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12/04/2002 - 16h29

3º lugar no "Big Brother", André questiona popularidade de Kléber

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da Folha Online

O cantor André Gabeh, 27, terceiro lugar no "reality show" "Big Brother Brasil", da Globo, ainda questiona a popularidade do vencedor do programa, o dançarino de axé Kléber de Paula, e não concorda que ele tenha sido eleito "a cara do Brasil".

"Eu tive oportunidade de estudar, de sair do Brasil a trabalho, mas a minha vida sempre foi humildade, de sacrifício e de trabalho. Eu acho que isso é a cara do Brasil. Então não entendo o que foi essa cara do Brasil que viram. Acho que o Brasil tem várias caras", disse, em entrevista à Folha Online.

André disse que entrou no programa inscrito por amigos seus, sem saber, e que se surpreendeu ao ganhar um contrato com a gravadora Som Livre. Ele, que agora não consegue andar tranquilamente pelas ruas devido à fama adquirida com o programa, só pensa em trabalho.

Leia trechos da entrevista:

Folha Online - Como foi a experiência de participar do "Big Brother Brasil"?

André Gabeh -
Foi uma grande experiência porque, dentre várias pessoas inscritas, 12 foram escolhidas e eu estava entre elas. Teve muita coisa ruim: aprisionamento, a sensação de você não saber o que estava acontecendo, o convívio com pessoas com idéias diferentes de você, agressões e jogação de conversa fora, mas teve também carinho, muita brincadeira e a sensação de estar vivendo coisas que poucas pessoas no mundo vão poder passar. Nós fomos os primeiros aqui do Brasil. Houve festas maravilhosas, ficar num local seguro durante dois meses e conhecer gente muito interessante. O fato positivo é ter uma experiência que poucas pessoas no mundo passaram. Aqui no Brasil ninguém mais vai fazer parte do primeiro "Big Brother" brasileiro. Nós somos pioneiros neste esquema de "reality show" com pessoas desconhecidas aqui no Brasil.

Folha Online - Você foi convidado para fazer parte da equipe do "BBB" ou se inscreveu?

André -
Alguns amigos me inscreveram por achar que eu tinha um perfil interessante para um programa desses. Acabou que eu fui selecionado e nem sabia que tinha sido inscrito.

Folha Online - Mas os seus amigos não lhe avisaram?

André -
Não, não tinham me avisado. Meus amigos me inscrevem para qualquer coisa e eu só sei quando sou chamado.

Me ligaram avisando. Pensei até que fosse brincadeira, mas a moça me deu um telefone para eu entrar em contato com ela e vi que era uma coisa séria. Liguei para lá, falei com ela e começaram os testes de vídeo e as entrevistas para saber se eu realmente me encaixava no perfil do programa.

Folha Online - E qual é esse perfil?

André -
Acho que é colocar pessoas de diferentes modos de vida, de diferentes pensamentos e histórias para conviver numa casa e ver o que acontece a partir daí.

Folha Online - O que foi mais difícil para você em dois meses de programa?

André -
O mais difícil para mim foi não saber o que estava acontecendo aqui fora... família, se tem alguém tomando conta da minha conta bancária e se a saúde das pessoas está bem.

Folha Online - Mas qual é a parte mais complicada no que se refere ao contato entre pessoas desconhecidas?

André -
O pior lá dentro é você saber que as pessoas, o tempo inteiro, não têm uma idéia correta do que você é porque a gente está se conhecendo sob pressão. Não é a mesma coisa que se conhecer na realidade, quando você seleciona naturalmente aqueles que quer ter perto de você ou não. Lá, você é obrigado a conviver com pessoas e, às vezes, elas te julgam de uma maneira errada e você também. Isso aconteceu durante a casa inteira com todo mundo.

Folha Online - Como você interpretou os comentários que o Adriano fez sobre você no final do programa?

André -
Eu acho que ele estava estressado e não me conhece. Devia estar num momento de estresse, não tinha o que falar sobre mim e falou isso.

Folha Online - Você tem intenção de conhecer melhor e de outra maneira as pessoas que participaram do programa?

André -
As pessoas que temos que fazer amizade a gente vai fazendo aos pouquinhos, como é na vida mesmo, naturalmente. Agora estou muito ocupado, fazendo um monte de coisa e ainda tenho que dar atenção para os meus amigos antigos e para a minha família. Além de tudo, estou trabalhando muito e tenho que fazer esse trabalho de manutenção com as pessoas com quem eu mais me identifiquei.

Folha Online - E quem foram os "bigbrothers" com quem você mais se identificou?

André -
Cris, Leka, Estela, Serginho, Vanessa e Helena. Os outros eu só não me identifiquei muito e não me aproximei tanto.

Folha Online - Na sua opinião, quem era insuportável ou muito difícil de conviver?

André -
Naquela casa, durante várias vezes, muitas pessoas me irritaram. Essas que eu falei não me irritaram nenhuma vez.

Folha Online - Quanto ao personagem Marcelo Márcio, foi uma transformação pensada, progressiva ou repentina? Como surgiu?

André -
Eu não tinha mais nada para fazer naquela casa. Eu estava cansado. Ninguém me botava no paredão, então eu vi que não ia sair por votação pública. Ia sair porque tinha que sair mesmo um dia. Então eu falei: "gente, o que mais eu vou fazer? Não tenho mais nada para falar... Vou botar essa peruca na cabeça e eu mesmo vou olhar para minha cara e vou rir".

Folha Online - Mas você tirou a sobrancelha...

André -
O lance de arrancar a sobrancelha... Eu trabalho com público há muito tempo, trabalho com arte há muito tempo. De vez em quando, eu olho para a minha cara e quero mudar alguma coisa. Eu não tenho cabelo grande, sou quase careca, então não posso fazer cortes de cabelo diferentes. De vez em quando pinto o cabelo, a sobrancelha, boto barba, tiro barba. Desta vez eu tirei a sobrancelha.

Folha Online - Foi a primeira vez que você raspou a sobrancelha?

André -
Foi a primeira vez que eu tirei, mas já pintei de branco, de rosa, de azul e de verde.

Folha Online - E a escolha do nome teve algum motivo especial?

André -
Marcelo Márcio? Não tem motivo. Tenho um amigo querido chamado Márcio, que é um cantor. E Marcelo não tem. Acho que Marcelo... Márcio... para ficar uma coisa "mar" com "mar". Não sei, não tenho a menor idéia para dizer a verdade. Pela brincadeira e pelo divertimento.

Folha Online - Você sempre trabalhou com música?

André -
Sempre cantei e dei aula de canto. Estou trabalhando com música há uns oito anos. Eu estava cantando com uma banda de música dos anos 60 e 70, aos finais semanas, e dava aula durante a semana inteira. O nome da banda é "Libido".

Folha Online - Como está a sua rotina depois de ter saído da casa?

André -
Estou tentando descansar, estou compondo músicas e voltando para o meu centro.

Folha Online - Você imagina que sairia do "Big Brother" com um contrato assinado com um gravadora como a Som Livre?

André -
Não esperava, não. O que eu esperava era que eu conseguisse trabalhar menos e ganhar um pouco mais de dinheiro saindo da casa. Eu não sabia que eu ia ter um contrato com a gravadora. Para mim foi uma surpresa maravilhosa.

Folha Online - Você já começou a definir o repertório do disco?

André -
Estamos definindo o repertório. A gente está agindo de maneira que tudo seja bom para mim e para eles. Eles querem um disco rápido e eu também, mas estou num momento ocupado, fazendo muita coisa.

Folha Online - Que tipo de música o público pode esperar?

André -
Vou gravar composições minhas e regravar outras coisas dentro do meu estilo. Eu faço os arranjos junto dos músicos que trabalham comigo e com o Alexandre Vaz, que é o meu diretor artístico. Vou fazer um trabalho que tenha a minha linguagem.

Folha Online - Mas qual é o seu estilo musical?

André -
É música brasileira, bonita, feliz e que fale da minha alma. Eu chamo de MBE (Música Brasileira Estranha). É que, na verdade, é uma música brasileira com várias influências. Não é nada agressivo, nada que você não consiga ouvir, mas é estranho porque, de repente, eu falo de sentimentos que não são os mais óbvios.

Folha Online - Você quer dizer que não fala de amor?

André -
Não é só amor, não é só florzinha na janela. Eu falo de medo, de angústia, de vontade de rir, de deboche... tem várias coisas.

Folha Online - Em que ponto está a produção do disco?

André -
Eles estão querendo ouvir o repertório. Estou mandando músicas para eles ouvirem. Eu já tinha algumas coisas preparadas e algumas coisas que eu tive que finalizar porque fiquei dois meses naquela casa sem entrar em contato com a minha música. Agora que eu estou voltando com os pés no chão.

Folha Online - Em alguns momentos do programa, a sua sexualidade foi explorada. Isso o incomodou?

André -
Me incomoda porque eu não entrei naquela casa com a minha sexualidade como marketing ou como uma forma de estar lá. Eu sou um cantor. A minha sexualidade é uma coisa muito particular e que não tem a ver com a minha exposição. Qualquer coisa relativa à minha sexualidade é um preconceito porque em nenhum momento eu me expus como uma personalidade sexual na casa. Na época de seleção, nunca foi colocada a situação da minha sexualidade porque é uma coisa particular. A definição das pessoas é errada.

Folha Online - Qual é a definição das pessoas?

André -
Eu acho que a definição da minha sexualidade é assim... eu sou uma pessoa que na verdade... eu sou um cantor. A minha sexualidade está relacionada à minha realidade como pessoa. Então as pessoas que vão me ver como cantor, vão ver a minha arte, a minha maneira de se expressar. Acho que a minha sexualidade não é interessante.

Folha Online - Você ficou irritado quando o Adriano questionou sua orientação sexual?

André -
Eu não tenho problema quando me perguntam nada porque supõe que eu possa responder. O problema todo é quando as pessoas já te dizem alguma coisa... você é isso. Porque quando me perguntam eu posso dizer: "eu sou isso". Agora quando não me perguntam, e me conceituam, eu me sinto agredido. Não me deram uma oportunidade de eu poder dizer diferente.

Folha Online - Isso acaba gerando antipatia, não é?

André -
Cria porque as pessoas querem que você confirme aquilo que elas dizem, se não você está sendo diferente ou falso. Isso me incomoda. Eu não tenho problema de falar sobre assunto nenhum, mas eu não sou uma personalidade sexual, eu não vivo disso e eu não me expus naquela casa por isso. Então não entendo porque a minha sexualidade é questionada, analisada e explorada. Eu sou o André Gabeh. Cantor.

Folha Online - Você imaginou que o Kléber seria o vencedor?

André -
A partir do momento que ele venceu várias vezes o paredão... e aquela história de ele ter chorado pela boneca... Eu sabia que as pessoas iam se comover porque o povo brasileiro é um povo sensível. Já era óbvio para a gente que ele ia ganhar. Eu estava tranquilo quanto a isso. Não tive nenhum momento de tristeza por perder do Kléber.

Folha Online - No reencontro do último domingo, feito para que vocês "lavassem roupa suja", você questionou o posicionamento de parte da imprensa. Você discorda da idéia de que o Kléber seja a cara do Brasil, não é?

André -
Discordo plenamente porque acho que o Brasil é um país de várias raças, de várias culturas, misturas e de pessoas que têm várias histórias. Então eu acho que eu sou também a cara do Brasil. E muitas outras pessoas ali naquela casa eram. Falaram que ele era a cara do Brasil porque ele era humilde. Eu acho que o conceito de humildade não ficou claro para mim. Eu queria saber quando, por exemplo, eu não fui humilde. Eu tive oportunidade de estudar, de sair do Brasil a trabalho, mas a minha vida sempre foi humildade, de sacrifício e de trabalho. Eu acho que isso é a cara do Brasil. Então não entendo o que foi essa cara do Brasil que viram. Acho que o Brasil tem várias caras, por ser um país tão grande, de tantas culturas e de tantos sotaques. Definir uma cara só para o Brasil... acho errado. O critério para ele ter ganho pode ter sido outro e acho até justo. Acho que a cara do Brasil... muita gente ali tinha também.

Folha Online - Por que você acredita que o Kléber ganhou o "BBB"? Qual pode ter sido o critério de escolha do público?

André -
Acho que ele se mostrou uma pessoa resistente ao paredão. Acho que ele tem carisma e que comoveu as pessoas.

Folha Online - De onde vem a inspiração para compor os personagens que você mostrou no "Big Brother"?

André -
Essas pessoas são pessoas que eu vi na minha infância, pessoas que todo mundo via lá no subúrbio. São personagens que existem mesmo. Na minha infância ninguém desconhece a "Creiziane" e a "Clotilde". Isso é muito normal na vida da gente. São personagens de subúrbio.

Folha Online - Você tem conseguido circular normalmente pelo Rio? Tem sido muito assediado?

André -
Por enquanto ainda está complicado porque as pessoas assediam muito rapidamente. Eu tenho que dar atenção para as pessoas... acho que é a minha obrigação, mas, às vezes, também tenho, por exemplo, que sair dali para estar num horário "xis" em compromisso de trabalho. Para evitar que eu me atrase no trabalho e desagrade o público, tenho que sair de casa num horário em que a rua tenha menos movimento. Mas está gostoso e muito divertido.

Folha Online - Você esperava se tornar uma celebridade depois do programa?

André -
Celebridade é uma coisa muito forte...

Folha Online - Uma pessoa famosa, então?

André -
Eu sou famoso, conhecido... agora celebridade. Eu achei que um programa da Globo, que tem sempre audiências altas, ainda mais um programa que é uma novidade... Eu sabia que ia nos expor de maneira muito grande. Sabia que não ia sair desconhecido. Só não sabia como ia ser isso aqui fora. Isso é uma realidade que eu nunca participei.

Folha Online - A fama tem o impedido de fazer alguma coisa?

André -
Não está me atrapalhando em nada. Mesmo porque agora eu estou num momento... Eu gosto muito de andar na rua, mas agora, com essa coisa de seleção de trabalho, de disco e de repertório, eu tenho que ficar em casa para criar e ouvir música. Na verdade, está até me ajudando.
 

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