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23/11/2001
-
04h10
BIA ABRAMO
free-lance para a Folha
Os leitores de Harry Potter, seja na Inglaterra, Estados Unidos ou Brasil, de maneira geral são unânimes na apreciação que estão fazendo da versão cinematográfica: "Ah, o filme é legal, mas o livro é melhor".
Quase todos os leitores-espectadores ouvidos pela Folhinha no último sábado sentem falta de alguma coisa: Guilherme Costa, 10, queria ver mais o dragão Norberto; Fernanda Santos, 14, aponta a frouxidão na construção da rivalidade entre Draco e Harry.
E é um garoto de 13 anos quem mata a charada: "Às vezes, é melhor ler e imaginar os personagens e os lugares do seu jeito do que ter a sua idéia distorcida num filme. Isso quase não ocorre em Harry Potter porque todas as coisas foram bem descritas no livro. Todos vão gostar do filme, mas, para quem já é viciado em Harry Potter, a emoção de ver o pequeno herói na tela será diferente", diz Henrique Secco.
Pois é, se "Harry Potter", o filme, não "distorce" exatamente o universo criado por J.K. Rowling, ele também estava de saída destinado a não alcançar um de seus objetivos, que era o de corresponder às expectativas dos já leitores (do outro objetivo, que é atrair os não-leitores, a gigantesca máquina de marketing vai, sem dúvida, se encarregar). A emoção, como diz o jovem Secco, de conviver com personagens, lugares e objetos que vão se formando na imaginação não se compara à de vê-los prontos na tela do cinema.
Por maior que tenha sido o respeito com que o diretor Chris Columbus tratou o material do livro, digamos que o "imaterial" do livro, a heterogeneidade das imagens, associações e interpretações que os leitores de Harry Potter construíram ao longo de todo o período pré-filme, era-lhe de antemão inacessível. Não, o filme não será um fracasso -os números hiperbólicos associados ao livro já começaram a repetir-se em relação ao filme. Mas seus fãs vão tratar o filme como um acessório.
O que torna Harry Potter um fenômeno tão interessante é que seu universo foi gestado até agora pela leitura -daí a espécie de decepção que manifestam meninos e meninas leitores agora tornados espectadores. Por mais formulaico que o texto de Rowling possa parecer, a escritora cerca sua estrutura simples de texturas e de emoções que são mais bem apreendidas e apreciadas no embate com o texto escrito ou, no mínimo, que tendem a se transformar em ruídos quando são traduzidos literalmente em imagens.
Cada leitor terá sua lista de reclamações, mas aí vai uma: o sensacional Nick Quase-Sem-Cabeça passa despercebido; a importância de Hermione na resolução do enigma final; o encantamento de Harry com o primeiro Halloween em Hogwarts; a atração do gigante Hagrid por animais de estimação perigosos; toda a sequência do Beco Diagonal. E, sobretudo, o humor irônico e inteligente de Rowling, transformado em "gracinha" por Columbus.
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Os leitores de Harry Potter, seja na Inglaterra, Estados Unidos ou Brasil, de maneira geral são unânimes na apreciação que estão fazendo da versão cinematográfica: "Ah, o filme é legal, mas o livro é melhor".
Quase todos os leitores-espectadores ouvidos pela Folhinha no último sábado sentem falta de alguma coisa: Guilherme Costa, 10, queria ver mais o dragão Norberto; Fernanda Santos, 14, aponta a frouxidão na construção da rivalidade entre Draco e Harry.
E é um garoto de 13 anos quem mata a charada: "Às vezes, é melhor ler e imaginar os personagens e os lugares do seu jeito do que ter a sua idéia distorcida num filme. Isso quase não ocorre em Harry Potter porque todas as coisas foram bem descritas no livro. Todos vão gostar do filme, mas, para quem já é viciado em Harry Potter, a emoção de ver o pequeno herói na tela será diferente", diz Henrique Secco.
Pois é, se "Harry Potter", o filme, não "distorce" exatamente o universo criado por J.K. Rowling, ele também estava de saída destinado a não alcançar um de seus objetivos, que era o de corresponder às expectativas dos já leitores (do outro objetivo, que é atrair os não-leitores, a gigantesca máquina de marketing vai, sem dúvida, se encarregar). A emoção, como diz o jovem Secco, de conviver com personagens, lugares e objetos que vão se formando na imaginação não se compara à de vê-los prontos na tela do cinema.
Por maior que tenha sido o respeito com que o diretor Chris Columbus tratou o material do livro, digamos que o "imaterial" do livro, a heterogeneidade das imagens, associações e interpretações que os leitores de Harry Potter construíram ao longo de todo o período pré-filme, era-lhe de antemão inacessível. Não, o filme não será um fracasso -os números hiperbólicos associados ao livro já começaram a repetir-se em relação ao filme. Mas seus fãs vão tratar o filme como um acessório.
O que torna Harry Potter um fenômeno tão interessante é que seu universo foi gestado até agora pela leitura -daí a espécie de decepção que manifestam meninos e meninas leitores agora tornados espectadores. Por mais formulaico que o texto de Rowling possa parecer, a escritora cerca sua estrutura simples de texturas e de emoções que são mais bem apreendidas e apreciadas no embate com o texto escrito ou, no mínimo, que tendem a se transformar em ruídos quando são traduzidos literalmente em imagens.
Cada leitor terá sua lista de reclamações, mas aí vai uma: o sensacional Nick Quase-Sem-Cabeça passa despercebido; a importância de Hermione na resolução do enigma final; o encantamento de Harry com o primeiro Halloween em Hogwarts; a atração do gigante Hagrid por animais de estimação perigosos; toda a sequência do Beco Diagonal. E, sobretudo, o humor irônico e inteligente de Rowling, transformado em "gracinha" por Columbus.
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