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04/05/2002
-
21h08
da Folha Online
Hoje, durante encontro realizado no salão da Travessa Literária, na Bienal do Livro de São Paulo, o paulistano Ferréz e o carioca Francisco Maciel, se reuniram para falar sobre literatura contemporânea e marginal e acabaram fazendo uma radiografia, para o púclico que participou do bate-papo, do lugar de onde vieram: Capão Redondo (extremo da zona sul de São Paulo) e São Gonçalo, periferia do Rio de Janeiro.
Autor de "Capão Pecado" (Labortexto Editorial, 2000), um dos relatos (talvez o único) mais contundentes sobre Capão Redondo, bairro famoso pelo alto índice de violência, Ferréz fez revelações que causaram surpresa no público.
"Eu não tenho culpa de ver o pessoal da minha área lendo "Harry Potter" e meu livro ser estudado pela elite. O sistema é burro", disse Ferréz, destacando a falta de bibliotecas em bairros da periferia.
Sobre o sucesso que seu relato sobre "Capão Redondo" entre o público "da elite", o escritor comentou: "A elite tem comprado porque é mais um que ela compra, e a periferia não compra porque ela não compra livros mesmo".
Sempre se referindo às instituições, principalmente ao Estado, como "o sistema", Ferréz disse que o movimento de literatura marginal e o hip hop são formas de responder à opressão do sistema. "Estamos mostrando o outro lado da guerra", disse. E ensinou. "O importante é dar o contato com o livro. As crianças tem que tropeçar em livro".
Foi tentando fazer isso no Capão Redondo que Ferréz descobriu que o livro preferido entre os moradores do bairro que frequentam a biblioteca improvisada na garagem de sua casa é "O Grande Mentecapto", de Fernando Sabino.
Foi citando exemplos desse tipo que o escritor relatou que, ao ser convidado para comentar o trabalho do secretário de Cultura do município, Marco Aurélio Mendonça, ele respondeu fazendo uma pergunta: "Secretário de Cultura existe?".
Ferréz destacou que a iniciativa da própria população para transformar a realidade em que vive deve ser louvada e falou da dificuldade que seu trabalho com literatura vem enfrentando. "É difícil trabalhar a cultura onde tem o caos", disse.
Já o escritor Francisco Maciel, autor de "O Primeiro Dia do Ano da Peste", falou da diferença entre a relação "elite-periferia" no Rio de Janeiro com relação ao que acontece em São Paulo. "O Rio é obrigado a viver com a diferença. Lá há um movimento natural de aproximação", disse, referindo-se à proximidade das favelas com bairros onde vive a população com maior poder aquisitivo.
Sobre a idéia de que o Rio é a cidade mais violenta do país, Maciel devolveu. "Todo paraíso é perdido, toda cidade é maldita. Lá no Rio a gente também acha São Paulo inabitável", disse.
Os dois escritores terminaram o bate-papo dando um recado em forma de questionamento: "Quem é refém de quem?", perguntou Ferréz. Maciel ensaiou a resposta: "Todo mundo é carcereiro. Está todo mundo cercado".
A Bienal do Livro de São Paulo vai até amanhã, dia 5, e está sendo realizada no Centro de Exposições Imigrantes.
Saiba tudo sobre a Bienal do Livro
"Secretário de Cultura existe?", pergunta autor na Bienal do Livro
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Hoje, durante encontro realizado no salão da Travessa Literária, na Bienal do Livro de São Paulo, o paulistano Ferréz e o carioca Francisco Maciel, se reuniram para falar sobre literatura contemporânea e marginal e acabaram fazendo uma radiografia, para o púclico que participou do bate-papo, do lugar de onde vieram: Capão Redondo (extremo da zona sul de São Paulo) e São Gonçalo, periferia do Rio de Janeiro.
Autor de "Capão Pecado" (Labortexto Editorial, 2000), um dos relatos (talvez o único) mais contundentes sobre Capão Redondo, bairro famoso pelo alto índice de violência, Ferréz fez revelações que causaram surpresa no público.
"Eu não tenho culpa de ver o pessoal da minha área lendo "Harry Potter" e meu livro ser estudado pela elite. O sistema é burro", disse Ferréz, destacando a falta de bibliotecas em bairros da periferia.
Sobre o sucesso que seu relato sobre "Capão Redondo" entre o público "da elite", o escritor comentou: "A elite tem comprado porque é mais um que ela compra, e a periferia não compra porque ela não compra livros mesmo".
Sempre se referindo às instituições, principalmente ao Estado, como "o sistema", Ferréz disse que o movimento de literatura marginal e o hip hop são formas de responder à opressão do sistema. "Estamos mostrando o outro lado da guerra", disse. E ensinou. "O importante é dar o contato com o livro. As crianças tem que tropeçar em livro".
Foi tentando fazer isso no Capão Redondo que Ferréz descobriu que o livro preferido entre os moradores do bairro que frequentam a biblioteca improvisada na garagem de sua casa é "O Grande Mentecapto", de Fernando Sabino.
Foi citando exemplos desse tipo que o escritor relatou que, ao ser convidado para comentar o trabalho do secretário de Cultura do município, Marco Aurélio Mendonça, ele respondeu fazendo uma pergunta: "Secretário de Cultura existe?".
Ferréz destacou que a iniciativa da própria população para transformar a realidade em que vive deve ser louvada e falou da dificuldade que seu trabalho com literatura vem enfrentando. "É difícil trabalhar a cultura onde tem o caos", disse.
Já o escritor Francisco Maciel, autor de "O Primeiro Dia do Ano da Peste", falou da diferença entre a relação "elite-periferia" no Rio de Janeiro com relação ao que acontece em São Paulo. "O Rio é obrigado a viver com a diferença. Lá há um movimento natural de aproximação", disse, referindo-se à proximidade das favelas com bairros onde vive a população com maior poder aquisitivo.
Sobre a idéia de que o Rio é a cidade mais violenta do país, Maciel devolveu. "Todo paraíso é perdido, toda cidade é maldita. Lá no Rio a gente também acha São Paulo inabitável", disse.
Os dois escritores terminaram o bate-papo dando um recado em forma de questionamento: "Quem é refém de quem?", perguntou Ferréz. Maciel ensaiou a resposta: "Todo mundo é carcereiro. Está todo mundo cercado".
A Bienal do Livro de São Paulo vai até amanhã, dia 5, e está sendo realizada no Centro de Exposições Imigrantes.
Saiba tudo sobre a Bienal do Livro
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