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24/06/2007 - 09h21

Nos EUA, a "Noivazillas" transformam festa de casamento em obsessão

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DENYSE GODOY
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Era uma vez uma jovem americana que foi pedida em casamento pelo seu príncipe encantado. Diante da perspectiva de ela realizar um sonho que boa parte das garotas acalentam, família e amigos compartilharam da sua alegria.

Mas o júbilo aos poucos foi virando preocupação, e depois terror. A menina já não era a mesma. Andava para cima e para baixo com uma pilha de revistas sobre casamento debaixo do braço. Contratou um organizador profissional de matrimônios para ajudá-la nos preparativos --e quantos! Inteligente e de bom senso antes, ela passou a falar sobre um assunto só: a cerimônia, organizada como se fosse uma operação militar. Quando ela deu uma enorme bronca na amiga que não podia acompanhá-la, na tarde de uma quarta-feira, à oitava prova do seu vestido, ninguém mais teve dúvidas. Havia se transformado em um monstro... a "Noivazilla", híbrido de noiva com Godzilla.

Definida como uma mulher obcecada com o casamento perfeito --para atingir esse objetivo, ela não mede esforços, endivida-se e enlouquece quem está à sua volta--, a Noivazilla é personagem que prolifera assustadoramente nos EUA. São muitos os relatos da destruição que elas têm provocado.

Uma quis que todas as suas madrinhas tingissem o cabelo no mesmo tom de loiro, para ficar mais bonito no altar. Outra exigiu que o salão de festas fosse decorado com flores roxas combinando com o papel de parede do quarto de hotel onde passaria a noite de núpcias. E ainda teve a que obrigou os padrinhos a se submeterem a uma pedicure já que, durante a celebração, na praia, todos deveriam ficar descalços. As insanas aventuras das noivas durante o planejamento do casório viraram até reality show: "Bridezillas", exibido pelo Women's Entertainment (no Brasil, chama-se "Noivas Neuróticas" e passa no canal da TV paga Discovery Home & Health).

"Muito se tem falado da Noivazilla. Porém eu achava injusto responsabilizar a noiva pela quantidade de exageros cometidos nos matrimônios. Não se trata de um problema individual e sim de um problema cultural, revelador de como funciona a sociedade americana hoje", diz Rebecca Mead. A jornalista faz parte do time da prestigiosa revista "New Yorker" e passou os últimos três anos pesquisando o tema para escrever o livro "One Perfect Day - The Selling of the American Wedding (um dia perfeito --a venda do casamento americano)", ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

Ritual perdido

Ao contrário do que acontecia com os nossos avós, o casamento não representa mais um ritual de passagem para a vida adulta. Tampouco marca o início da intimidade sexual entre dois parceiros ou o instante em que eles decidem morar juntos e constituir família. Pode estar aí, no entendimento de Mead, a explicação para o fato de a cerimônia nupcial agora ser encarada como um gigantesco e impecável show. Trata-se de marcar com o máximo de pompa esse momento a fim de que ele de fato signifique alguma coisa para aquelas pessoas.

Vivendo na sociedade mais consumista do planeta, naturalmente deu-se que noivas (e noivos também, claro) ficaram ainda mais vulneráveis aos apelos mercantis. "Não é que a indústria do casamento provocou esse movimento, mas soube aproveitá-lo", ressalta Mead. "A festa ideal é a que a indústria define como sendo a ideal."

Cinderela

Também estamos falando da nação onde nasceu e é mais forte o culto às celebridades. Então, as noivas acabam fortemente encorajadas -por um setor que em 2005 movimentou cerca de US$ 161 bilhões (R$ 312,3 bilhões)- a viver a cerimônia como a chance de serem estrelas. Daí a gama interminável de serviços que são oferecidos a elas, de tratamentos faciais com pó de ouro até ginástica para fortalecer os bracinhos que vão jogar o buquê e empréstimos bancários especiais para financiar o sonho.

"Em última análise, a indústria vende a ilusão de que um ritual perfeito também vai levar a uma vida conjugal perfeita", explica Mead. O "felizes para sempre" dos contos de fada. Até o Walt Disney World promove casamentos. Desembolsando a partir de US$ 20 mil [R$ 38,8 mil], dá para dizer o "sim" em frente ao castelo da Cinderela.

A fantasia está tão arraigada no imaginário das moças que nem a realidade é capaz de desconstrui-la.

"Uma pessoa que organiza casamentos disse que encontrou uma ex-cliente que havia tido uma festa de sonho mas se divorciou. A garota chorou, se lamentou. Mas afirmou que, da próxima vez, faria algumas coisas diferentes, mas contrataria a mesma consultora para montar celebração", conta Mead.

 

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