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25/03/2002 - 12h06

Surpresas fazem história na entrega do Oscar

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ANA MARIA BAHIANA
de Los Angeles, para a BBC

Inspirada talvez pelo novo/velho local - uma comovente volta às origens que recolocou o Oscar a meio quarteirão do local onde nasceu, 74 anos atrás, o hotel Roosevelt e, ao mesmo tempo, um teatro estalando de novo, equipado com o ultimo grito em tecnologia -­, a Academia parece ter resolvido escrever uma página da sua história neste ano.

Numa só noite, o 74º Oscar conseguiu quebrar um tabu de três quartos de século, tornando Halle Berry a primeira atriz negra reconhecida com sua estatueta por seu trabalho como protagonista.

E, ao mesmo tempo, corrigir uma distorção que se arrastava desde a estatueta para Sidney Poitier, quatro décadas atrás - um Oscar de melhor ator para um negro.

E, o que é ainda mais interessante, conseguiu fazer esses dois gestos eminentemente políticos, ainda mais num ano em que o próprio Poitier era homenageado com um Oscar honorário sem trair a lógica pura que, em tese, rege o prêmio.

Surpresa

O desempenho de Halle Berry como a viúva de um condenado à morte que se envolve com o carcereiro responsável pela execução do marido, em "A Última Ceia", e de Denzel Washington explorando pela primeira vez seu lado sombrio, como um policial diabolicamente corrupto em "Dia de Treinamento", podem ser considerados os melhores da safra de indicados. Mesmo sem o peso da história.

Mas as estatuetas de Halle e Denzel não foram as únicas surpresas de domingo. Muito mais cedo, quando a noite do Oscar ainda era uma criança, o ótimo Jim Broadbent surpreendeu a todos, sobretudo a si mesmo, ­ ao vencer seu aparentemente imbatível conterrâneo Ian McKellen pela estatueta de melhor ator coadjuvante (e por seu desempenho num filme de dificil digestão e limitado alcance comercial, "Iris").

E, alguns instantes depois, Randy Newman teria o maior e mais doce susto de sua vida, ao finalmente ganhar um Oscar (pela canção "If I Didn't Have You", de "Monstros S.A."), após ter sido indicado 16 vezes sem sucesso, sempre nas categorias melhor trilha/melhor cancão.

Newman, adorado por seus colegas e filho de uma ilustre família de compositores, foi provavelmente o único vencedor a conseguir negociar com sucesso uma exceção na rígida regra que limita os discursos de agradecimento - Newman apelou diretamente aos músicos da orquestra, implorando que não começassem a tocar para interromper seu discurso.

E as surpresas históricas não pararam aí. Que tal o primeiro Oscar jamais conferido a um filme da Bósnia ("Terra de Ninguém")? E logo na primeira indicação que o país recebeu? E ainda por cima derrotando o absolutamente franco favorirto, o sucesso internacional "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (que,aliás, não consegiu converter em estatueta nenhuma de suas muitas outras indicações).

Isso sem falar na supresa de Julian Fellowes, com seu merecido Oscar pelo roteiro original de "Assassinato em Gosford Park", derrotando o favorito "Amnésia" que, 24 horas antes, havia levado três dos troféus Independent Spirit.

Escolhas tradicionais

Como pano de fundo para tantas revoluções por minuto, o Oscar 2002 ancorou-se em outras grandes escolhas seguramente tradicionais, como os quatro prêmios (técnicos, quase todos) para "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" (suspense para o ano que vem: conseguirá o segundo episódio fazer melhor?) e as outras quatro estatuetas (de primeira linha, todas) para "Uma Mente Brilhante", um melodrama hollywoodiano no mais velho estilo, em que pese a ardilosa manipulação do roteiro (premiado) de Akiva Goldsman. (Suspense para o ano que vem: será que Russel Crowe vai ser indicado mais uma vez? E vai conseguir implodir a própria candidatura, como fez neste ano?)

Enfim, uma novidade de cada vez. Pode parecer pouco num troféu tão fetichizado e com pesados 74 anos de existência, mas a verdade é que os Oscars estão melhorando.

A passo de cágado, mas estão melhorando. Talvez, num futuro não muito distante, eles consigam, afinal, acertar sua passada com a inquieta marcha da história,­ não a história produzida, das telas, mas a verdadeira, do mundo aqui fora.

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