Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/07/2002 - 10h14

Pós-axé music deixa Margareth Menezes ressurgir em CD

Publicidade

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S. Paulo

"Maga - Afropop Brasileiro" não é só a volta da baiana Margareth Menezes ao disco após sete anos de afastamento. Significa também a retomada de um projeto musical que ficara em parte abortado com a explosão nacional da axé music.

Margareth estreou em disco em 88, pouco após o advento do Olodum. Foi adotada musicalmente pelo inglês David Byrne, que divulgou seu nome mundialmente, com ápice na época de "Um Canto pra Subir" (90). "Kindala" (91) ainda saiu nos moldes de afro-samba-reggae que ela aprendera com Ilê Ayê e Olodum e desenvolvera com recursos próprios.

Mas veio a axé music de Daniela Mercury (também precursora, como ela, mas mais tardia), Ivete Sangalo, Carla Perez e dezenas de outros.

Margareth foi remetida de volta ao gueto do obscuro CD "Luz Dourada" (93) e só pôde mais lançar, por uma multinacional, "Gente de Festa" (95), totalmente integrado aos preceitos axé music que antes não faziam parte de seu repertório.

Não deu certo, e ela tentou voltar a seu ambiente natural e fazer um outro disco, totalmente autoral -gravado em 98-, que continua inédito até hoje, porque nenhuma gravadora se interessou.

Embora cuidadosa, Margareth admite que a mudança de parâmetros trazida pelo axé afetou sua trajetória particular: "Comecei cantando samba-reggae, já com um envolvimento direto com a música de Carnaval. Mas quando o axé foi criado como rótulo, abafou tudo. Só se podia conceber naquela linha. Não era real, porque na verdade a Bahia sempre foi plural. Trouxe vários benefícios para a área, mas por outro lado também vetou alguns artistas. Hoje já vejo uma abertura maior".

"Maga" sai, ironicamente, pela mesma gravadora que construiu a hegemonia do axé na década de 90, a Universal. Mas era, originalmente, um projeto independente.

"A gente conseguiu realizar esse projeto de modo independente, mas a presença de Carlinhos Brown e Alê Siqueira como produtores deu a ele um brilho novo. Estava praticamente na rua quando surgiu essa possibilidade de vínculo com a Universal, o que até atrasou um pouco o lançamento."

Ela tenta delimitar as diferenças entre a combalida axé music e seu "afropop" redivivo: "Afro é nossa raiz, trazida pelos africanos, e pop vem do vocabulário brasileiro, numa tradição que começou com a tropicália. Meu disco tem muita coisa de percussão baiana, quer mostrar essa baianidade, essa "afrobrasilidade", com uma postura mais moderna e ousada".

No rol das ousadias, soma-se a iniciativa de voltar a temas delicados como o racismo, que orienta por exemplo "Desperta (Preconceito de Cor)", de sua própria autoria. "É claro que o Brasil ainda é racista. As oportunidades não são para todos, o afrodescendente quer ir à universidade, gozar de todas as benesses que o país pode oferecer", reivindica.

"O Brasil inteiro adormeceu para essa questão, o povo brasileiro é passivo. Vivencio isso desde pequena, da novela de TV a ver uma pessoa chegar num lugar e cumprimentar todo mundo, menos quem é negro."

"Maga" não significa que Margareth rejeite a cultura axé que a atropelou. Uma das faixas, "Cai Dentro" (que Baden Powell e Paulo César Pinheiro compuseram e Elis Regina lançou em 79), tenta recolocar os vozeirões femininos baianos na tradição maior da MPB. Ali, Margareth chama para cantar suas rivais de axé/colegas de adversidade Daniela Mercury e Ivete Sangalo. Está tudo em casa.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página