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29/10/2001
-
14h42
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo
O público é uma coisa esquisita, muito esquisita. Como de costume, o circo de comportamento se armou no Free Jazz 2001 desde a primeira noite e, no Main Stage, o dito palco pop do festival, acabou adquirindo contornos levemente dramáticos, na hora dos shows.
Com Grandaddy aconteceu o que sempre acontece: hora do rush para a massa "moderna" da vitrine viva lá fora, sobrou pouca gente para saber o que o grupo californiano tinha a dizer.
Na hora do Sigur Rós, grande parte das pessoas já estava dentro. Elegantemente despreparada para o show de silêncio que ia começar, a platéia tirava atraso do papo de ano inteiro (e reclamava que Sigur Rós é lento, arrastado). Ouvir, poucos ouviam, mas maritacas aplaudiam freneticamente cada fim de música, como se fosse o melhor show de suas vidas.
Belle & Sebastian foi a catarse -e era de fato um grande espetáculo musical. O público se educava, apto a assimilar o aparato pop/erudito que o B&S trazia em comum com Sigur Rós. Era grande o entusiasmo com o pequeno fenômeno escocês que, sabe-se por que cargas d'água, tem encontrado tanto eco no país tropical.
A explicação veio logo, e surpreendente. Há um laço entre B&S e Brasil, e o grupo o expôs cantando "Baby" (68), de Caetano Veloso, já gravada por Bethânia, Gal e Mutantes. A euforia tomou conta, e nove entre dez pisantes cantaram em coro os versos de carolina, margarina, gasolina.
Ora, mas o público "moderno" brasileiro não odeia MPB, em geral, e o autor Caetano (parceiro da organizadora do festival, olha que ironia), em particular?
Sim, odeia, mas não quando os "civilizados" vêm nos ensinar que a música do Brasil tem lá suas glórias. Por isso o outro instante de ovação foi "A Minha Menina" (69), de Jorge Ben, o mais tropicalista dos tropicalistas, que B&S também conheceu por intermédio dos Mutantes. O que se estava produzindo ali, embora o B&S não saiba, era gigantesco paradoxo: os esquisitos modernos brasileiros estavam obrigados a cantar, extasiados, a música que mais costumam odiar, a brasileira.
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Público "moderninho" do Free Jazz foi "obrigado" a cantar MPB
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O público é uma coisa esquisita, muito esquisita. Como de costume, o circo de comportamento se armou no Free Jazz 2001 desde a primeira noite e, no Main Stage, o dito palco pop do festival, acabou adquirindo contornos levemente dramáticos, na hora dos shows.
Com Grandaddy aconteceu o que sempre acontece: hora do rush para a massa "moderna" da vitrine viva lá fora, sobrou pouca gente para saber o que o grupo californiano tinha a dizer.
Na hora do Sigur Rós, grande parte das pessoas já estava dentro. Elegantemente despreparada para o show de silêncio que ia começar, a platéia tirava atraso do papo de ano inteiro (e reclamava que Sigur Rós é lento, arrastado). Ouvir, poucos ouviam, mas maritacas aplaudiam freneticamente cada fim de música, como se fosse o melhor show de suas vidas.
Belle & Sebastian foi a catarse -e era de fato um grande espetáculo musical. O público se educava, apto a assimilar o aparato pop/erudito que o B&S trazia em comum com Sigur Rós. Era grande o entusiasmo com o pequeno fenômeno escocês que, sabe-se por que cargas d'água, tem encontrado tanto eco no país tropical.
A explicação veio logo, e surpreendente. Há um laço entre B&S e Brasil, e o grupo o expôs cantando "Baby" (68), de Caetano Veloso, já gravada por Bethânia, Gal e Mutantes. A euforia tomou conta, e nove entre dez pisantes cantaram em coro os versos de carolina, margarina, gasolina.
Ora, mas o público "moderno" brasileiro não odeia MPB, em geral, e o autor Caetano (parceiro da organizadora do festival, olha que ironia), em particular?
Sim, odeia, mas não quando os "civilizados" vêm nos ensinar que a música do Brasil tem lá suas glórias. Por isso o outro instante de ovação foi "A Minha Menina" (69), de Jorge Ben, o mais tropicalista dos tropicalistas, que B&S também conheceu por intermédio dos Mutantes. O que se estava produzindo ali, embora o B&S não saiba, era gigantesco paradoxo: os esquisitos modernos brasileiros estavam obrigados a cantar, extasiados, a música que mais costumam odiar, a brasileira.
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