Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
14/09/2001 - 07h44

Roteirista de "NY Sitiada" comenta atentado nos EUA

Publicidade

MILLY LACOMBE
free-lance para a Folha, em Los Angeles

O filme que Larry Wright escreveu em 1997 e que Bruce Willis e Denzel Washington estrelaram em 98 virou profecia. Algumas das cenas de "Nova York Sitiada", que conta a história de uma cidade vítima de inimagináveis atentados terroristas, foram literalmente reproduzidas na última terça, quando dois Boeing-767 foram lançados contra o símbolo máximo do capitalismo americano, o World Trade Center.

"Assisti às imagens pela TV em estado de choque", disse ele à Folha em Los Angeles. "Nem em meus piores pesadelos poderia ter vislumbrado esse cenário", continuou Wright. "Quando escrevi "Nova York Sitiada" tive cuidado de não extrapolar muito em minhas alucinações. Mas, pelo visto, minha imaginação ficou aquém da capacidade desses lunáticos".

Wright disse que passou a terça-feira em pânico quando percebeu que via, pela TV, sua obra de ficção virar realidade da forma mais dramática e surreal possível. "O cenário foi mais apavorante do que o que, sem querer, antecipei".

Na época, lembra Wright, o jornal "The L.A Times" criticou a ousadia do roteirista. "Para deixar a trama ainda mais tensa, existe o infeliz fato de que o cenário envolvendo uma série de ataques terroristas em Nova York está fora de cogitação. Ao mesmo tempo, assistir a esse filme é ficar desconfortavelmente ciente de que algumas de suas cenas podem estar na capa dos jornais de amanhã", escreveu o crítico Kenneth Turan.

"Infelizmente, ele estava apenas parcialmente enganado", disse o roteirista sobre a observação publicada no jornal. "Atentados nunca estão fora de cogitação." Wright conta ainda que idealizou o roteiro quando procurava por uma história que trouxesse à tona a verdadeira essência americana. "Trata-se de uma fábula sobre como em momentos de adversidade temos a capacidade de nos refazer enquanto nação", explicou.

Ele disse também que a maior e mais bela diferença entre o cenário caótico que imaginou em 97 e o que foi pintado nessa "terça-feira de cinzas" em Nova York são os personagens. "Em um roteiro, você desenha o perfil de um herói. Na vida real, a população americana está mostrando que há milhares de heróis, gente que passa a noite na fila para doar sangue".

Mas ele se apressa em explicar que se no seu filme o vilão era árabe, é importante lembrar que na dramática realidade ainda não se sabe quem é o inimigo. "Motoristas de táxi árabes estão sendo espancados em Nova York e soube de uma estudante muçulmana que foi expulsa da escola. Isso me apavora. Não podemos cair na tentação nazista de generalizar e eleger uma raça como inimiga".

Wright está trabalhando em uma reportagem para a revista "The New Yorker" sobre a reação ao atentado por parte da comunidade islâmica nos EUA. "Eles estão chocados. Não apenas porque estão sendo vítimas de ataques, mas principalmente porque consideram a América sua pátria".

Apesar da oportunidade de ouro, Wright não acredita que Hollywood explore os fatos dessa fatídica terça-feira tão rapidamente. "Tão cedo o povo americano não estará pronto para rever sua dor em imagens gigantescas".

Para ele, se seu filme -na época acusado de surreal, mas ao mesmo tempo perturbador, por lidar com imagens e circunstâncias exageradamente dramáticas e assustadoras- acabou ficando aquém da realidade, agora, o inferno é o limite.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página