não à toa, são elas o principal alvo das mais famosas adaptações feitas para o cinema e TV de seus livros: Tieta, Gabriela, Dona Flor, Tereza Batista.
Mulheres do povo, morenas e sensuais, onde o escritor despejou toda a sua paixão pelo sexo feminino, personificada, na vida pessoal, na figura de Zélia Gattai, a companheira de mais de meio século (descendente de italianos, completamente diferente, pelo menos no físico, das heroínas criadas pelo marido; embora, como disse ele, possua "o dengue, o requebro, o samba no pé").
"A mulher é o eixo em vários romances de Jorge Amado. O homem tem um papel secundário, as coisas giram em torno delas", diz a professora de literatura brasileira da Universidade Estadual de Feira de Santana Denise Ribeiro Patrício, autora de "Imagens de Mulher em Gabriela" (Fundação Casa de Jorge Amado).
A professora aponta ainda a "positivização" que a figura feminina tem nos romances do escritor. "É uma mulata sensual bem diferente, por exemplo, da Rita Baiana de "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, que destrói a vida do português Jerônimo, seu amante", diz. "Já Nacib prospera a partir da presença de Gabriela em sua vida. Ela o trai apenas porque não domina o código de mulher, mas tem bom coração."
Com Tieta, a heroína do romance homônimo, também é assim: a prostituta que volta, rica e disposta a ajudar a família. Ou Dona Flor, dona-de-casa dedicada e cheia de virtudes que, embora entediada com o segundo marido, só conhece a infidelidade quando reencontra o defunto redivivo Vadinho, seu primeiro amor.
Sultão da literatura, Jorge Amado sabia como tratar suas mulheres -real e imaginárias. É ele mesmo quem diz, nos versos que escreveu para Gabriela, cantados por Djavan: "O que fizeste, sultão, de minha alegre menina? /Palácio real lhe dei, um trono de pedraria/ Sapato bordado a ouro, esmeraldas e rubis/ Ametista para os dedos, vestidos de diamantes/ Escravas para servi-la, um lugar no meu dossel/ E a chamei de rainha, e a chamei de rainha."
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