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14/06/2007 - 11h48

Confira o discurso de posse de Paulo Markun na TV Cultura

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da Folha Online

O jornalista Paulo Markun tomou posse como diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Rádio e TV Cultura, nesta quinta-feira. A posse aconteceu durante reunião do Conselho Curador, às 10h, e foi transmitida pela internet.

Confira a íntegra do discurso de posse de Markun:

"Para que serve a Fundação Padre Anchieta? O que podem dela esperar seus 41 milhões de acionistas, que aqui aplicaram, em quatro décadas, o equivalente a 3,5 bilhões de reais, em valores corrigidos? Como fazer com que suas emissoras de rádio e televisão cumpram efetivamente sua missão?

Essas perguntas se transformaram em um desafio para mim, ao ser eleito diretor-presidente desta Fundação, há um mês e meio. Não há como escapar do lugar comum: é imensa a responsabilidade de comandar uma instituição cuja face mais visível, a Cultura, é admirada por todos e modelo de TV pública no país. Tarefa ainda mais complicada pelo fato de fazermos televisão no Brasil, onde a principal emissora comercial faturou, só no ano passado, mais do que todo o montante aplicado na Fundação em 40 anos.

A Cultura é uma marca de valor imensurável. Faz parte da vida de todos os paulistas --e da minha vida também. Aqui, vivi bons e maus momentos desde a década de 60. Apesar dessa trajetória, ou talvez por causa dela, jamais pleiteei, ambicionei ou imaginei assumir sua direção, até ser convidado pelo conselheiro João Sayad. O apoio de 18 conselheiros eletivos transformou a consulta em indicação formal e de consenso. Outros 20 votos me trouxeram até aqui.

Não pretendo refundar nem a Cultura, nem a Fundação. Mas com o apoio deste conselho, espero corresponder às expectativas de nossos acionistas, pelos próximos três anos. E com isso, colocar mais alguns tijolos nessa construção coletiva.

Criada há 40 anos pelo então governador Roberto de Abreu Sodré, a Fundação Padre Anchieta se transformou em realidade graças ao esforço, empenho e amor de milhares de brasileiros que aqui trabalharam. Gente muito bem representada pelo mais antigo funcionário da casa, o "seu" Monteiro da

Cenografia, há 38 anos na Cultura. Mesmo tempo de vida da emissora. Ele e o diretor de imagens Emílio Rodrigues --o Major--, o segundo mais antigo entre nós, são os dois remanescentes do grupo que saiu do Canal 2 dos Diários Associados para fazer a TV Cultura. Acompanham ao longo de quase quatro décadas, a programação iniciada com o trabalho de outro grupo igualmente pioneiro, os primeiros formandos da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo que vieram pensar e abrir os caminhos da TV Cultura. Marcelo Amadei, hoje roteirista da TV Rá Tim Bum, é dessa primeira turma da ECA.

Também daquele primeiro momento, Gregório Bacic, atualmente na produção do programa Provocações. E o próprio Antonio Abujamra e muito mais: Inezita Barroso...A maquiadora Teresinha Borges... o maestro Júlio Medaglia...Vladimir Herzog...Fernando Pacheco Jordão...Calos Queiroz Telles...Júlio Lerner...Antunes Filho...Nídia Lícia... Criadores que também fizeram a história cultural de São Paulo e mais centenas de outros nomes. Um mosaico de gente e de idéias que marcaram o trabalho da Fundação desde seu início. Técnicos, auxiliares, operadores, produtores, diretores, personagens que tornaram viável a idéia desta emissora e que contribuíram em momentos diferentes e às vezes, adversos, para a realização da mais significativa experiência de TV pública no Brasil.

Sei que esta lista, como tantas, é parcial e injusta. E por isso, deixo aqui registrada meu agradecimento a todos os que colaboraram nessa construção, na pessoa de Fernando Faro. O Baixo, como ele costuma ser chamado, continua sonhando e produzindo inesquecíveis projetos musicais. Responsável pelo formidável acervo que a TV Cultura construiu nesses anos na área da música brasileira, dos tempos do MPB Especial ao Ensaio, ele soma 35 anos de trabalho aqui. E 80 de vida, completados agora e que vamos comemorar com um programa especial, dia 21. Fernando Faro, que já foi assessor da Presidência da Fundação Padre Anchieta para Assuntos de Programação, se torna agora, por merecimento e justiça, nosso coordenador do núcleo de música. A todos os "baixos" e "baixas" dessa Fundação, meu sincero respeito.

Se esse empenho coletivo construiu nosso patrimônio, será preciso mais esforço ainda para enfrentar os novos obstáculos. Neste início do século XXI, surgem outros meios pelos quais a Fundação Padre Anchieta pode realizar sua missão. Missão clara, indiscutível, registrada no próprio estatuto: a defesa e o aprimoramento integral da pessoa humana; sua formação crítica para o exercício da cidadania e a valorização dos bens essenciais da nacionalidade brasileira, no contexto da compreensão dos valores universais.

Tudo o que auxiliar essa formação crítica do homem buscaremos fazer, pelos diversos meios: televisão, rádios, internet, celulares, eventos presenciais, publicações... Para ampliar nosso alcance --pois de nada adianta fazermos produtos culturais que ninguém aproveita-- será preciso utilizar muito bem nosso potencial, sem delírios, nem desperdícios. Será igualmente necessário conquistar novos recursos públicos e privados para modernizar os equipamentos e responder às demandas da digitalização, completando tarefa iniciada na administração que hoje se encerra.

Assumo minha tarefa com sete objetivos, reconhecidamente ambiciosos:

  1. Fortalecer a conexão entre o público e nossos veículos, transformando-o em parceiro estratégico e fiscal de nossa gestão.
  2. Implementar os novos canais que resultarão da entrada em funcionamento da TV digital.
  3. Ampliar a atuação da Fundação Padre Anchieta, criando conteúdo para as várias mídias e desenvolvendo outras iniciativas que permitam cumprir nossa missão.
  4. Fortalecer nosso papel como prestadores de serviços multimídia para parceiros institucionais ou privados cujos objetivos sejam compatíveis com os nossos.
  5. Estimular a produção independente, com controle e acompanhamento editorial da Fundação, a exemplo do que ocorre em outras emissoras públicas no exterior.
  6. Prosseguir e acelerar o processo de digitalização de nosso acervo, buscando formas de facilitar o acesso a seu conteúdo.
  7. Fortalecer o campo público de televisão, no espírito do Fórum Nacional realizado em Brasília, para tal contribuindo, dentro de nossas possibilidades e pontos de vista, sempre mantendo a identidade da Cultura.

São mudanças importantes numa Fundação que hoje é pouco mais do que o braço burocrático da TV e das rádios. Mas creio que será possível ter, ao final de três anos, uma produtora de cultura, um instrumento de formação de cidadania que atue em vários campos, em favor de nossos acionistas. A estes, peço que prestigiem ainda mais nossos produtos. E que os critiquem, se não estiverem de acordo. Para isso, já está no ar um canal de comunicação direto pelo nosso site na internet.

Sou o primeiro funcionário a chegar até aqui. Conheço a realidade a partir da história, instalações e equipamentos e pessoas que fazem a Fundação Padre Anchieta. Sei o que é preciso mudar e pretendo fazê-lo, com planejamento e método. Mas isso não depende só de mim. O plebiscito interno que orientou o voto do representante dos funcionários neste conselho me deu amplo respaldo. Isso, e a convivência fraterna de nove anos, colocam sobre mim uma grande dose de esperança. Também sei que não poderei a ela corresponder plenamente, mas peço o empenho de todos para enfrentar nossa tarefa, já a partir das primeiras medidas e iniciativas. Algumas delas - o fim do restaurante executivo e dos carros da diretoria. Uma série sobre a Colômbia, outra sobre o Xingu, um especial sobre os 80 anos de Fernando Faro, outro sobre o cinema brasileiro, presença marcante na Festa Literaria de Parati, close caption para que deficientes auditivos acompanhem nossos programas e o Portal Roda Viva, fruto de acordo com a Fapesp, a ser assinado logo a seguir.

Para acelerar nosso ritmo, conto ainda com a colaboração deste conselho curador, que representa a sociedade no comando da Fundação. No documento que encaminhei aos conselheiros eletivos, antes que respaldassem meu nome, dizia que nossa programação será eminentemente cultural, educativa, informativa, artística e inovadora. Não será comercial, nem terá fins lucrativos; enfatizará o compromisso com a sociedade e não com o mercado. Não será utilizada para promoção pessoal, de causas religiosas, comerciais ou partidárias; dará visibilidade e voz às minorias, buscando apoiar processos de inclusão social. Estará sempre comprometida com a veracidade, trabalhando no sentido de universalizar o direito à informação e à comunicação. Educação, cidadania e serviços, dramaturgia, cultura e arte, música, meio ambiente, juventude e infância e jornalismo serão nossas prioridades.

Abriremos espaço para a experimentação, buscando novas linguagens e formatos, em favor da solidariedade, da democracia e da paz, para assim expressar a diversidade brasileira, socializando a produção do conhecimento e fortalecendo a causa da televisão pública.

Para transformar tantas palavras em realidade, será preciso novos investimentos das várias esferas do poder público e o apoio engajado de parceiros da iniciativa privada. E já estamos em busca disso.

Não tenho a menor dúvida de que cometerei muitos erros nessa jornada. Mas pretendo seguir o conselho de Hugh White, que afirmou certa vez: Quando você comete um erro, não olhe muito para trás. Descubra a razão em sua mente e então olhe para diante. Erros são lições de sabedoria. O passado não pode ser mudado. O futuro ainda está em seu poder.

Muito obrigado"

 

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