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14/02/2003 - 08h54

Walcyr Carrasco defende reviravolta que fez em "Esperança"

MARCELO BARTOLOMEI
Editor de Entretenimento da Folha Online

O novelista Walcyr Carrasco, 51, autor de "Esperança", encerra sua participação na novela, iniciada como uma intervenção no lugar de Benedito Ruy Barbosa, nesta sexta-feira, dia 14, quando o último capítulo vai ao ar. Para ele, as reviravoltas que alguns personagens sofreram depois que assumiu a autoria da história foram necessárias.

"O personagem que não sofre transformação alguma não desperta interesse", afirma. Isso justifica porque Farina (Paulo Goulart) virou vilão e Francisca (Lúcia Veríssimo) ficou boazinha, entre outras mudanças de personalidades.

Carrasco diz estar extremamente feliz com o resultado e encara como um desafio ter pego a novela no meio e em um momento de crise. "Esperança" é sua sexta novela. Delas, "O Cravo e a Rosa" está sendo reexibida à tarde na Globo.

Ele evita falar sobre seu relacionamento com Ruy Barbosa depois de ter assumido seu posto em "Esperança" em dezembro do ano passado, e afirma ser "extremamente grato" ao autor.

No início, Carrasco teria sido chamado apenas para ajudar Ruy Barbosa, que estaria com problemas de saúde, mas depois ele assumiu sozinho a autoria da novela. A intervenção teria ocorrido porque Ruy Barbosa não estaria cumprindo cronogramas e os capítulos estariam chegando às mãos dos artistas com apenas um dia de antecedência, o que fazia com que a novela fosse gravada às pressas.

Além disso, a média de ibope de "Esperança" nas mãos de Ruy Barbosa foi a menor já registrada numa novela das oito da Globo em toda a história.

Leia entrevista com Walcyr Carrasco, feita por e-mail, na semana passada, quando as gravações da novela já estavam no fim, em que ele comenta sua entrada na novela e seus próximos projetos:

Divulgação
O novelista Walcyr Carrasco
Folha Online - Qual o balanço que o sr. faz depois de concluir uma história que não começou?

Walcyr Carrasco -
Eu me sinto extremamente feliz pelo desafio e extremamente grato ao Benedito Ruy Barbosa. É verdade que não comecei a história, mas o painel estava todo lá, com personagens fascinantes.

Folha Online - Agora, no final da novela, o que poderia ter sido diferente na história dos personagens? Gostaria que o sr. fizesse uma avaliação de "Esperança". Se o sr. tivesse feito a novela desde o início, seus rumos mudariam?

Carrasco -
Olha, essa pergunta é impossível de responder para um autor como eu. Eu funciono na base da minha própria intuição, reagindo ao que vejo no ar. Os personagens "falaram" comigo dessa maneira. Então, fica impossível saber o que teria acontecido.

Folha Online - Muitos espectadores perceberam a mudança do ritmo na novela depois da sua entrada. Disseram que a história ficou mais ágil. Qual sua avaliação sobre isso?

Carrasco -
Cada autor escreve de um jeito. A questão de ter um ritmo mais ou menos rápido não interfere no sucesso de uma novela. O Benedito Ruy Barbosa nos proporcionou, não vamos esquecer, novelas que foram marcos da teledramaturgia, como "Pantanal" e "Renascer", cujo ritmo, por ser menos rápido, fascinava o espectador. Ou seja, a questão de ritmo é de cada autor.

Divulgação
O autor Benedito Ruy Barbosa
Folha Online - Como foi seu relacionamento com o diretor da novela, Luiz Fernando Carvalho, conhecido por fazer arte, vide seu filme "Lavoura Arcaica". Na época do Benedito Ruy Barbosa, vimos cenas que jamais eram esperadas na TV, com sequências longas e músicas.

Carrasco -
Eu e o Luiz Fernando nos demos tão bem que é até impressionante, porque não nos conhecíamos antes. Nos transformamos em parceiros nos primeiros cinco minutos de conversa, e nosso trabalho foi de parceria, sempre. Depois da minha entrada, tivemos também grandes cenas artísticas, mais lentas, como a greve na fábrica, toda em preto e branco. Talvez não tenham sido tão vistas porque foram ao ar na semana do Natal.

Folha Online - Alguns personagens também mudaram de personalidade. Reviravoltas aconteceram com sua intervenção na trama. Qual foi o critério utilizado pelo sr. para poder trabalhar em cada personagem? O sr. acha que o espectador compreendeu tudo o que foi feito e, por isso, a novela cresceu no ibope?

Carrasco -
O que é importante ressaltar é que toda novela tem reviravoltas e mudanças de trama. A novela é uma obra aberta, onde todo mundo opina. Você não imagina como é trabalhar numa novela da Globo. A gente sai na rua e a moça da banca de jornal dá um palpite, o vendedor da livraria, outro... Amigos que a gente não vê há tempos ligam para dizer alguma coisa. É, sim, um trabalho muito fascinante porque a gente conversa com o público o tempo inteiro. E também com os atores, através da interpretação de cada um. Tudo isso é um caldeirão de criatividade.

Mexer em tramas é normal em toda a dramaturgia. O grande exemplo é Scarlet O'Hara, de "E o Vento Levou...", que começa como uma mocinha do Sul, tradicional, à espera de um marido, e acaba enfrentando uma guerra, tentando se prostituir, casando por interesse. Ninguém nunca cobraria isso de "E o Vento Levou..." porque é um romance e um filme, uma obra fechada. Mas, acredite, toda a dramaturgia mexe justamente com isso... Reviravoltas. O personagem que não sofre transformação alguma não desperta interesse.

Qual foi a média de adiantamento de capítulos que o sr. conseguiu levar para o elenco, que estava recebendo as sinopses de um dia para o outro com o Benedito Ruy Barbosa?

Carrasco -
Essa é uma questão relativa, porque como escrevi alguns capítulos grandes, que geraram mais de um capítulo inteiro, consegui uma boa média. Mas os capítulos do Benedito também, frequentemente, rendiam mais de um.

Folha Online - Além da crise de autoria, a novela teve também muitos problemas com o elenco. Artistas adoeceram, como a Ana Paula Arósio [a atriz foi internada com gastroenterite], logo na reta final. Isso deve ter atrapalhado, de alguma maneira, mas como o sr. trabalhou com as ausências?

Carrasco -
Sim, eu tive que mudar dez capítulos inteiros, onde a ação dela [Ana Paula Arósio] era fundamental. Mas veja bem, uma novela dura um ano, entre o início de gravação e o final. É super comum acontecer alguma coisa com algum ator no meio do caminho. Trabalhamos com pessoas de idades variadas, e, às vezes, temos problemas de enfermidade, acidentes...

Folha Online - A direção da Rede Globo interferiu em algum momento no processo criativo ou o sr. teve liberdade para fazer mudanças que achou necessárias?

Carrasco -
De maneira alguma. A Globo costuma dar inteira liberdade aos autores. Posso dizer que a direção da Globo foi minha grande parceira.

Folha Online - Mesmo tendo mudado o perfil e o rumo de alguns personagens, foi impossível resgatar alguns que entraram e saíram no meio da história de Benedito Ruy Barbosa. Onde está, por exemplo, o Gaetano, vivido por Zé Victor Castiel? E por que matar o Genaro, personagem de Raul Cortez, que ia tão bem na trama?

Carrasco -
O Gaetano já havia saído da trama antes de eu entrar. O Raul Cortez tinha um acordo anterior à minha entrada, de acordo com o qual gravaria somente até o meio de janeiro. Tive que respeitar esse acordo, mesmo lamentando, porque ele é um grande ator. Mas quero lembrar: o personagem dele teve uma trajetória lindíssima, tornando-se um grande concertista e morrendo para salvar o filho. Terminou no alto. Foi maravilhoso.

Folha Online - Quais são seus próximos projetos profissionais?

Carrasco -
Vou dar um curso de roteiro no Rio de Janeiro com a Cininha de Paula, em março. Estou escrevendo um conto para o livro "Zodíaco", que deve sair pela Nova Alexandria. Fiz um dos quadros para uma peça que estréia no Rio de Janeiro em março. Estou escrevendo um romance infantil, "A Senhora das Velas". E tenho uma sinopse à espera de um ok na Globo. Mas... ufa... pretendo tirar férias no meio de tudo isso!

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