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10/07/2000 - 04h56

Suassuna recria almanaque e folhetim

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da Folha de S.Paulo

Ariano Suassuna estréia hoje sua coluna semanal na Ilustrada. O dramaturgo, escritor, poeta, artista plástico e professor paraibano deixa o espaço que vinha ocupando desde o início do ano passado no primeiro caderno da Folha e passa a publicar todas as segundas-feiras o seu "Almanaque Armorial Brasileiro" (leia à pág. E 8). Nessa nova série, Suassuna, 73, vai aplicar elementos que estiveram presentes em sua trajetória de diálogo com a arte popular.

O autor de obras das mais relevantes feitas no Brasil neste século, tanto na dramaturgia ("O Auto da Compadecida) quanto na literatura ("A Pedra do Reino"), diz que sua coluna terá parentesco direto com os almanaques e com os folhetins.

Dos primeiros, folhetos populares feitos usualmente em periodicidade anual, Suassuna fisgou o gosto pela variedade. "Os almanaques são os últimos herdeiros do humanismo", diz o escritor, prometendo explicar melhor no artigo da semana que vem.

É exatamente aí, no "continua na próxima semana", que Suassuna carimba em sua coluna a marca do folhetim.

Uma das principais características das obras desse gênero, criado na Europa, mas muito difundido no Brasil, sobretudo no século 19 e no início do 20, é a de terem uma unidade mesmo quando publicadas descontinuamente.

Além dessas duas matrizes, Suassuna diz que irá usar elementos do folheto de cordel, gênero popular de literatura feito sempre em versos. O autor usará ainda um artifício de alguns cordelistas de renome, que, além de escreverem, fazem a xilogravura da capa do folheto. Ariano Suassuna convocou Ariano Suassuna para ilustrar sua coluna. Ele é o autor da xilogravura usada já nesta edição.

Leia trechos da entrevista em que o escritor fala de sua nova empreitada jornalística, comenta seus projetos futuros, como a continuação de "A Pedra do Reino" e explica sua relação com a "vaidade literária", que fez com que parasse de escrever em 81.

Folha - A coluna do sr. será mais vida, mais sonho ou mais "A Vida É Sonho", título da peça do espanhol Calderón de La Barca que o sr. sempre cita?
Ariano Suassuna - Acho que as três coisas. Vou tentar usar vida, usar sonho e também essa visão barroca do mundo como palco e da vida como representação.

Folha - O sr. já fez diversos elogios às imitações e costuma dizer que boa parte da obra de Shakespeare vem da recriação de outras histórias mais antigas. O sr. se inspirou em alguém para criar o modelo da coluna?
Suassuna - Sempre acreditei que a imitação já foi, e no meu caso continua, um processo criador. Para criar a coluna, me inspirei muito nos almanaques. Quando eu era pequeno, era muito comum no sertão ler almanaques. A primeira vez que li Monteiro Lobato, por exemplo, no sertão da Paraíba, foi em um almanaque de um remédio chamado Capivarol. Ele criou o personagem Jeca Tatu para esse remédio. Alguns dos maiores autores do cordel do Nordeste publicam todo ano um almanaque. Na coluna da semana que vem, vou falar sobre o almanaque e explicar por que ele é o último herdeiro do humanismo.

Folha - Por que o sr. termina a primeira coluna com a expressão "continua na próxima semana"? É referência ao folhetim?
Suassuna - Eu quis juntar duas tradições. A do almanaque com a do folhetim, um texto contínuo. Estou unindo o folheto de cordel ao folhetim, e não é por acaso que essas duas palavras têm a mesma raiz. Eventualmente vou citar coisas de cordel.

Folha - Pedro Diniz Quaderna, seu personagem clássico, protagonista de "A Pedra do Reino", participará da coluna?
Suassuna - Creio que não. Eu inclusive pensei em fazer, e cheguei até a testar, a coluna em forma de diálogos ficcionais, mas aí achei que a pessoa de Ariano Suassuna desaparecia. Pensei que talvez meus leitores estranhassem. Fiquei como pessoa e os personagens desapareceram.

Folha - E os personagens desapareceram completamente da vida do sr.? Como vai o projeto de reescrever toda a sua obra?
Suassuna - Ainda estou trabalhando nesse projeto. Só não quero marcar prazos para entregar. Já marquei e fui desmoralizado muitas vezes.

Folha - E a idéia de fazer "Sinésio, o Alumioso", uma continuação de seu romance "A Pedra do Reino"? É verdade que terá cerca de 20 volumes?
Suassuna - Se eu conseguir fazer o romance que eu quero, ele vai terminar "A Pedra do Reino". Não sei se terá 20 volumes. Andaram botando isso por aí. Não estou conseguindo terminar nem o primeiro, não tenho como dizer quantos serão. Só posso dizer que será um romance grande. Mas como eu sei que, por influência da televisão, o povo não lê mais romance grande, como eu pessoalmente gosto, inventei essa história de dividir esse romance em vários, que podem ter vida independente. Os personagens continuam. Todos os meus personagens importantes estarão lá.

Folha - Mas o sr. prepara um romance de muitos volumes ou uma revisão de toda a sua obra?
Suassuna - As duas coisas. Pretendo retomar todas as minhas obras, inclusive "A Pedra do Reino", nesse romance. Não sei se tenho tempo de vida para completar isso tudo. Mas como sempre digo que não vou morrer, que eu acho que não é bom negócio, creio que vai dar tempo.

Folha - Em 1981 o sr. declarou publicamente que deixaria de escrever. Que era preciso se afastar da "monstruosa" vaidade literária. Como o sr., que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa "vaidade"?
Suassuna - Quando dei aquela declaração, eu falava mais da vida literária do que da literatura. Eu estava um pouco cansado naquele tempo, pois estava muito exposto. Agora estou de novo. Mas estou mais velho e consigo equilibrar um pouquinho as coisas. Sem me deixar possuir pelo demônio da vaidade ou ser dilacerado pela excessiva exposição.

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