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18/02/2003
-
04h24
da Folha de S.Paulo
A ligação das palavras "Desorden Público" à Venezuela evoca quase imediatamente as imagens da barafunda política por que passa o país, notavelmente as que reproduzem os distúrbios ocorridos nas ruas da capital Caracas.
Até há pouco tempo, porém, esse vínculo residia no nome do grupo mais expressivo do cenário musical venezuelano recente, responsável por uma bem-sucedida junção do ska (gênero que deu origem ao reggae) a ritmos latinos de acento caribenho, como a salsa e a cumbia. Mas, de qualquer forma, não é longa a distância entre o Desorden Público e as questões mais prementes de seu país.
Criado em 1985 por dois ex-DJs influenciados por sons jamaicanos e pelo punk, o grupo se evidenciou a partir dos anos 90 por mesclar sua musicalidade festiva a uma fina ironia e bem-humoradas críticas dentro das searas política e econômica. Exemplo da música "Molotov Love", lançada em 1997, em que a banda brinca com a relação de países emergentes com o mercado financeiro, este simbolizado por uma desejada mulher cuja conquista é possibilitada seguindo os conselhos "amorosos" do Fundo Monetário Internacional.
O atual status da crise venezuelana não abre muito espaço para chistes de primeira hora. É o que se nota no tom do baixista e fundador do Desorden Público, José Luís "Caplís" Chacín, quando comenta à Folha, falando de Caracas, os embates entre o governo Hugo Chávez e a oposição.
"O que está ocorrendo é um caos em que não se vislumbra solução", afirma.
No meio do fogo cruzado, como está o grosso da população venezuelana, Caplís enxerga críticas para os dois lados: "Não sou partidário de Chávez porque há atitudes patéticas de sua parte, como estar armando as pessoas nos bairros. Há um grande temor por parte do governo de perder o poder, então parece que a maneira mais fácil de assegurar o seu poder por muito tempo é fornecendo armas para quem não sabe nem manejar um revólver".
"Há também uma grande culpa dos meios de comunicação. Eles já se converteram em meios propagandísticos da oposição, não estão cumprindo o seu papel de independência", diz. "E me pareceu algo cruel e estúpido quando os comerciantes, em nome da greve, fecharam as portas justamente em dezembro, o mês de maior movimento. Uma estratégia tão cega de ódio que não importava que quebrassem, contanto que Chávez saísse do poder", refere-se Caplís à greve organizada pela oposição ao governo, que terminou há cerca de duas semanas.
Música
O último lançamento do Desorden Público foi o disco "Diablo" (2000), que sai agora no Brasil pelo estreante selo independente Radiola Records. Mas a banda não ficou indiferente ao que se passa no país e compôs a canção "Mirándonos", que está disponível pela internet no site www.desordenpublico.net, cuja letra reflete em parte o pensamento do baixista Caplís ("tanta é a luta/ que não nos demos conta/ que nada fica depois de um naufrágio/ só pedaços flutuando/ à deriva no mar").
Com o lançamento de "Diablo" por aqui, Caplís revela que é intenção do grupo passar pelo país para uma turnê, sedimentando a ligação iniciada desde o trabalho com o produtor brasileiro Carlos Savalla (Paralamas do Sucesso) em "Canto Popular de la Vida y Muerte" (1994), grande sucesso na América hispânica.
"Sempre fomos fãs de seu trabalho e devemos a ele o fato de termos passado de um grupo de adolescentes para ser um dos principais projetos musicais da Venezuela", diz o músico.
Sem uma saída à vista para os problemas do país, é ver se o Desorden Público conservará no futuro a máxima da música "Truena Truena", de "Diablo": "aqui se sofre a vida gozando".
DIABLO
Artista: Desorden Público
Lançamento: Radiola Records
Preço: R$ 15
Onde encontrar: 0/xx/11/5579-5313 ou radiolarecords@uol.com.br.
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SHIN OLIVA SUZUKIda Folha de S.Paulo
A ligação das palavras "Desorden Público" à Venezuela evoca quase imediatamente as imagens da barafunda política por que passa o país, notavelmente as que reproduzem os distúrbios ocorridos nas ruas da capital Caracas.
Até há pouco tempo, porém, esse vínculo residia no nome do grupo mais expressivo do cenário musical venezuelano recente, responsável por uma bem-sucedida junção do ska (gênero que deu origem ao reggae) a ritmos latinos de acento caribenho, como a salsa e a cumbia. Mas, de qualquer forma, não é longa a distância entre o Desorden Público e as questões mais prementes de seu país.
Criado em 1985 por dois ex-DJs influenciados por sons jamaicanos e pelo punk, o grupo se evidenciou a partir dos anos 90 por mesclar sua musicalidade festiva a uma fina ironia e bem-humoradas críticas dentro das searas política e econômica. Exemplo da música "Molotov Love", lançada em 1997, em que a banda brinca com a relação de países emergentes com o mercado financeiro, este simbolizado por uma desejada mulher cuja conquista é possibilitada seguindo os conselhos "amorosos" do Fundo Monetário Internacional.
O atual status da crise venezuelana não abre muito espaço para chistes de primeira hora. É o que se nota no tom do baixista e fundador do Desorden Público, José Luís "Caplís" Chacín, quando comenta à Folha, falando de Caracas, os embates entre o governo Hugo Chávez e a oposição.
"O que está ocorrendo é um caos em que não se vislumbra solução", afirma.
No meio do fogo cruzado, como está o grosso da população venezuelana, Caplís enxerga críticas para os dois lados: "Não sou partidário de Chávez porque há atitudes patéticas de sua parte, como estar armando as pessoas nos bairros. Há um grande temor por parte do governo de perder o poder, então parece que a maneira mais fácil de assegurar o seu poder por muito tempo é fornecendo armas para quem não sabe nem manejar um revólver".
"Há também uma grande culpa dos meios de comunicação. Eles já se converteram em meios propagandísticos da oposição, não estão cumprindo o seu papel de independência", diz. "E me pareceu algo cruel e estúpido quando os comerciantes, em nome da greve, fecharam as portas justamente em dezembro, o mês de maior movimento. Uma estratégia tão cega de ódio que não importava que quebrassem, contanto que Chávez saísse do poder", refere-se Caplís à greve organizada pela oposição ao governo, que terminou há cerca de duas semanas.
Música
O último lançamento do Desorden Público foi o disco "Diablo" (2000), que sai agora no Brasil pelo estreante selo independente Radiola Records. Mas a banda não ficou indiferente ao que se passa no país e compôs a canção "Mirándonos", que está disponível pela internet no site www.desordenpublico.net, cuja letra reflete em parte o pensamento do baixista Caplís ("tanta é a luta/ que não nos demos conta/ que nada fica depois de um naufrágio/ só pedaços flutuando/ à deriva no mar").
Com o lançamento de "Diablo" por aqui, Caplís revela que é intenção do grupo passar pelo país para uma turnê, sedimentando a ligação iniciada desde o trabalho com o produtor brasileiro Carlos Savalla (Paralamas do Sucesso) em "Canto Popular de la Vida y Muerte" (1994), grande sucesso na América hispânica.
"Sempre fomos fãs de seu trabalho e devemos a ele o fato de termos passado de um grupo de adolescentes para ser um dos principais projetos musicais da Venezuela", diz o músico.
Sem uma saída à vista para os problemas do país, é ver se o Desorden Público conservará no futuro a máxima da música "Truena Truena", de "Diablo": "aqui se sofre a vida gozando".
DIABLO
Artista: Desorden Público
Lançamento: Radiola Records
Preço: R$ 15
Onde encontrar: 0/xx/11/5579-5313 ou radiolarecords@uol.com.br.
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