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02/12/2001 - 03h52

Time dos "topa-tudo" invade as TVs na busca da audiência

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MARCELO MIGLIACCIO
da Folha de S.Paulo

Na era do controle remoto, um segundo de monotonia pode custar a qualquer programa uma queda de audiência irrecuperável. E a avidez das emissoras por atrações que prendam a atenção do telespectador -mesmo que ele não mude de canal por estar chocado com o que vê- revelou a existência de um time capaz de desempenhar os mais impensáveis papéis na TV. É a turma que "topa-tudo", levando alegria e alívio a produtores desesperados.

Ridículo, arriscado, grotesco, invasivo, cafona... seja qual for a situação idealizada pelas cabeças pensantes da TV brasileira, existe sempre alguém disposto a encarar. Há dois domingos, por exemplo, a repórter do "Fantástico" Glória Maria, superou o medo e passou de um balão ao outro, a centenas de metros de altura, em mais uma de suas performances. "Não sei como aceitei esse desafio", disse ela, lívida, depois do feito.

Glória estava presa a cabos, mas risco mesmo correu o saxofonista Derico, aquele piadista bissexto para quem Jô Soares costuma fazer "escada" em seus programas. Ele entrou numa câmara hiperbárica (onde a pressão do oxigênio pode ser regulada), usada em clínicas de rejuvenescimento, e foi esquecido lá. "Fiquei morrendo de calor, quando se lembraram de me tirar, já tinha arrancado o paletó, a gravata e a camisa", conta.

Derico, que já vestiu lingeries eróticos, comeu carne de rato e até um buquê de flores, brinca que logo terá de mudar seu nome para "Demico ". "Estou com o Jô há 12 anos; ele foi pedindo e eu fui fazendo. Mas não estou lá só para pagar mico, sou músico, já lancei disco, livro e tenho um site que já chegou a ter 300 mil acessos num mês."

O apresentador Otávio Mesquita diz que a coisa mais esquisita que fez diante das câmeras foi invadir a sede da Rede Globo, no Rio. "Eu era da Rede TV! e, depois de ser barrado em três portarias, escalei o muro da Globo com corda e escada. Deu pico de 10 pontos no Ibope. Sou pago para ser entrão."

Adepto da teoria de que tudo o que é bacana e bem-feito em TV não dá audiência, Mesquita, no entanto, diz ter autocensura. "Eu nunca mostrei nu frontal nem discuti com ninguém no vídeo." E surpreende novamente ao revelar que não gosta que o filho veja televisão. "O povo não está acostumado às coisas boas, os diretores só colocam bunda."

Por falar nisso, a apresentadora do "Noite Afora" (Rede TV!), Monique Evans, também joga no eclético time dos desinibidos. Ela é capaz de levantar o short de um convidado para aferir seus atributos masculinos e não se acanha em entrar numa banheira minúscula com mais um casal. "Eu não faço nada que me constranja. Quando não me sinto bem num programa, vou embora no meio, como já fiz uma vez no Chacrinha e outra na Hebe", diz ela, lembrando ser evangélica e usando a fé como escudo contra as críticas.

Max Fivelinha, uma espécie de coringa da MTV, já apareceu vestido de noiva e fez compras caracterizado como dondoca. "Estou sempre disposto a fazer coisas que as pessoas acham ridículas, gosto de exercitar meu lado comediante, mas é preciso que tenha conteúdo, que valorize meu trabalho. Jamais faria uma pegadinha com alguém, por exemplo."

Seu colega de emissora, Marcos Mion, apresentador de um programa que ridiculariza clipes malfeitos, já imitou Roberto Carlos e apareceu nu na festa do Video Music Brasil, promovida pela emissora. Talvez para evitar mais um "mico", ele não respondeu às perguntas encaminhadas pelo TV Folha.

O DJ Zé Pedro, que trabalha com Adriane Galisteu no "É Show", da Record, é o que se pode chamar de um cara "cabeça feita ". Ele garante nunca ter repetido um de seus esdrúxulos adereços em dois anos de aparições na TV. "Minha imagem sempre foi espalhafatosa, nunca fui neutro, sempre usei roupas e óculos coloridos. Jamais apareceria de jeans e camiseta em cena."

Zé Pedro conta que seu adereço mais espalhafatoso nem sequer entrou em cena. "Era um grande aquário, cheio de água e com peixes falsos dentro, mas não deu para sair do camarim e tive que modificá-lo às pressas." Segundo ele, a TV é para poucos e bons. "Quem não tem carisma não fica."

E como "ficar na TV" parece ser um dos sonhos da vencedora do primeiro "No Limite", a cabeleireira Elaine Melo, além de investir num curso de teatro, tem aceitado as mais ingratas tarefas propostas por produtores. Uma das últimas foi encarar o touro-mecânico no programa "Superpop". "Não sou a única obesa do mundo, não vou deixar de viver por causa dos outros. Só não participo de quadros que possam magoar outras pessoas."
Nem tudo está perdido.

 

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