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08/08/2001 - 05h01

"Não consigo pensar que ele sumiu", diz Zélia Gattai

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OTÁVIO DIAS
da Folha de S. Paulo

"Ainda estou muito aérea. Não consigo nem pensar que ele sumiu", disse ontem a escritora Zélia Gattai, 85, à Folha, num dos raros momentos em que saiu do lado do caixão de seu companheiro, o escritor Jorge Amado, morto anteontem de insuficiência cardíaca em Salvador.

"O que posso falar sobre Jorge?", perguntou Zélia, demonstrando impotência diante da morte do marido e com a voz embargada. "Para mim, ele estará sempre presente. Não vou esquecê-lo nunca."

Vestida de branco e rodeada dos filhos, netos, parentes e amigos mais íntimos, a escritora disse não se lembrar das últimas palavras de Jorge Amado. "Não sei dizer, não me lembro. Foi tudo entrecortado", disse.
De acordo com Zélia, Jorge Amado não fez nenhum pedido ou declaração especial em seus últimos momentos de vida.

"Ele nunca falou sobre o assunto. Nunca conversamos sobre isso. Jorge gostava muito de viver e queria distância de funerais", afirmou.

Segundo sua filha, Paloma, o escritor fez apenas duas recomendações, há alguns anos. Pediu para ser cremado e ter suas cinzas espalhadas sob uma mangueira no jardim de sua casa, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.

E proibiu a publicação de qualquer manuscrito inacabado. "Ele tem dois inéditos inacabados, mas proibiu a publicação depois de sua morte."

Cerimônia familiar

Paloma disse que as cinzas do escritor serão espalhadas sob a mangueira apenas diante da presença dos familiares mais íntimos. "Só minha mãe, meu irmão, eu, nossos companheiros e os netos estaremos presentes", afirmou.

Ela não soube dizer quando ocorrerá a cerimônia familiar, já que as cinzas do escritor só serão entregues à família nos próximos dias. Alguns amigos comentavam, no entanto, que o ato poderá coincidir com o dia do aniversário de Jorge Amado, na próxima sexta-feira, quando ele completaria 89 anos.

O médico particular de Amado, Jadelson Andrade, permaneceu a maior parte do tempo ao lado de Zélia. "Acho que ela ainda não compreendeu o que aconteceu", disse. "Nos últimos anos, ela enfrentou diversas crises de saúde de Jorge. Vai demorar um pouco para Zélia se dar conta."

Segundo Andrade, Jorge começou a passar mal por volta das 17h de anteontem, logo após realizar exercícios de fisioterapia. "Zélia me chamou e decidimos interná-lo. Mas assim que chegamos ao hospital, por volta das 19h, ele teve uma parada cardíaca. Tentamos reanimá-lo, mas, por volta das 19h30, percebemos que não havia resposta e que havia sinais de comprometimento de outras funções", afirmou.

De acordo com o cardiologista, o escritor pode ter tido um novo infarto. Amado sofreu um infarto em 1993. Em 96, submeteu-se a uma angioplastia [intervenção cirúrgica para desobstruir as artérias do coração] e, no ano seguinte, colocou um marca-passo, aparelho que controla a frequência cardíaca.

"O quadro clínico de Jorge anteontem parecia muito com o do primeiro infarto, em 93", disse Andrade, que, apesar da tristeza, tentava mostrar tranquilidade. "Ele viveu o máximo que pôde com qualidade de vida. Quando não deu mais, é porque havia chegado o momento."

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