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07/09/2002 - 07h36

"Vésperas" ata escritoras pelo fio da morte

FRANCESCA ANGIOLILLO
da Folha de S.Paulo

Um livro delicado, que costura com o fio comum da fugacidade da vida histórias possíveis na vida de nove escritoras.

Em ficções breves, Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Scott-Fitzgerald e Júlia da Costa ocupam as páginas de "Vésperas", de Adriana Lunardi.

O nome traduz o espírito que move os contos do livro: todos se realizam na iminência de um acontecimento fatal -na maioria dos casos, a morte da inspiradora.

O estalo que impulsionou três anos de trabalho veio quando Lunardi, 38, descobriu o "modo profundamente irônico" como havia morrido Zelda Scott-Fitzgerald.

"Ela tinha uma vida errática e glamourosa, bebia doidamente e acabava sempre internada em sanatórios. Pois bem, ela morre em um incêndio no segundo andar de uma clínica, cujas janelas eram gradeadas para, justamente, evitar atos suicidas", conta a autora de "Vésperas" à Folha.

"Isso me pareceu uma metáfora sobre a total falta de controle que temos sobre a vida. Escrevi um conto, impulsionada por essa ironia. Depois fui pensando nas minhas autoras prediletas e vi que quase todas tinham um final de vida curioso. Então percebi que gostaria de escrever sobre isso."

Lunardi entende, porém, que "um projeto literário deve ir mais longe", além do critério do gosto. Por isso optou por mostrar "diferentes manifestações da morte".

Em nenhum dos escritos, a voz que narra é da autora enfocada ("É uma opção estética e, pessoalmente, um desafio maior").

Em três deles, a personagem inspiradora age sobre o narrador já depois de morta. É o caso, por exemplo, de "Victoria", em que um homem "descobre" a poeta americana Sylvia Plath ao ler sobre seu suicídio no jornal.

É também póstuma a influência de Clarice Lispector sobre a adolescente que quer ser escritora ("Clarice"). E metafísica a mão que se estende em "Ana C.", no qual a poeta fluminense Ana Cristina César se "encontra" com um narrador inspirado em seu amigo Caio Fernando Abreu (1948-96).

Ainda que a voz não seja das autoras, é do seu universo literário o ambiente que cada conto assume. Em alguns, o mergulho de Lunardi chega a quase mimetizar traços estilísticos das escritoras que os inspiraram. Essa não foi, frisa Lunardi, uma "preocupação formal". Para ela, sua verdadeira "carpintaria" ao escrever "Vésperas" está, justamente, nas histórias paralelas de cada conto.

VÉSPERAS (128 págs)
De: Adriana Lunardi
Editora: Rocco (tel. 0/xx/21/2507-2000; www.rocco.com.br)
Preço: a definir (segunda quinzena de setembro)


 

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