Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/09/2001 - 04h17

Ópera Carmen retorna a São Paulo politicamente correta

Publicidade

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

"Carmen", de Georges Bizet (1838-1875), uma das óperas mais populares e mais frequentemente encenadas do repertório lírico, estréia hoje em São Paulo, no teatro Alfa, em temporada de sete récitas, com a Orquestra Experimental de Repertório e direção musical de Jamil Maluf.

O espetáculo foi concebido por Carla Camurati, que assina a direção cênica em companhia de Hamilton Vaz Pereira. A cigana espanhola -mulher fatal que seduz o policial Don José, abandona-o pelo toureiro Escamillo e acaba assassinada pelo ex-amante- é encenada com a mesma visão modernizante que predominou nas produções politicamente corretas dos últimos 30 anos.

Nada que pudesse chocar a moralidade burguesa, conforme ocorreu na fracassada estréia do espetáculo, na Paris de 3 de março de 1875, na Opéra Comique. O público, habituado a personagens históricos ou míticos, visivelmente torceu o nariz para algo muito próximo de sua experiência -o adultério!- cotidiana.

Na direção de Camurati, Carmen já é punida pelo enredo que lhe tira a vida. Deve então se tornar, como contrapeso, a encarnação positiva da mulher que exerce naturalmente o direito à liberdade amorosa. No imaginário europeu do romantismo, vale a pena lembrar, a sexualidade tinha por pátria e sede a Espanha.

De certo modo, Carmen é atemporalizada pelos cenários de J. C. Serroni, em que estruturas metálicas evocam de forma apenas sutil e indireta a cidade de Sevilha, em que a ação originariamente se passa ao redor de 1820.

O resultado dessa concepção não é sempre convincente. É como se a cenografia e nela a direção cênica escapassem ao verossímil geográfico, mas ficassem a meio caminho ao escolherem uma concepção abstrata.
Há, como pontos fortes, a rígida marcação de movimentos dos solistas, do Coral Paulistano e do Coral Infantil Eco, com achados de extrema delicadeza, como na cena do primeiro ato na qual a cigana utiliza, para envolver o corpo de Don José, a mesma corda com que ele deveria levá-la, após uma briga, à prisão.

No papel-título revezam-se Luciana Bueno (em cinco récitas) e Rita Medeiros (em duas). O amante rejeitado será encenado pelo mexicano Fernando de la Mora e por Marcello Vannucci.

Micaela, a namorada que Don José abandona para acompanhar Carmen ao mundo clandestino dos contrabandistas, terá no primeiro elenco a coreana radicada nos Estados Unidos Yunah Lee.

A grande surpresa está na Micaela do segundo elenco, Guiomar Milan. É uma cantora de 19 anos, aluna desde os 15 de Leilah Farah, dona de um magnífico timbre grave e de uma técnica de respiração e "legato" que flui com espantosa espontaneidade. Anotem o nome dela. Está nascendo com certeza uma grande estrela operística brasileira.

Há por fim a Experimental de Repertório, uma orquestra municipal de jovens bolsistas que se comporta com a retidão musical de poucos outros conjuntos sinfônicos brasileiros.

CARMEN
ópera de Georges Bizet em três atos
Onde: teatro Alfa (r. Branco de Andrade Filho, 722, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/5693-4000)
Quando: terça a sábado, às 20h30; domingo, às 17h; até 6/10. Quanto: de R$ 40 a R$ 170

Leia mais:

  • Intérprete de Carmen faz personagem pela terceira vez

  • Encenação de Carmen trará "melodramas" raros no primeiro ato

  • Ópera "Carmen" põe a mítica mulher fatal no centro da ação

  • Veja as versões mais famosas de "Carmen" no cinema

  • Conheça o conto "Carmen", de Mérimée, que deu origem à ópera

  • "Carmen" já ganhou mais de 30 versões para o cinema
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página