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26/03/2002 - 04h47

Prêmios a Berry e Washington abafam a crise criativa

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INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha

Que o Oscar foi negro (ou afro-americano) não há como duvidar. Os prêmios de melhor ator e atriz dados a Denzel Washington e Halle Berry ofuscaram tudo o mais, inclusive os prêmios de melhor filme e direção, ganhos pelo pálido "Uma Mente Brilhante".

O fato é que atrizes e atores (sobretudo atores) negros vêm se destacando há décadas no cinema americano; o máximo que conseguiam eram indicações. O próprio Washington já ficou abanando as mãos várias vezes, mesmo com interpretações mais marcantes do que a desta vez.

Na verdade, os prêmios de domingo à noite, assim como a homenagem a Sidney Poitier (ator negro ganhador do Oscar em 1963), sedimentam uma política anti-racista desenvolvida há décadas pelos EUA. A data-chave dessa mudança, no entanto, é o 11 de setembro. A vitória de Washington e Berry expressa o ideal de uma América disposta a não mais discriminar seus cidadãos e a se unir diante do perigo representado pelos atentados terroristas.

De passagem, o prêmio a Denzel Washington faz justiça a um dos mais destacados atores de cinema dos últimos anos. E alguém que não tem medo de interpretar personagens polêmicos, para dizer o mínimo, como Malcolm X.

Com o prêmio a Halle Berry, a Academia resolve dois problemas de uma vez: consagra uma atriz negra e a promove de vez ao estrelato. Berry tem mesmo estofo de estrela e já provou ter talento. Inútil lembrar que é belíssima e sensualíssima -o que não faz mal a ninguém.

No mais, o patriotismo foi uma idéia recorrente na cerimônia, e a evocação de Nova York (a grande vítima simbólica do 11 de setembro), apresentada por Woody Allen, evidencia que a data reverbera profundamente nos corações e mentes norte-americanos.

Isso fica bem acima de eventuais divergências políticas com Washington, e a comunidade hollywoodiana não fez nada para ocultá-las. Tanto que um dos homenageados da noite foi o liberal Robert Redford.

Quase tão revolucionária quanto a vitória dos atores negros foram as transformações na festa.

Da apresentação das canções (mais discreta, sem cantoras aos berros e coreografias cafonas) aos textos de explicação das categorias (mais soltos e bem-humorados, chegando a serem mesmo pesadamente irônicos em certos momentos, como quando se apresentava o prêmio de maquiagem), percebia-se o empenho em apagar a imagem de mau gosto que consagrou as festas do Oscar.

Também os clipes inseridos ao longo da cerimônia trocaram o ritmo televisivo (frenético, com ar de MTV) por outro, cinematográfico, deixando ao espectador tempo de fruir as imagens.

Esses aspectos compensaram fartamente o que se esperava que fosse uma das mais chochas edições do Oscar, desde que "Asas" levou o prêmio de filme, em 1928/29, e colocaram em surdina a crise criativa por que passa o cinema americano desde pelo menos meados da década passada.


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