Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/05/2002 - 06h50

"Descobridor" de Elis revê a sua história

Publicidade

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Aos 69 anos, o produtor musical, radialista, locutor esportivo, jornalista e músico paulistano Walter Silva começa a rememorar sua história. O primeiro produto dessa empreitada é o livro "Vou Te Contar - Histórias de Música Popular Brasileira", da nova editora Códex, que será lançado hoje, em São Paulo, no Instituto Cultural Tomie Ohtake.

"Vou Te Contar" reúne textos jornalísticos, críticos e/ou reflexivos, escritos por Silva desde 1971 _muitos deles foram publicados na imprensa paulistana, inclusive na Folha, mas quase metade do livro é de textos inéditos.

Não é ainda seu livro de memórias _que ele promete para breve_, mas é suficiente para que se revisem relações umbilicais de Silva com artistas que, desde 1958, ele ajudou a fazer despontar em seu programa de rádio "Pick Up do Pica-Pau".

Entre eles, só para citar, estão João Gilberto e a cantora com quem o nome de Walter Silva sempre tem sido associado, Elis Regina.

O comunicador rejeita, em parte, a fama de descobridor de Elis. "Poucas pessoas sabem quem realmente descobriu Elis. Foi um vendedor da gravadora Continental chamado Wilson Rodrigues Poso, que a ouviu cantando menina, aos 15 anos, em Porto Alegre. Ele sugeriu à Continental que a contratasse, e em 62 saiu o disco dela. Levei Elis ao meu programa, fui o primeiro a tocar seu disco no rádio. Naquele dia eu falei: 'Menina, você vai ser a maior cantora do Brasil'. Está gravado."

Se antes ele já convivera com Dolores Duran e Maysa, como divulgador e/ou comunicador, o encontro com Elis traria ao sucesso estrondoso sua faceta de produtor de shows.

Entre 64 e 67, dirigiu em São Paulo o teatro Paramount, ponta-de-lança para uma fase de shows como "O Remédio É Bossa", "1ª Denti-Samba" e outros pelos quais passou toda a MPB dos 60, com foco maior para iniciantes como Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento etc. etc.

Em 65, decidido a montar um show em dupla para Elis, tentou Wilson Simonal e Baden Powell, mas tudo deu errado.

Quase por acidente, o par de Elis acabou sendo o sambista Jair Rodrigues, e o show "Dois na Bossa", produzido por Silva, nasceu com o destino de virar mito.

Nem assim Silva economiza objetividade ao se referir ao parceiro que conseguiu para sua predileta: "Ele cantava aquela porcaria de 'Deixa Isso pra Lá'. Ele é descontraído, cara-de-pau, mas não é talentoso, canta qualquer coisa que pedem. Os discos dos dois juntos não são bons. Achei ridículo virarem programa de TV. Não acredito em repeteco".

Sem papas na língua (e com certa dose de grosseria), ele se refere também às rivais e sucessoras de sua Elis: "Gal Costa é uma péssima cantora, não acerta nem as letras. É mediana em comunicação popular. Maria Bethânia é ridícula, deixa muito a desejar. As cantoras de hoje são performáticas, querem dizer que são lésbicas antes de dizerem que são cantoras".

A acidez exagerada ele sempre contrabalançou sendo hiperbólico, fazendo às vezes proselitismo com seus eleitos. "Tudo que fiz foi com muita sinceridade. Como crítico, usei a máxima de que amigo meu não tem defeito e inimigo, se não tiver, eu coloco", afirma.

Altos e baixos à parte, diz que a retidão ética sempre foi uma de suas prerrogativas, e atribui à invasão do jabaculê uma das causas de seu relativo afastamento do rádio e das gravadoras (leia depoimento à direita).

Lembrando de seu programa "Pick Up do Pica-Pau", Walter Silva não foge do auto-elogio: "A audiência percentual que tinha no rádio não foi batida até hoje. O que eu gostava eu tocava com insistência, era didático. Ensinei o Brasil todo a ouvir música".

Fala, enfim, do apelido até hoje grudado nele, "Pica-Pau": "Nunca digo isso, mas essa é uma coisa que muito me desagradou a vida toda. O 'Pica-Pau' do nome do programa não era eu, era para atrair a criançada. Quando fui estrear como repórter de campo na TV, o narrador Aurélio Campos fez piada e disse que de perfil eu parecia o Pica-Pau, por causa do nariz grande".

Conclui: "Tive que assumir. Passei a usar camisa vermelha quando nenhum homem usava, mercantilizei a imagem do Pica-Pau. Sempre me ofendeu ser chamado assim, mas guardei para mim. Intimamente respondo 'Pica-Pau é a mãe', mas me calo.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página