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01/12/2001 - 03h31

Livro reúne textos de expoentes da cultura brasileira em 80 anos

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JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha

"Chega de pacotes, prorrogações, reeleições, sabujices de toda ordem. Há dias em que, por respeito a sentimentos genuínos, não dá para perder tempo com tanto lixo, tanta desonestidade e tanta ousadia de mequetrefes que viram manchete de jornal por melhor servir ao poder desservindo ao país."

O texto acima não foi escrito por nenhum opositor indignado do governo FHC, mas pelo próprio Fernando Henrique Cardoso, então senador pelo PMDB, por ocasião da morte de Elis Regina, em janeiro de 1982.

Publicado na página 2 da Folha, onde FHC tinha uma coluna, o texto agora está no livro "Figuras do Brasil - 80 Autores em 80 Anos de Folha", que a Publifolha lança como parte das comemorações do 80º aniversário do jornal.

"Boa parte da inteligência brasileira do século 20 passou pelas páginas da Folha e está no livro", sintetiza o crítico e ensaísta Arthur Nestrovski, editor da Publifolha e organizador do volume. Basta uma passada de olhos pelo índice para atestar a afirmação: de Monteiro Lobato (autor do texto mais antigo, de 1921) a Marcelo Coelho (do mais recente, de 2001), "todo mundo" está representado.

Ou quase. Problemas de direitos autorais impediram a inclusão de textos preciosos de escritores como Guimarães Rosa e Mário de Andrade, que manteve durante anos a coluna "Mundo Musical" na "Folha da Manhã", um dos três jornais que se fundiram em 1960 na Folha (os outros foram "Folha da Noite" e "Folha da Tarde").

Ausências dolorosas, sem dúvida. Mas, lendo o livro, é difícil imaginar quem sairia dele para dar lugar aos que ficaram de fora.

O elenco é assombroso. Escritores como Oswald de Andrade e Jorge Amado, poetas como Bandeira e Drummond, críticos como Antonio Candido e Sergio Buarque de Holanda, antropólogos como Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro, artistas como Di Cavalcanti e Iberê Camargo, dramaturgos como Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, cineastas como Glauber Rocha e Arnaldo Jabor, jornalistas como Paulo Francis e Antonio Callado, além de um riquíssimo "etc.", escreveram para a Folha.

Um critério básico de seleção foi, segundo o editor, o ineditismo dos textos quando de sua publicação na Folha. Ou seja: o livro só traz material publicado em primeira mão pelo jornal.

Uma exceção é o poema "Jorge", de Murilo Mendes, que saiu na "Revista Acadêmica" em 1948 e foi republicado na Folha em 1983. "Neste caso, a inclusão do texto se justificava pelo caráter demasiado restrito da publicação original", diz o organizador.

Outra decisão foi deixar de lado textos excessivamente especializados (como ensaios de filosofia ou psicanálise, por exemplo) e comentários demasiado pontuais. "Isso explica a ausência de textos de grandes autores, como Clóvis Rossi e Elio Gaspari", diz.

Quando haviam vários textos de um autor, a escolha se baseou na importância do assunto ou no inusitado da abordagem. Assim, há muitas surpresas no livro, como uma crítica do desenho animado "Fantasia", de Walt Disney, por um fascinado Monteiro Lobato, ou uma longa crônica policial em capítulos por Oswald de Andrade, que acompanhou um repórter do jornal na investigação de um crime escabroso em 1948.

Atualidade
Alguns textos literários revestem-se de importância histórica evidente.
A crônica "Amor que Morre", de Nelson Rodrigues, a última escrita pelo autor, foi publicada na mesma página em que se noticiava a sua morte, na edição de 22 de dezembro de 1980.

O conto "O Ventre Seco", de Raduan Nassar, saiu na mesma edição do suplemento "Folhetim" em que o ficcionista anunciava sua retirada da literatura. "Na verdade tinha deixado de escrever logo depois de terminar a revisão de "Um Copo de Cólera" (publicado em 1978), mas não havia contado a ninguém", lembra hoje Nassar.

Outros textos testemunham o empenho cívico e a coragem pessoal de seus autores. É o caso da crônica "Do Herói ao Anti-Herói", publicada por Janio de Freitas em novembro de 1981, a propósito do restabelecimento do capitão Wilson Luís Chaves Machado, ferido acidentalmente no frustrado atentado ao Riocentro.

Escrito com ironia feroz sob a forma de uma carta dirigida ao capitão, o artigo rendeu ao jornalista telefonemas ameaçadores de militares ressentidos. "Na época isso não era estranho para mim", lembra Janio de Freitas, mostrando que as onças mudam, mas a vara curta continua a mesma.

"Figuras do Brasil" foi concebido como resposta a um desafio proposto pela direção da Folha. "O jornal queria um livro de peso para comemorar seus 80 anos", diz Nestrovski.

"Até onde eu sei, um livro nesses moldes é uma experiência inédita, mesmo internacionalmente. Isso confirma minha impressão de que no Brasil os jornais têm uma importância cultural muito maior do que em outros lugares. Num país em que há tão pouco território para a discussão cultural, a imprensa acaba suprindo em parte essa lacuna."

"Figuras do Brasil" inaugura uma nova era na Publifolha, que se firmou no mercado com obras de referência, como guias e dicionários, e agora pretende expandir o catálogo também nas áreas de ciências humanas e de literatura.

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