Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/11/2001 - 03h55

"Bully", em cartaz em SP, mostra jovens planejando crime

Publicidade

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
da Folha de S.Paulo

Sete amigos se reúnem em torno de um desejo comum: assassinar o valentão da turma. Maus-tratos, humilhações e estupros são os motivos para o ato extremo. Mas as razões não são importantes. Eles se interessam mais em escolher a forma da morte.

Isso é "Bully" (o valentão), retrato da juventude americana de classe média feito por Larry Clark, 58, diretor/fotógrafo que estreou em 95 com o polêmico "Kids". "Eles têm muito tempo de ócio e nada lhes dá prazer.
O assassinato do colega é tudo em que conseguem pensar", diz o cineasta de Tulsa, em Oklahoma (EUA).

A carreira fotográfica de Clark também é transgressora: mostra pessoas nuas em poses sensuais. Mas não foi assim em território brasileiro. Aqui ele clicou meninos de rua em Salvador. "Fui com meu filho e vimos o contraste entre a pobreza e quem tem dinheiro. Foi bem interessante", diz.

O diretor não acompanhará as exibições do filme no Brasil -já escolhido para a semana de repescagem da Mostra, de 2 a 8 de novembro. "Estou muito ocupado com novos projetos."

Folha - O sr. acha que a adolescência é um período que necessariamente tem a ver com prostituição, drogas e sexo ao extremo?
Larry Clark -
Acho que é quando formamos quem seremos, é uma época difícil. Os jovens do filme tinham tempo para se entediarem. Eles estavam tão absorvidos consigo mesmos, em seu mundinho, que não tinham uma visão mais ampla do resto do mundo. Acho que é uma história tipicamente americana. Não sei se poderia acontecer no Brasil, por exemplo.

Folha - Por que o sr. acha que eles escolheram o assassinato como uma solução para seus problemas?
Clark -
Porque foi tudo o que eles conseguiram imaginar. Eles têm uma visão de mundo tão estreita! Tinham o luxo de poder ficar sentados o dia todo, fazendo nada e fumando maconha, depois sair com seus carrões e fazer sexo, sem que nada disso tivesse a menor importância. Eles se entediam com tudo isso. Não vêem outra saída, já que tudo em que pensam é neles mesmos. Não pensam nas consequências dos seus atos.

Folha - A violência entre jovens tem se tornado algo comum nos EUA. Por quê?
Clark -
Acredito que isso mude agora, após o atentado do dia 11 de setembro, quando as pessoas se depararam com os efeitos da violência à sua porta. Talvez seja a nossa cultura mesmo. Não sei.

Folha - O sr. acha que a adolescência está sendo perdida?
Clark -
Sim, acho que nenhum desses garotos conseguiria matar alguém sozinho. Eles se escoram na força do grupo. Cada questionamento do ato é derrubado pela força do grupo como instituição. E a perda da inocência acontece cada vez mais cedo hoje. Não sei dizer se ainda há inocência nos EUA. Tudo acontece mais cedo, as crianças sabem de tudo em uma tenra idade. Há como uma pressão da sociedade para que façam sexo cedo, experimentem drogas cedo. É coisa demais.

Folha - A mensagem do filme está na camiseta do irmão de um dos protagonistas, que diz: "Ouse resistir às drogas e à violência"?
Clark -
Acho que a mensagem é que há consequências para todos os atos. E que temos de estar mais atentos ao que nossos filhos estão fazendo, mesmo que estejam em seus quartos. Sexo e drogas estão entrando nas vidas deles cedo demais. Não estão preparados.

Folha - Como foi adaptar essa história, que ocorreu na vida real?
Clark -
Tirei tudo do livro ["Bully: A True Story of High School Revenge" de Jim Schutze. Tentei fazer algo bem realista.

Folha - Por que esse livro?
Clark -
Achei que era uma ótima história. Metade daqueles jovens não conhecia quem iam matar. Fiquei interessado em como se juntaram numa noite só para matar alguém. É de uma violência... Uma história estranha, que tem muito da cultura americana.

Folha - E a trilha sonora?
Clark -
Tentei escolher músicas que esses jovens escutassem, que fizessem sentido para os personagens. Foi um mergulho interessante. A parte divertida de fazer um filme é escolher as músicas.

Folha - O sr. vem ao Brasil?
Clark -
Não, estou muito ocupado fazendo filmes. Acabei de terminar um chamado "Ken Park" e estou em dois novos projetos. Mas ainda é cedo para falar deles.

Folha - E "Ken Park"?
Clark -
É sobre os pais das crianças. É um outro lado da moeda.

Leia notícias e programe-se para a 25ª Mostra Internacional de Cinema


Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página