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15/03/2002 - 05h01

Estréia "Purificado", peça de Sarah Kane, que se suicidou em 99

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Três anos após a morte de Sarah Kane, que cometeu suicídio, o Brasil finalmente começa a aprofundar uma relação com a moça que deu novo alento à dramaturgia britânica a partir de meados dos anos 90.

Estréia hoje em São Paulo "Purificado" ("Cleansed", de 98), a terceira peça que ela escreveu. A montagem do grupo Tropel vem de curta temporada no Rio, iniciada no final de 2001.

Depois de citar trechos de "Phaedras's Love" (de 96), a segunda da dramaturga, em "fedra@hipolito.com" (também uma produção do ano passado), o grupo Tropel assina o primeiro espetáculo de Kane de que se tem notícia na América do Sul, dirigido e traduzido por Felipe Vidal.

Em agosto, a Três de Sangue Cia. de Teatro, que está em cartaz em São Paulo com "Traição", de Harold Pinter, monta "Crave" (de 98), a penúltima peça de Kane. Para fevereiro de 2003, a mesma companhia que já montou "Shopping and Fucking", do inglês Mark Ravenhill (amigo de Kane), deve levar ao palco o primeiro texto da autora, "Blasted".

Com legado de cinco peças, Kane causou impacto inversamente proporcional ao tamanho da obra.

O fenômeno é comparado ao que Edward Bond provocou na Inglaterra dos anos 60 e 70, com suas peças politicamente engajadas, como "Saved".

Bond, 70, que veio ao Brasil em outubro do ano passado para participar do seminário "O Teatro e a Cidade", organizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, é um dos "B" com os quais Kane se identificava dramaturgicamente. Ela também gostava do alemão Bertolt Brecht e do irlandês Samuel Beckett.

A estréia comercial de "Blasted", que havia sido encenada por estudantes, aconteceu em janeiro de 95, no Royal Court Upstairs, em Londres.

Em um quarto de hotel, um jornalista sensacionalista estupra uma jovem com problemas mentais. Ele é também violentado, por um soldado bósnio (por vingança) e tem os olhos arrancados.

Os pais de Sarah Kane eram jornalistas e ela escreveu sua primeira peça aos sete anos. Mas o que se explicita aí é a referência às atrocidades cometidas no Leste Europeu na época.

"Banquete de imundície" foi uma das rejeições expostas pela maioria dos críticos que questionou a qualidade da peça.

Logo no primeiro round, o dramaturgo inglês Harold Pinter, 71, saiu em defesa de Kane, então com 23 anos. Disse que os críticos estavam "aquém da profundidade do texto".

Pinter intuiu a beleza e crueldade dos diálogos secos, característicos da obra de Kane.

Em entrevista ao jornal inglês "The Guardian", em julho de 2000, Pinter declarou: "Ela tinha uma visão do mundo que era extremamente minuciosa, por isso, horripilante. Porque o mundo é um lugar terrível. Um lugar muito bonito, mas o gênero humano é um desastre absoluto. (...) Ela não estava simplesmente observando o ser humano, ela fazia parte disso. Parece-me que ela falava da violência dentro de si mesma, do ódio e da profundidade da miséria que também sofria".

Sarah Kane tinha depressão. Na madrugada de 20 de fevereiro de 99, enforcou-se no hospital King's College, em Londres, local em que estava internada por causa da doença. Tinha 28 anos. "4,48 Psychosis" (2000), sua última peça, é a história de um suicídio. Foi batizada assim porque os números correspondem à hora da manhã que ela acreditava ser o auge do sofrimento dos deprimidos e a preferida dos suicidas. Ela morreu nas primeiras horas daquele 20 de fevereiro.
 

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