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20/02/2002 - 03h50

SBT cria versão "light" de "reality show"

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MARCELO RUBENS PAIVA
articulista da Folha

Todos criticaram a suposta ineficácia da Rede Globo, que, em vez de imitar o buraco da fechadura bem-sucedido de Silvio Santos, teimou em escalar um elenco sem estrelas e carisma para o "Big Brother Brasil", baseando-se em castings de "No Limite".

Já a "Casa dos Artistas 2" tem um elenco de bem famosos e conhecidos, que formou uma roda logo na primeira noite e fez um pacto de não-agressão. Parece um elenco do bem.

"Casa" com "artistas" carrega um contra-senso: personalidades não irão tão baixo na exibição de suas atividades e expressões privadas. Tiazinha não chamará a Feiticeira de "piranha" nem exibirá seu traseiro para as câmeras, como já aconteceu no "BBB".

Especialmente porque agora todos sabem que existe uma multidão (e contratos em branco) do outro lado do espelho repercutindo o que acontece entre as quatro paredes. "Casa 2" deve servir a quem, se quem vê quer o lixo?

Entende-se agora que a tal ineficácia da Globo era, na verdade, uma estratégia: sem famosos, o fogo no circo é mais devastador. "BBB" é mais sádico. No primeiro dia, colocou os participantes dentro de um carro sob o sol, em que não podiam dormir nem urinar. A Feiticeira se sujeitaria a isso?

Em "BBB", as eliminações são explícitas -eliminadores e eliminados convivem juntos ainda alguns dias-, já se disse "se essa cadela vier aqui, eu meto o pé", já se chamou uma participante de "biscateira" e "vagaba", e duas mocinhas pediram aos companheiros para derrubarem cera quente em seus corpos numa noite regada. E rola mais sexo.

A maior tensão em "Casa dos Artistas 1" foi quando Frota chamou Mari Alexandre de "pata". Na "Casa", rola mais romantismo, sutileza, culpa e saudades das conexões do mundo externo. O SBT faz um programa "fake", uma brincadeirinha, como a mulher-gorila de "freak shows", que parece que vai agredir a platéia, mas revela logo o truque. E Silvio já anunciou que não há regras preestabelecidas e que a produção as modifica ao seu bel-prazer.

Até o "start" do programa, no último domingo, indicou que é tudo apenas um show de não-calouros, molecagem que imprimiu uma derrota humilhante à ex-todo-poderosa Rede Globo, que pegou pesado: seus anônimos são capazes de coisas inimagináveis para "artistas" que têm treinamento, assessores que corrigem desvios e imagem pública a zelar.

O que indica que a Globo se inspirou no antigo SBT, aquele do "Aqui e Agora", enquanto o SBT, com ares de líder de audiência, reinventa a realidade e um gênero, "reality show", com inocentes mentirinhas.

O voyeur profissional, sádico, com desvios psíquicos, vai preferir o "BBB". Aqueles de estômagos mais sensíveis, que costumam assistir à TV com toda a família, devem ficar com a "Casa dos Artistas". A Globo demonstra que não é mais a mesma, e o SBT parece criar um padrão para continuar líder do horário. Uma emissora virou a outra.

Detalhe. Enquanto um indivíduo comum hoje tem acesso a um número infindável de informações, aqueles que estão no "Big Brother" e na "Casa" não têm idéia do que rola aqui fora.

Se estivessem lá no dia 11 de setembro passado, não saberiam dos atentados às torres em Nova York; as pessoas da primeira "Casa" não tinham idéia se o Brasil conseguira se classificar para a Copa do Mundo.
A alienação do mundo real é um dos atrativos desses "reality shows": ver gente que não vê o que rola na TV e não tem acesso a vídeo, jornal, internet, telefone, fax, celular, pager etc.



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