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21/01/2003
-
03h24
crítico da Folha
Perder o Globo de Ouro pode não ter nenhuma consequência prática para as chances de "Cidade de Deus" no Oscar, na medida em que "Fale com Ela" não foi indicado para concorrer pela Espanha ao prêmio. Ou seja, o filme de língua estrangeira teoricamente mais forte está fora daquela categoria que realmente conta para os corações brasileiros.
Podemos nos enrolar na bandeira e voltar, portanto, a torcer.
Pois é de torcida que se trata. Estamos com o Oscar um tanto atravessado na garganta. É um pouco o mesmo que acontecia em relação ao futebol até a Copa de 58: sofríamos daquilo que Nelson Rodrigues chamou de complexo de vira-lata.
Sempre partimos do princípio de que "não sabemos" fazer isso, de que nos falta "qualidade" etc. Nos últimos anos, um sutil, porém constante, movimento de apreço pelas produções brasileiras tem se manifestado. Com isso, os filmes que chegam ao Oscar não vão sozinhos. Há um pouco de nós ali.
O sucesso de "Cidade de Deus" (como, antes, o de "O Quatrilho" e o de "Central do Brasil") termina por mobilizar seja esse complexo de que falava Rodrigues (que representa o ceticismo brasileiro em relação a nos tornarmos uma nação industrialmente de ponta), seja seu contrário, a esperança de que possamos sair desse limbo simbólico e nos afirmarmos diante do Primeiro Mundo.
Que esse movimento é ilusório, não resta a menor dúvida. Prêmios são um reconhecimento significativo, porém imediato. A única maneira de aferir efetivamente o valor de uma obra de arte é a decantação do tempo.
Exemplos não faltam. "Cidadão Kane", de Orson Welles, não ganhou o Oscar e nem foi um grande êxito. "A Regra do Jogo", de Jean Renoir, fracassou em 39 e no pós-guerra. Howard Hawks e Hitchcock nunca levaram a estatueta. Prêmios são importantes para a publicidade. Arte e sucesso não são sinônimos, mesmo numa arte industrial como o cinema.
Comentário: "Cidade de Deus" luta contra complexo "vira-lata"
INÁCIO ARAUJOcrítico da Folha
Perder o Globo de Ouro pode não ter nenhuma consequência prática para as chances de "Cidade de Deus" no Oscar, na medida em que "Fale com Ela" não foi indicado para concorrer pela Espanha ao prêmio. Ou seja, o filme de língua estrangeira teoricamente mais forte está fora daquela categoria que realmente conta para os corações brasileiros.
Podemos nos enrolar na bandeira e voltar, portanto, a torcer.
Pois é de torcida que se trata. Estamos com o Oscar um tanto atravessado na garganta. É um pouco o mesmo que acontecia em relação ao futebol até a Copa de 58: sofríamos daquilo que Nelson Rodrigues chamou de complexo de vira-lata.
Sempre partimos do princípio de que "não sabemos" fazer isso, de que nos falta "qualidade" etc. Nos últimos anos, um sutil, porém constante, movimento de apreço pelas produções brasileiras tem se manifestado. Com isso, os filmes que chegam ao Oscar não vão sozinhos. Há um pouco de nós ali.
O sucesso de "Cidade de Deus" (como, antes, o de "O Quatrilho" e o de "Central do Brasil") termina por mobilizar seja esse complexo de que falava Rodrigues (que representa o ceticismo brasileiro em relação a nos tornarmos uma nação industrialmente de ponta), seja seu contrário, a esperança de que possamos sair desse limbo simbólico e nos afirmarmos diante do Primeiro Mundo.
Que esse movimento é ilusório, não resta a menor dúvida. Prêmios são um reconhecimento significativo, porém imediato. A única maneira de aferir efetivamente o valor de uma obra de arte é a decantação do tempo.
Exemplos não faltam. "Cidadão Kane", de Orson Welles, não ganhou o Oscar e nem foi um grande êxito. "A Regra do Jogo", de Jean Renoir, fracassou em 39 e no pós-guerra. Howard Hawks e Hitchcock nunca levaram a estatueta. Prêmios são importantes para a publicidade. Arte e sucesso não são sinônimos, mesmo numa arte industrial como o cinema.
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