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28/08/2002 - 02h50

Rapper da Cidade de Deus diz que filme prejudica moradores; ouça áudio

ISRAEL DO VALE
editor-adjunto da Ilustrada

Nesta parte da entrevista, o rapper MV Bill fala sobre o filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Kátia Lund, que chega aos cinemas na sexta-feira, dia 30.

Ele critica o filme e diz que ele não reflete a realidade da favela.

OUÇA O TRECHO DA ENTREVISTA

Para ouvir, é necessário ter instalado em seu computador o Real Player. Se você não o tiver, faça agora o download

***

Se você não consegue ouvir o áudio, leia a seguir a íntegra do trecho da entrevista:

Folha - Coincidentemente ou não, você está lançando disco na mesma semana em que "Cidade de Deus" chega aos cinemas. Você acha que o filme do Fernando Meirelles reflete o que é a vida na favela?

MV Bill -
Na realidade, eu não queria nem falar sobre o filme, eu evitei falar do filme durante muito tempo. Eu não podia falar do filme porque como a minha imagem é muito ligada à Cidade de Deus, eu tinha receio de falar, de dar alguma opinião sobre o filme, favorável ou negativa, e essa minha opinião repercutir como se fosse opinião da comunidade.

Eu procurei fazer uma pesquisa com as pessoas aqui pra saber a opinião delas. O filme já ganhou prêmio até em Cannes, o mundo inteiro sabe do filme, mas a própria comunidade não sabe do filme. Existe uma aversão ao filme por parte das pessoas.

Eu procurei entender isso. O filme é belíssimo, é bonito pra c.....é bem filmado pra cacete, é bem dirigido, tem uma fotografia bonita pra c...., os atores do "Nós do Morro", do Morro do Vidigal merecem méritos pra c...., os moleques atuaram muito e deram um banho em muito ator consagrado aí, só que como benefício pra Cidade de Deus não traz nenhum. É um filme que no início eu questionei o roteiro, mas quando eu descobri que se tratava de uma ficção, não da realidade, aí eu não falei mais nada.

O que realmente aconteceu foi que eles usaram alguns nomes de alguns personagens, foi inspirado um pouco na história real e fizeram uma ficção, inclusive até com meu parceiro, meu camarada, o Paulo Lins, que é o autor do livro. Ele cometeu alguns equívocos também no livro, que a própria comunidade questiona, e no filme isso foi mostrado também.

O filme é de um ponto de vista bem pessimista, não dá perspectiva nenhuma de melhoria pro futuro, nem traz esperança. Ainda assim, eu sei que vai ser um filme que vai ganhar muitos outros prêmios.

Os arqui-milionários que bancaram esse filme nem conhecem a Cidade de Deus, talvez não conheçam nunca, mas vão ganhar prêmios pra c.... O que eu lamento é que a Cidade de Deus talvez fique com um único prêmio: o de ser a favela mais violenta do mundo.

Isso vai dificultar bastante a socialização das pessoas junto ao asfalto, vai criar dificuldades para que as pessoas consigam empregos...

Vai ser quase impossível dissociar o nome "Cidade de Deus" da realidade que está sendo retratada no filme. A minha comunidade està fodida com tudo isso aí. Eu acho que as outras comunidades também devem sofrer reflexos porque a Cidade de Deus talvez se torne o retrato de todas as favelas do Brasil.

Vendo desse ponto de vista, apesar de ser um filme bonito, não traz benefício nenhum pras comunidades, principalmente pra minha.

Ouça trechos da entrevista:
  • Para MV Bill, sociedade é "hipócrita" ao tratar da violência; ouça áudio

  • Tudo o que é feito na periferia é marginalizado, diz MV Bill; ouça áudio

  • Grupos de rap no Brasil estão "amolecendo", afirma MV Bill; ouça áudio

  • "Guerra" racial e social pode ser inevitável, diz rapper; ouça áudio

  • MV Bill diz que cotas para negros na TV não resolvem preconceito


  • Ouça:
  • "Só Deus Pode Me Julgar", gentilmente cedida pela BMG


  • Leia mais notícias sobre "Cidade de Deus"
     

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