Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/10/2002 - 02h40

Lula deverá receber convite para ir ao programa do Faustão

LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Depois de dar com exclusividade à Globo suas duas primeiras entrevistas como presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva deverá receber convite para participar do "Domingão do Faustão".

O petista, se aceitar, participará do quadro "Arquivo Confidencial" -em que famosos são homenageados por familiares e amigos-, segundo a Folha apurou.

O tratamento privilegiado dado por Lula à emissora já está desagradando as TVs concorrentes, que, até a manhã de ontem, só haviam conseguido registrar os dois pronunciamentos feitos por ele.

Domingo, minutos após seu primeiro discurso como presidente, o petista entrou no ar "Fantástico", logo após anunciar aos jornalistas que sairia às pressas para ir à avenida Paulista.

Anteontem, quando a imprensa esperava uma entrevista coletiva, Lula fez outro pronunciamento e não permitiu perguntas dos jornalistas. À noite, no entanto, passou uma hora e 15 minutos ao lado de William Bonner na bancada do "Jornal Nacional". A participação no "JN", segundo a Central Globo de Comunicação, foi negociada na campanha. "Fechamos essa proposta com os candidatos e todos aceitaram", afirma Luís Erlanger, diretor da CGCom.

Numa campanha em que Lula e outros candidatos tiveram espaço em todas as TVs, a Globo foi também a única a conseguir realizar um debate no segundo turno, já que o PT recusou convites da Band, SBT e Record.
E, para sexta-feira, a emissora ainda programa um "Globo Repórter" sobre a vida de Lula.

A resposta dos telespectadores à política tem sido positiva. O "JN" de anteontem, por exemplo, deu 42 de média e 49 de pico, ótimo ibope para o programa. "Na Globo, a audiência nas entrevistas foi excelente", diz Carlos Henrique Schroder, diretor da Central Globo de Jornalismo. O executivo fez um balanço da cobertura em entrevista à Folha, por e-mail.

E voltou à polêmica edição do debate de 89 -acusada de favorecer Collor. "Acreditávamos que um debate, como uma partida de futebol, poderia ser editado num compacto. Hoje entendemos que essa idéia é equivocada."

Folha - Na opinião do sr., que papel teve a televisão, a Globo em especial, nesta eleição?
Carlos Henrique Schroder -
A imprensa deve informar com exatidão e qualidade. A TV tem aumentada sua responsabilidade em função do alcance. A Globo procurou cumprir esse papel. Cremos que atingimos o objetivo. É motivo de satisfação constatar que os partidos e candidatos reconhecem a qualidade do nosso trabalho. E o público correspondeu, nos dando ótima audiência.

Folha - De que maneira esta cobertura difere das anteriores?
Schroder -
Ela pôde ser mais extensa porque houve liberalização da legislação e jurisprudências mais bem consolidadas. Este ano, conseguimos entrevistar só os mais bem colocados nas pesquisas, o que seria impossível em outras eleições. Também pudemos convidar aos debates só os candidatos cujos partidos ou coligações têm representação na Câmara.

Folha - Como o fato de os políticos terem ido do "JN" aos programa policiais, passando pela MTV, pode ter colaborado ou prejudicado no processo democrático?
Schroder -
Creio que só pode ter ajudado. Não existe informação em excesso, desde que tenha qualidade. O telespectador sabe dosar. Se já estiver se sentindo informado, muda de canal.

Folha - A Globo não teve problemas em comercializar as duas cotas da cobertura eleitoral, a R$ 2,5 mi cada uma. A que o sr. atribui essa facilidade em convencer as empresas a atrelar sua marca às eleições?
Schroder -
Isso faz parte do amadurecimento das instituições. Depois de quatro eleições presidenciais, todos sabem que o jornalismo do país é de alta qualidade, e o da Globo é reconhecidamente dos melhores do mundo. As empresas não atrelaram as marcas às eleições, mas ao bom jornalismo.

Folha - Fontes do PSDB afirmam que José Serra ficou descontente com o tratamento que recebeu nas entrevistas do "JN". Sua opinião seria a de que os âncoras pouparam Lula -ao evitar, por exemplo, enfatizar questões ligadas às denúncias de corrupção em Santo André- e foram rigorosos com ele -citando Ricardo Sérgio. Já membros da campanha de Lula dizem que ele está satisfeito com a Globo. O que pensa dessas avaliações?
Schroder -
Todas as perguntas feitas aos candidatos -e não somente no "JN"- foram jornalísticas. A imprensa, inclusive a Folha, publicou artigos elogiando as entrevistas. Todos os candidatos receberam perguntas com o mesmo grau de dificuldade. E todos elogiaram a conduta da Globo. A relação que se estabeleceu com os candidatos foi de confiança absoluta nos nossos bons propósitos. Sobre Santo André, a Globo cobriu o assunto com o destaque merecido. De cabeça, posso dizer que o assunto foi motivo de reportagem no "JN" por três semanas consecutivas.

Folha - Que avaliação o sr. faz do episódio da edição do debate de 89 -acusada de favorecer Collor?
Schroder -
O compacto exibido no "JN" deixava claro que Collor tinha se saído melhor. Mesmo mantendo as críticas, há muito Lula admite que ele perdeu o debate. Eu, pessoalmente, não considero que uma única edição de um telejornal, mesmo o "JN", possa definir uma eleição.

Acreditávamos que um debate, como uma partida de futebol, poderia ser reeditado num compacto, que teria de mostrar só os melhores lances, objetivamente. Hoje, entendemos que essa idéia é equivocada. Um debate é tão movido a paixão que a carga de subjetividade é enorme. Numa partida, isso não acontece: houve tantos gols, tantas faltas. Para ser objetivo, basta respeitar essa matemática para fazer um bom compacto. Um debate político, entendemos hoje, não se presta a isso.

Por isso, partiu da Globo a decisão de não fazer compacto das entrevistas e dos debates. Acho que o que houve em 89 foi um erro de concepção. Hoje, só alguns mais radicais insistem em teses conspiratórias. A intenção foi só tentar resumir a realidade com objetividade. Missão impossível, quando as paixões estão incendiadas e os interesses em jogo são enormes.

Folha - Como avalia que será a relação da Globo com o governo PT?
Schroder -
A relação da Globo, do jornalismo da Globo, com o governo PT será a mesma que sempre mantemos com qualquer governo: independência, com respeito e responsabilidade.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página