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30/01/2003 - 09h29

Badi Assad volta à música com dois CDs e shows em São Paulo

MAÉRCIO SANTAMARINA
da Folha de S. Paulo

Depois de quatro anos sem gravar _e recuperada de uma doença rara que havia a obrigado a se afastar temporariamente do instrumento que a consagrou, o violão_, Badi Assad, 36, volta à cena musical com dois novos CDs produzidos nos EUA e no Brasil. A cantora está em São Paulo para uma série de quatro apresentações (uma das quais ocorreu na terça-feira passada) no Supremo Musical.

O primeiro CD, a ser lançado ainda no início deste ano, é "Nowhere", gravado em parceira com o guitarrista norte-americano Jeff Young (ex-Megadeth), também co-produtor. Trata-se do quinto disco da carreira da cantora, violonista e percussionista.

Divulgação
A cantora e instrumentista
brasileira Badi Assad
Em março, ocorrerá o segundo lançamento, ainda sem nome, ao lado de dois dos mais conceituados jazzistas da atualidade, Larry Coryell e John Abercrombi.

Em entrevista, ela fala sobre seu trabalho e as "provações" que passou desde o lançamento de seu último CD, "Chameleon", em 1998. Nesse período, ela enfrentou um problema neurológico chamado distonia focal e o fim de seu casamento com Jeff Young.

Veja trechos da entrevista:

Folha - Gostaria que você começasse apresentando o CD "Nowhere".

Badi Assad
- Ou "Now here". O propósito é provocar as duas leituras. Esse CD passou por várias fases. A primeira começa, na verdade, quando conheci o Jeff, em 1997, em Los Angeles. Foi com ele que assinei o contrato do "Chameleon", do qual sobraram algumas idéias que foram guardadas e agora aproveitadas no novo CD.

Folha - Como vocês formaram essa parceria musical?

Badi Assad -
O Jeff resolveu sair do Megadeth há 19 anos porque não era a dele essa filosofia de sexo, drogas e rock'n roll. Partiu, então, para o violão clássico. Foi por meio do Thomas Humphrey, quando fez o possível e impossível para ter um violão dele, que me conheceu. O Humphrey já admirava muito o trabalho dos meus irmãos Sérgio e Odair Assad [que formam o Duo Assad].

Na época eu estava procurando uma gravadora. Havia recebido uma proposta milionária no Brasil, mas a gravadora queria apenas a Badi cantora. Não aceitei abrir abrir mão das minhas experiências como instrumentista. Fiquei com medo de cair para o lado de lá e perder a minha essência.

O Jeff me deu a segunda opção. Assinei com a i.e.music/Polygram, com liberdade total para cantar, tocar, fazer o que quiser. Quando vi, estava morando num país novo, com um pessoa nova.

Folha - O resultado a deixou plenamente satisfeita?

Badi Assad -
O "Chameleon" foi um sucesso na Europa, com prêmio de melhor vendagem na Alemanha. A faixa "Waves" chegou a ficar durante algumas semanas entre as três "world musics" mais tocadas na Espanha, à frente da Madonna, para surpresa minha.

Folha - Por que demorou tanto para surgir um novo trabalho?

Badi Assad -
No "Chameleon" tivemos problema com um dos donos da i.e.music/Polygram, que seria nosso co-produtor. Já com contrato assinado, recusei alguns de seus arranjos. Ele não gostou e acabou amaldiçoando o disco. Tentou, por exemplo, minar seu lançamento nos EUA.

Parte do que o disco rendeu na Europa, investimos numa turnê nos EUA para evitar isso.

A outra parte da grana investi em aula de canto com Ron Anderson, que foi professor de Seal, Björk, Tori Amos, Janeth Jackson etc

Foi daí que começaram as provações. Já estávamos sem dinheiro para continuar em Los Angeles quando soubemos que a mãe do Jeff estava com câncer. Como se não bastasse, no final de 1998 comecei a sentir umas coisas estranhas na minha mão.

Folha - Foi quando você descobriu sua doença rara?

Badi Assad -
Fui diagnostica com distonia focal, um problema que eu nem imaginava que pudesse existir. Fiquei durante quase dois anos, até o final de 2000, sem poder tocar violão.

Folha - Quais eram os sintomas?

Badi Assad -
Eu queria fazer um som com o violão, mas saía outro. É como você querer dar um salto triplo, mas não conseguir dar o primeiro passo.

Folha - Como você fez para não comprometer a turnê americana?

Badi Assad -
Vi que tudo o que havíamos investido seria perdido por causa desse problema. A turnê seria a volta do Jeff aos palcos depois do Megadeth. Além disso, haveria um concerto com meus irmãos no segundo show.

Diante disso, a saída foi continuar. Na estréia, em Cincinnati, eu estava um caco, mas as pessoas não percebiam o meu problema.

Cheguei a desistir da segunda etapa, que seria no lado oeste do EUA. Nessa noite, com a sensação de que o sonho havia acabado, acordei e chacoalhei o Jeff na cama. Perguntei se ele topava mudar o show para que eu pudesse continuar. Lembrei músicas que eu tocava antes sem violão.

Acordamos, então, a Simone Soul, que nos acompanhava na turnê e apresentamos a idéia. Montamos um show completamente diferente.

Na última música do "Chameleon", na faixa "Flowing... Into Formlessness", passamos a tocar o violão a quatro mãos. O Jeff fazia a mão esquerda e eu, a direita. E condizia com a música, que fala do amor de duas pessoas se transformando e uma só.

Folha - E como foi a reação do público a partir disso?

Badi Assad -
Foi muito positiva. O nosso último show, num teatro em São Francisco, havia sido comprado por uma sociedade de violão local. Eu estava preocupada porque só tocaria 5% do meu potencial. Resolvi contar a minha história para os presentes. E foi um sucesso.

Quando o editor da revista "Mondo 2000" veio falar comigo com os olhos brilhando, vi que não estava tudo perdido. Pensei: a música está em mim, e não no meu violão. Vi que o violão era apenas o meu veículo.

Folha - E como você se curou dessa doença rara?

Badi Assad -
Eu estava morando em Ohio, na casa da mãe moribunda do Jeff. Vinha de uma jornada anterior fantástica e estava numa cidade apagadíssima. Eu tinha chegado ao fundo do poço.

Quando a mãe do Jeff morreu, fomos morar em um sítio na Flórida, onde eu cuidava de cavalos e da plantação de laranja. Eu até lavava os estábulos.

A cura veio lá na Flórida. Eu havia procurado acupuntura e várias outras terapias alternativas sem sucesso. Foi quando procurei um tratamento novo, o "body talk", com uma alemã chamada Marita Koüfe.

Ela disse que, por algum motivo, havia se rompido uma ligação energética em algum ponto do meu corpo. A terapia consiste em descobrir onde está rompido para conectar de novo. Foi incrível. Na primeira sessão já voltei a tocar.

Não foi uma mágica. No fundo, eu já estava preparada para sair dessa história, mas faltava o "tigger point" para isso.

Folha - Como foi, após a cura, enfrentar o fim de seu casamento.

Badi Assad -
Após a cura, voltei ao Brasil para passar dois meses aqui. Nesse tempo, o Jeff se apaixonou por outra mulher. Quando retornei aos EUA, sentamos os três adultos e resolvemos tudo. Ele se casou e teve uma filha.

Enquanto o "Nowhere" estava sendo gravado, ficamos morando os três juntos na mesma casa.

Folha - Seu novo disco traz claramente os reflexos de tudo isso?

Badi Assad -
O "Nowhere" é fruto dessa experiência toda. Passou por todas essas fases, como eu disse no início. As letras são reflexo desse período. Nasceram assim.

Toco pouco violão nesse disco, embora mais do que o previsto inicialmente. Quando ele começou a ser gravado, no início de 2001, eu já estava curada. O CD, no entanto, está cheio de violão porque o Jeff toca muito.

Folha - Como é essa nova Badi, após as "provações"?

Badi Assad -
Vivo agora sem expectativa. Minha busca não é para pensar no que isso vai trazer de lucro ou de volta.

Percebo meu amadurecimento no uso da minha voz. Estou muito mais madura, com toda essa experiência de vida, mas o legal é que a essência continua.

BADI ASSAD
Quando:
às terças-feiras, dias 4 e 11 de fevereiro, às 22h
Duração: 1h30
Onde: Supremo Musical (rua Oscar Freire, 1.000, Jardins, São Paulo)
Quanto: R$ 20
Informações: 0/xx/11/3062-0950

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