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31/01/2003 - 04h01

Registros da gravadora Fantasy incluem Sonny Rollins e Chet Baker

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Eis que em meio ao deserto chamado Lançamentos de CDs de Jazz no Brasil surgiram alguns monumentos. Pode parecer, mas não são miragens.
No final de 2002, sob os auspícios de Noel pai, as lojas brasileiras receberam 19 discos do pelotão de elite do jazz lançados pela primeira vez no Brasil em CD.

O relançamento do disco laser do álbum do vozeirão Tony Bennett com a elegância em teclado de Bill Evans arredonda para duas dezenas o pacote que a BMG Brasil põe no mercado. Os 20 títulos vêm todos do mesmo endereço. São gravações do catálogo da Fantasy Records, o maior conglomerado independente do jazz.

Lançados em formato chamado "digipack" (capa em formato de álbum, não as tradicionais caixinhas quebráveis de acrílico), os CDs formam uma considerável cordilheira do gênero de Miles Davis, John Coltrane, Charlie Parker e Thelonious Monk.

O quarteto de pilastras jazzísticas está, por sinal, inteiro no pacote, com CDs de qualidades variáveis. Se o volume "Bags Groove", de Davis, representa em melhor estilo a excelência do trompetista (assessorado por Horace Silver, Milt Jackson etc.), "Bird at St. Nick's" só joga areia no fenomenal sax de Charlie Parker, em gravação de péssima qualidade.

Mas não está no lançamento de medalhões já mais representados e conhecidos no Brasil, como o também ótimo "Mingus at the Bohemia", de Charlie Mingus, o grande mérito da série.

O Everest da coleção talvez seja "Saxophone Colossus", de Sonny Rollins, título que não chega a ser exagerado para o CD.

Gravado em 1956, com a impecável escolta percussiva de Max Roach, o disco exibe uma das grandes performances de um sax tenor na história do jazz.

Rollins, que aos 72 anos ainda assopra o instrumento, também mostra em "Colossus" a sua outra grande faceta, a de compositor.

É no disco que ele apresenta pela primeira vez os temas "Blue Seven" e "St. Thomas", calipso que entraria para o cânone jazzístico, com mais de 200 gravações.

Ainda no capítulo saxofone, o pacote de pérolas da Fantasy (gravadas originalmente em outros selos comprados por esta, como Prestige, Riverside e Contemporary) também tem outros momentos áureos de artistas pouco (ou não) lançados no país.

Explodindo de suíngue, o álbum "The Cannonball Adderley Quintet in San Francisco" é um deles. O sax alto de Adderley (1928-1975), que não ganhou o lugar que deveria no panteão, crava aqui, na companhia do irmão trompetista Nat, alguns dos pontos capitais do soul jazz, como os temas "This Here" e "Spontaneous Combustion".

Mais comportado, e de elegância imbatível, o sax alto de Benny Carter também tem um de seus picos prensado no Brasil.

"Jazz Giant", de 1957, reúne o sopro amadurecido do então cinquentão Carter (hoje com 95 anos), um repertório de classudas, como "Old Fashioned Love", e a companhia de um time de estrelas do jazz da Costa Oeste: o guitarrista Barney Kessel, o baterista Shelly Mane (dupla que aliada ao baixista Ray Brown também tem ótimo CD na jogada: "The Poll Winners"), o baixista Leroy Vinnegar e o pianista André Previn.

Também do Pacífico americano chega pela primeira vez aos CDs nacionais outro sax-alto degraus abaixo do que deveria na história.

Art Pepper (1925-82) estava na crista em 1959, quando registrou este "Modern Jazz Classics", com composições emblemáticas do bop, hardbop e cool e o nada discreto acompanhamento de 11 músicos. Mesmo em meio à correnteza da heroína, que levou entre tantos Chet Baker (com dois CDs no pacote), Pepper aparece com o sopro ágil e preciso.

Saltando dos saxofones ao piano, chegamos a outro dos monumentos do conjunto de discos. "Portrait in Jazz" é a primeira gravação em estúdio de Bill Evans (1929-1980) com seu trio mais importante: Scott LaFaro no baixo e Paul Motian na bateria. O fraseado e a harmonia sofisticados de um dos grandes pianistas dos cem anos de jazz, diálogos finos com o erudito, aparecem neste CD decompondo standards, como "Autumn Leaves" e "What Is This Thing Called Love".

Nesse álbum impecável, porém, fica à mostra um dos pecados da coleção. O som da alardeada remasterização digital em 20 bits não é sempre cristalino como deveria para um pacote desta importância. O baixo de LaFaro, estourado, é exemplo.

Resta torcer para que a BMG afine as máquinas e continue prensando outras tantas maravilhas do acervo Fantasy (e de preferência abaixo dos atuais R$ 35).


 

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