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06/12/2002
-
02h10
"Isso aqui não é filme não", disse e repetiu o sequestrador Sandro do Nascimento, ao manter como reféns passageiros da linha 174, no dia 12 de junho de 2000, no Rio. "Ônibus 174" é o filme da vida de Sandro, que estréia hoje em São Paulo e está em cartaz no Rio há nove semanas.
Dirigido por José Padilha, o documentário narra a ocorrência policial (e midiática) que foi o sequestro, além da história do criminoso -desde a infância em que viu a mãe ser assassinada, aos 8, e a subsequente trajetória nas ruas. "Eu queria contar essas duas coisas em paralelo", diz Padilha.
Com a justaposição, o diretor acredita ter exemplificado uma tese: "O Estado produz violência ativamente no Brasil". A crítica de Padilha é principalmente à "escola do crime" em que se transformou o sistema prisional brasileiro, que Sandro conheceu desde garoto, quando praticava pequenos furtos na zona sul carioca.
"O Estado prende um menor. O cara tem 15 anos. Vai para um centro de reabilitação de menores. O Estado pesquisa seu histórico. Descobre se o cara é traficante, se é assassino ou se bateu uma carteira. Mesmo sabendo disso, manda todo mundo para um lugar só", diz.
Menino de rua
"O Sandro era um menino de rua, que viu seus amigos assassinados por policiais na Candelária, bateu uma carteira e foi para o Instituto Padre Severino, colocado em contato com marginais, sequestradores e assaltantes", diz.
O diretor chegou a imaginar que "algumas pessoas poderiam ficar chateadas com o filme e pensar que ele tentava justificar as ações do Sandro". Mas diz que "os espectadores o entenderam como uma tentativa de explicação, e não de justificação dos eventos que levaram o Sandro a se comportar daquela forma".
Na reconstituição da vida do sequestrador, Padilha localizou sua família, companheiros da vida nas ruas e até imagens de uma roda de capoeira que frequentou. Reféns, policiais e o marido da recreadora Geísa Gonçalves, assassinada, dão depoimentos.
A atuação da polícia fica na berlinda. Mas Padilha diz que nem o comandante da operação nem a Secretaria de Segurança do Rio nem o Palácio da Guanabara aceitaram seu convite para participar do filme.
Escalado para a seção de documentários do Festival de Sundance do ano que vem, "Ônibus 174" deve ter distribuição comercial nos Estados Unidos. O diretor viajou esta semana para Nova York, onde negocia com distribuidoras como a Miramax e a Sony Classics.
Em exibições anteriores para platéias americanas, Padilha percebeu que o "o filme é acompanhado como se fosse um thriller, porque eles não sabem o final".
Já os brasileiros entram no cinema conhecendo de antemão o desfecho trágico do assassinato de Geísa e Sandro. Nem por isso "Ônibus 174" deixa de ser uma surpresa. (SILVANA ARANTES)
Veja fotos do sequestro do "Ônibus 174"
Assista ao trailer:56k | alta velocidade*
(*) só para assinantes do UOL
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"Ônibus 174" usa sequestro para criticar o Estado, diz diretor Policial ajudou a falar com instituição para fazer "Ônibus 174" Filme do ônibus 174 vai para Sundance com 15 minutos a menos Filme do sequestro do 174 choca mais que a cobertura da TV
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"Ônibus 174" desvenda a vida do sequestrador do coletivo
da Folha de S. Paulo"Isso aqui não é filme não", disse e repetiu o sequestrador Sandro do Nascimento, ao manter como reféns passageiros da linha 174, no dia 12 de junho de 2000, no Rio. "Ônibus 174" é o filme da vida de Sandro, que estréia hoje em São Paulo e está em cartaz no Rio há nove semanas.
Dirigido por José Padilha, o documentário narra a ocorrência policial (e midiática) que foi o sequestro, além da história do criminoso -desde a infância em que viu a mãe ser assassinada, aos 8, e a subsequente trajetória nas ruas. "Eu queria contar essas duas coisas em paralelo", diz Padilha.
Com a justaposição, o diretor acredita ter exemplificado uma tese: "O Estado produz violência ativamente no Brasil". A crítica de Padilha é principalmente à "escola do crime" em que se transformou o sistema prisional brasileiro, que Sandro conheceu desde garoto, quando praticava pequenos furtos na zona sul carioca.
"O Estado prende um menor. O cara tem 15 anos. Vai para um centro de reabilitação de menores. O Estado pesquisa seu histórico. Descobre se o cara é traficante, se é assassino ou se bateu uma carteira. Mesmo sabendo disso, manda todo mundo para um lugar só", diz.
Menino de rua
"O Sandro era um menino de rua, que viu seus amigos assassinados por policiais na Candelária, bateu uma carteira e foi para o Instituto Padre Severino, colocado em contato com marginais, sequestradores e assaltantes", diz.
O diretor chegou a imaginar que "algumas pessoas poderiam ficar chateadas com o filme e pensar que ele tentava justificar as ações do Sandro". Mas diz que "os espectadores o entenderam como uma tentativa de explicação, e não de justificação dos eventos que levaram o Sandro a se comportar daquela forma".
Na reconstituição da vida do sequestrador, Padilha localizou sua família, companheiros da vida nas ruas e até imagens de uma roda de capoeira que frequentou. Reféns, policiais e o marido da recreadora Geísa Gonçalves, assassinada, dão depoimentos.
A atuação da polícia fica na berlinda. Mas Padilha diz que nem o comandante da operação nem a Secretaria de Segurança do Rio nem o Palácio da Guanabara aceitaram seu convite para participar do filme.
Escalado para a seção de documentários do Festival de Sundance do ano que vem, "Ônibus 174" deve ter distribuição comercial nos Estados Unidos. O diretor viajou esta semana para Nova York, onde negocia com distribuidoras como a Miramax e a Sony Classics.
Em exibições anteriores para platéias americanas, Padilha percebeu que o "o filme é acompanhado como se fosse um thriller, porque eles não sabem o final".
Já os brasileiros entram no cinema conhecendo de antemão o desfecho trágico do assassinato de Geísa e Sandro. Nem por isso "Ônibus 174" deixa de ser uma surpresa. (SILVANA ARANTES)
Veja fotos do sequestro do "Ônibus 174"
Assista ao trailer:
(*) só para assinantes do UOL
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