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09/04/2002 - 12h54

Alessandra, a Leka do "Big Brother", vai investir na carreira de atriz

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ADRIANA RESENDE
da Folha Online

A empresária paulista Alessandra Begliomini, 27, a Leka do "Big Brother Brasil", da Globo, protagonizou momentos marcantes no programa, que terminou na terça-feira passada. Ela, que já fez uma ponta na novela "O Rei do Gado" e participou de uma minissérie na Record, quer investir na carreira de atriz.

Um teste realizado durante o "Domingão do Faustão", sob supervisão do diretor Mauro Farias, foi a porta de entrada de Leka na Globo. Para ela, que ficou na atração até uma semana antes do seu fim, a participação foi uma oportunidade para se conhecer melhor.

Por sua atuação no "Big Brother", chegou a ser chamada de "Leka, a rainha louca", quando foi líder, e até mesmo a se identificar com a personagem "Nega Maluca", como disse no programa ao se fantasiar para uma festa.

Em um dos raros momentos de folga, entre entrevistas, bate-papos com internautas e compromissos na Globo, Leka falou à Folha Online. Confira trechos da entrevista.

Folha Online - O que você tirou de experiência do "Big Brother"?

Alessandra Begliomini -
Eu fiquei lá 58 dias. Isso me ajuda muito, acho que foi uma experiência extremamente importante pra mim.

No sentido de poder se ver mesmo. Acho que as pessoas não conseguem [ver sua própria personalidade]. Eu, mais do que ninguém... porque eu tenho milhões de problemas... Eu já tive bulimia e tudo, e o fato de poder sair, se ver, observar seu comportamento diante das coisas... Lá dentro a gente tem reações que nem a gente mesmo espera.

Folha Online - Que tipo de reações inesperadas você tinha?

Leka -
Olha, eu acho que lá eu passei por todo tipo de comportamento. Teve momentos de tristeza, momentos bons e momentos ruins. Para ter uma idéia, teve um momento em que eu achei que nunca mais ia amanhecer.

Folha Online - Como assim?

Leka -
(risos) Um dia, era noite, a gente não tinha noção de horário, né? Então a gente olhava pro céu e estava tudo escuro, a casa inteira foi dormir. Mas não sei... acho que era muito cedo. E eu durmo duas, três horas por noite, normalmente. Lá na casa eu estava dormindo até mais do que eu durmo... eu durmo muito pouco.

Folha Online - E por que você dorme pouco?

Divulgação
Alessandra, a Leka de "BBB"
Leka -
Porque eu me acostumei. Eu sempre trabalhei com eventos e era sempre assim: de dia eu tinha trabalho e à noite eu também tinha trabalho. Então eu costumava dormir muito tarde e acordar muito cedo. Chega uma hora que o corpo se acostuma.

Daí, naquela noite, eu acordei depois de umas três horas mais ou menos e vi que ainda era noite. Muito de noite. Aí eu falei "gente, não vai amanhecer". Daí voltei pra cama, saí de novo, vi que ainda estava de noite. Fiz esse processo umas três vezes. Na terceira vez, ainda estava de noite e eu tive certeza de que não ia mais amanhecer e acordei a casa inteira chorando, desesperada. A casa inteira não, mas algumas pessoas. E eu falava que não ia mais amanhecer e depois de um tempo algumas pessoas entraram na mesma paranóia que eu, começaram a chorar, malucas.

Folha Online - Isso foi no começo do programa?

Leka -
Não, já tinha umas seis pessoas na casa. Teve uma hora que eu achei que era truque da produção, que eles tinham colocado algum efeito para ver o céu sempre escuro, para deixar a gente nervoso. Quer dizer, é uma loucura isso, mas o ponto onde a gente chega é de desinformação total.

Imaginei que eles [produção] tivessem feito algum truque de luz para a gente pensar que estava escuro...não sei nem o que eu pensei, coisa de gente louca mesmo. A casa, ela é toda fechada por muros muito altos onde são pintados vales, montanhas... tem lados onde você não enxerga a saída. Nos outros dois lados, onde você vê alguma coisa de fora, tem morros muito altos e árvores. Até mesmo a visão do céu é muito pequena, só vê o céu em cima da casa, como se fosse uma caixa.

Folha Online - E em relação à sua bulimia? Piorou porque você estava lá na casa?

Leka -
A pressão é muito grande. Só quem vive lá dentro mesmo pode ter idéia. E te leva a fazer coisas... coisas que eu, Leka, nunca faria. Como isso de chorar porque achei que nunca mais fosse amanhecer. Imagina, isso não existe. Mas lá dentro você perde a linha do racional mesmo. Tem momentos que eu tive de chamar o Py [Luiz Alberto Py, psicanalista], porque achei que estava beirando a loucura. Tem momentos de tensão muito fortes, e junta a solidão e o confinamento. A gente "meio" tem uns surtos.

Folha Online - Você chamou muitas vezes o psicanalista?

Leka -
Várias... (risos)

Folha Online - E quando você não pedia ajuda a ele, em quem você confiava?

Leka -
Confiei em quase todo mundo lá dentro. Confiei e desconfiei também, depois. Não é uma questão de confiança, mas de questionamentos. Às vezes, tem pessoas em quem a gente confia e às vezes surge uma questão. Você começa a pensar se essa pessoa tá certa ou não, sabe? As pessoas que eram mais próximas eram a Cris, a Estela, o Didi, o André, a Vanessa... desses eu fiquei mais próxima.

Folha Online - Como foi aquela situação em que você levou a Cristiana e a Estela para o "paredão"?

Leka -
Pois é... eu e a Cris... a gente já estava levantando uma suspeita do comportamento da Estela. Eu era líder. Como eu achei que a Estela já tinha feito coisas muito legais, eu fui me aconselhar com o Didi. Eu tinha muito medo de errar e, de repente, se ela estivesse sendo bacana, eu poderia estar julgando a pessoa mal.

Eu nem lembro, para falar a verdade. Algumas coisas... teve um dia que eu estava muito triste e ela não deixou ninguém falar comigo. Teve outro dia que a Cris estava triste e ela também fez isso. Ela era boa demais para ser verdade. Lá dentro, até o que é bom demais a gente desconfia. E a gente começou a conversar. Fui falar com o Didi por medo. Porque eu achei que ele era racional e imparcial. Mas ele estava totalmente do lado da Estela e não gostava da Cris.

Folha Online - Então ele manipulou a situação?

Leka -
Não acho que ele seja manipulador, mas de uma maneira ou de outra, numa situação como aquela, acabou influenciando. Eu me deixei levar pela situação e pela vontade de todo mundo da casa. E todo mundo manifestou uma certa insatisfação com a Cris. E eu achei que, como líder, não podia deixar "Leka, coração" pensar. Meu papel era representar a casa e eu decidi votar. Até porque, se eu não votasse, a casa toda disse que votaria. E, por coincidência, no dia seguinte, tive de decidir entre Estela e Kléber e achei que o justo era votar na Estela, que fazia parte daquela questão. E eu queria uma resposta de fora, que o público decidisse.

Folha Online - Você acredita que, se o público votou nela, é porque a Cristiana tinha culpa?

Leka -
No começo eu pensei que sim, mas depois eu vi que não, porque a gente não sabe o que as pessoas estão vendo daqui. O que eu acho é que a Cris é muito impetuosa, como eu. A gente fala as coisas e briga quando precisa. E talvez, por causa desse jeito dela, as pessoas tenham dado o voto para ela sair da casa. Mas não acho que ela agiu mal ou que estava errada. A Cris virou minha amiga e era uma das pessoas mais autênticas dentro da casa.

Folha Online - E o Kléber? Você não optou por votar nele naquela época. Mas você achou justa a vitória dele. Ele é mesmo "ingênuo"?

Leka -
Naquele momento eu não tinha motivo para votar nele. E com relação à Estela eu estava muito confusa e fui buscar esclarecimento, porque quem está vendo tudo é o público. E se eu votasse nele, não ia resolver nada.

Folha Online - Mas ele foi quatro vezes para a votação e acabou vencendo o programa. Você acha que os quatro "paredões" significam que ele era questionado demais e por isso não mereceria o prêmio?

Leka -
Não. Lá dentro a gente tem uma visão muito diferente das coisas, não dá para afirmar isso. Por exemplo: o André era um cara superpopular. Entre André e Vanessa, eu achava que o André fosse ganhar, que tivesse dez vezes mais popularidade. No entanto, ele saiu antes da Vanessa... ficou em terceiro.

Folha Online - O Kléber pode ter vencido porque o público quis dar o carinho que ele pedia e que vocês não entenderam, como você mesma disse num depoimento?

Leka -
Isso que eu falei foi absolutamente sincero, eu fiquei muito mal quando vi o choro dele por causa da boneca. Foi nesse dia que eu percebi que a gente talvez não estivesse dando a atenção que ele precisava. Lá dentro todo mundo é carente, uns mais, outros menos. O Kléber se mostrava muito forte, mas foi aí que eu vi que ele não estava tão forte. Lá dentro eu não tive essa sensibilidade porque eu também precisava de carinho. Você se cega até por egoísmo, às vezes. Mas eu acho que o público não votou nele por carinho. Ele tem um carisma muito grande. A simplicidade dele conquistou o público. Todo vencedor é merecedor do seu prêmio.

Folha Online - Vocês ficavam chateados quando ele mentia, dizendo que era rico e depois que era pobre?

Leka -
No começo, gerou um mal-estar dentro da casa. Ele não foi vítima das pessoas. E não falo só por mim. O comportamento dele, no começo, levou várias pessoas a terem dúvidas em relação a ele. Isso pode não estar certo, mas lá dentro é natural. Qualquer deslize faz a gente desconfiar, um deslize é muito. Isso deve ter pesado até o último dia para ele ir ao "paredão".

Folha Online - Você se sentia presa dentro do programa?

Leka -
Eu me senti... eu senti que eu estava presa nesta semana, quando eu voltei lá para fazer o programa da Ana Maria [o "Mais Você" de quarta-feira foi transmitido de dentro da casa]. Eu tive uma visão dos bastidores, vi como é por trás da casa e eu me senti muito mal de ter ficado lá dois meses. Enquanto eu estive lá não tinha essa idéia.

Folha Online - Então você sentia liberdade?

Leka -
Eu não sei explicar, mas bem ou mal, sabia que a qualquer momento, se me desse a "louca", eu pegava minha mala e ia embora, eu tinha essa chance. Eu acho que isso me confortava, por um lado. Mas eu não tinha idéia... aquele negócio... sempre um trilho atrás de você, que eu até chamava de trem-fantasma... aqueles trilhos me deram uma sensação de estar num "aquário". Parecia que eu estava vendo um filme de ficção científica quando eu vi o lado de trás.

Folha Online - As câmeras incomodavam ou você nem sentia que estava sendo filmada?

Leka -
Você sabe que está sendo filmada. Conscientemente, você sabe. Mas lá dentro você não tem a dimensão da coisa, você não sabe até que ponto vai essa filmagem. E depois de um tempo (e eu fiquei muito tempo lá dentro, praticamente até acabar o programa), não é que você não se incomode, mas você incorpora na sua vida. Faz parte... (risos)

Folha Online - Quando foi que você se sentiu "no mundo" de novo?

Leka -
Eu estou me sentindo no mundo, mas num mundo muito diferente do que eu deixei... não me acostumei ainda. Quando você sai, cada notícia que te dão é uma surpresa. O choque é muito grande, você não está preparado. Eu entrei e deixei um monte de coisa para trás e, quando eu saí, todas as coisas mudaram. De repente eu saio e tudo está diferente.

Folha Online - De tudo que você ficou sabendo que saiu na imprensa, da repercussão, o que mais assusta?

Leka -
Tudo foi muito bom. O carinho que você recebe do público, nas ruas, pedindo autógrafo, te parando na rua e dizendo "gostei de você" é indescritível, porque é um carinho gratuito. As pessoas não me conhecem, e se gostam de mim, é com sinceridade. É muito bom isso. Agora assustar... tudo assusta. E acho que o que mais me assustou foi ver "a dimensão" da coisa, ter idéia de que realmente todo mundo me via.

Folha Online - Do que ou de quem você mais sentia falta: da família, dos amigos, ou de algum namorado que deixou aqui fora?

Leka -
Não, eu não estava namorando. Família e amigos, sem dúvida. De todas as pessoas que eu amo eu sentia falta.

Folha Online - Você tem um contrato de seis meses com a Globo. Se convidarem você para fazer uma novela, você aceita?

Leka -
Com certeza, se eles me chamarem, vou sim. "Amarradona". (risos)

Folha Online - E você se sente preparada para isso, se sente uma atriz pronta?

Leka -
Na verdade, eu estudei muito, mas faz alguns anos que não faço nada nessa área. Alguns anos, não. Acho que faz um ano.

Folha Online - Você já atuou em teatro?

Leka -
Fiz várias peças, trabalhei bastante tempo com teatro. Principalmente em Nova York, onde eu morei. Mas mesmo em São Paulo eu fiz várias peças como profissional. Na televisão, eu fiz cursos e uma participação pequena em "O Rei do Gado", alguns anos atrás, e numa minissérie na TV Record. Mas não fiz mais nada além disso.

Em "O Rei do Gado" foi só figuração mesmo. O teste [no "Domingão do Faustão"] foi todo ao vivo, as pessoas que viram gostaram. Foi o melhor que pude fazer, porque tinha quatro dias que eu tinha saído da casa. Era uma tensão muito grande porque eu pensei "é a chance da minha vida, vou agarrar com unhas e dentes".

Folha Online - A sua experiência no teatro deve ajudar...

Leka -
Sim, com certeza. O teatro é base pra tudo, né? Eu estou muito bem formada. Mas também, com os atores e diretores da Globo fica fácil. Fiz uma cena para o Faustão em um dia e foi supertranquilo. Mas a prática é que faz a gente aprender.

Folha Online - O que você para o seu futuro, quais são os planos?

Leka -
Minha carreira de atriz. Eu tenho um assessor, estou procurando uma pessoa para me empresariar. Pretendo estudar a vida inteira para isso.

Folha Online - Você disse que foi a chance da sua vida. Também revelou que sempre foi insegura. Foi essa insegurança que levou à bulimia e a esconder isso?

Leka -
Na verdade, a bulimia foi assim: eu tive uma crise nove anos atrás. Era uma coisa totalmente superada, nunca mais tive problemas. Eu fiz um tratamento e passou.

Folha Online - Seus pais sabiam do problema de saúde?

Leka -
Não, eles não sabiam, ficaram sabendo pela TV e ficaram preocupadíssimos.

Folha Online - E como você fez tratamento escondido?

Leka -
Na época eu já fazia terapia, o tratamento na verdade era a terapia. Era uma fase muito difícil. Tive um namorado que morreu com câncer e tive de lidar com o tratamento e depois com a morte dele. Tinha uns 18 anos. Esse foi um dos motivos que desencadearam a doença em si, porque eu já tinha os aspectos psicológicos da bulimia. Foi a minha psicóloga que me disse: como meu corpo era tão importante, eu era vaidosa. Aí tinha a neura, me achava feia, e ela me disse que foi uma forma que eu encontrei de me punir depois da morte dele. Depois não tive mais nada, nunca mais. Só essa neura, essa coisa psicológica que não era só por isso, tenho desde muito nova, sempre tive. Isso aflorou lá dentro.

Folha Online - Você avalia que está melhor?

Leka -
Nossa, não tive mais problemas com isso depois que eu saí da casa. Lógico, eu faço terapia. Mas o carinho que eu recebo é uma grande terapia, que é o carinho do público.

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