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18/09/2002
-
02h48
da Folha de S.Paulo
Em outras rádios, candidatos prometem de tudo no horário eleitoral. Na pirata 90,1 FM, a Planeta 90, a propaganda política obrigatória não vai ao ar, mas o padre vidente Francisco Silva também faz promessas: uma consulta com ele "resolve todos os seus problemas, cura frieza sexual, desfaz trabalhos e traz a pessoa amada em poucos dias".
A estação, criada em 98, toca música popular. Já foi fechada seis vezes pela Polícia Federal e Francisco Sales Silva, que se auto-intitula padre vidente, preso. No ar, a propaganda não pára: "Marque uma consulta". Esta coluna decidiu "se consultar". Quanto custa? "R$ 20. Ele põe o nome na gruta e ora." Marcamos para sexta.
É uma escadaria numa portinha entre dois açougues, debaixo de um viaduto. Uma placa diz: "Igreja Católica Santa Missões". Lá em cima, um salão com 300 cadeiras voltadas para um altar pintado de amarelo, roxo, azul e laranja. Ao lado, loja de produtos "religiosos". Na parede, lista dos "dizimistas" e um cartaz com 25 razões para pagar o dízimo: "Porque quero ter a consciência tranquila, porque meu salário não será posto em um saco furado...".
Umas 20 pessoas esperavam a "consulta", metade para as 10h. Uma secretária chegou às 10h40. Recebeu os R$ 20 de cada fiel, que colocava a mão direita sobre um papel para ela fazer o contorno com caneta. "Entrega pro padre."
A missa começava. "Nesta sexta-feira 13, macumbeiros farão sacrifício até com sangue de gente", dizia o padre, não o Francisco Silva, para os cerca de 200 fiéis.
"Sua vez." Um garoto de 20 e poucos anos, batina dourada rasgada, atendeu numa sala, nos fundos da igreja. Francisco Silva? "Não, padre Marcos." Viu a mão no papel. "Qual é o problema?" Pela tangente: "Uma amiga pediu para eu vir. O marido é alcoólatra". "Feche os olhos. Em nome do senhor..." E rezou por segundos. "Vi uma baiana enterrando três garrafas de cachaça com a boca pra baixo. Esse homem era pra estar morto. Mande sua amiga vir. Digo o nome de quem fez o trabalho. Vá com Deus."
A coluna tentou falar com Francisco Silva, ontem, por telefone. A secretária, Clarice, disse que ele não iria comentar e que a rádio não era dele. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicação) diz que ele é o responsável pela FM. "Essa emissora não outorgada já foi interrompida seis vezes. Responde a vários inquéritos, mas a impunidade impera. Já representamos criminalmente novamente. Estamos aguardando a PF requisitar nosso apoio", respondeu a Anatel, responsável pela fiscalização de rádios piratas.
Só para fixar: "A impunidade impera". Palavra da Anatel.
Sexta-feira 13 com o padre vidente da FM
LAURA MATTOSda Folha de S.Paulo
Em outras rádios, candidatos prometem de tudo no horário eleitoral. Na pirata 90,1 FM, a Planeta 90, a propaganda política obrigatória não vai ao ar, mas o padre vidente Francisco Silva também faz promessas: uma consulta com ele "resolve todos os seus problemas, cura frieza sexual, desfaz trabalhos e traz a pessoa amada em poucos dias".
A estação, criada em 98, toca música popular. Já foi fechada seis vezes pela Polícia Federal e Francisco Sales Silva, que se auto-intitula padre vidente, preso. No ar, a propaganda não pára: "Marque uma consulta". Esta coluna decidiu "se consultar". Quanto custa? "R$ 20. Ele põe o nome na gruta e ora." Marcamos para sexta.
É uma escadaria numa portinha entre dois açougues, debaixo de um viaduto. Uma placa diz: "Igreja Católica Santa Missões". Lá em cima, um salão com 300 cadeiras voltadas para um altar pintado de amarelo, roxo, azul e laranja. Ao lado, loja de produtos "religiosos". Na parede, lista dos "dizimistas" e um cartaz com 25 razões para pagar o dízimo: "Porque quero ter a consciência tranquila, porque meu salário não será posto em um saco furado...".
Umas 20 pessoas esperavam a "consulta", metade para as 10h. Uma secretária chegou às 10h40. Recebeu os R$ 20 de cada fiel, que colocava a mão direita sobre um papel para ela fazer o contorno com caneta. "Entrega pro padre."
A missa começava. "Nesta sexta-feira 13, macumbeiros farão sacrifício até com sangue de gente", dizia o padre, não o Francisco Silva, para os cerca de 200 fiéis.
"Sua vez." Um garoto de 20 e poucos anos, batina dourada rasgada, atendeu numa sala, nos fundos da igreja. Francisco Silva? "Não, padre Marcos." Viu a mão no papel. "Qual é o problema?" Pela tangente: "Uma amiga pediu para eu vir. O marido é alcoólatra". "Feche os olhos. Em nome do senhor..." E rezou por segundos. "Vi uma baiana enterrando três garrafas de cachaça com a boca pra baixo. Esse homem era pra estar morto. Mande sua amiga vir. Digo o nome de quem fez o trabalho. Vá com Deus."
A coluna tentou falar com Francisco Silva, ontem, por telefone. A secretária, Clarice, disse que ele não iria comentar e que a rádio não era dele. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicação) diz que ele é o responsável pela FM. "Essa emissora não outorgada já foi interrompida seis vezes. Responde a vários inquéritos, mas a impunidade impera. Já representamos criminalmente novamente. Estamos aguardando a PF requisitar nosso apoio", respondeu a Anatel, responsável pela fiscalização de rádios piratas.
Só para fixar: "A impunidade impera". Palavra da Anatel.
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