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27/02/2003
-
09h01
Editor de entretenimento da Folha Online
Quando começa, o documentário "Banda de Ipanema", de Paulo Cezar Saraceni, causa uma sensação estranha. Mostrada em fotos em preto e branco, a história do Carnaval ameaça engatar uma narrativa burocrática e sem graça. Mas se não fosse o chope e a cerveja, o filme não seria tão engajado, bem-humorado e despretensioso ao mesmo tempo.
A história do mais tradicional bloco de Carnaval do Rio de Janeiro, fundado por Albino Pinheiro, se constrói e afunda em alguns momentos, literalmente, num copo da mais popular bebida alcoólica brasileira.
"Banda de Ipanema", que estréia no próximo dia 28 em São Paulo e no Rio de Janeiro, é um filme bêbado. É também um filme de bêbado.
O documentário deslancha quando todo mundo já está pra lá do décimo gole, nos bares, nas ruas ou nas cenas resgatadas de arquivo em que os foliões se reuniam em casa antes de sair no bloco.
Saraceni, representante do Cinema Novo brasileiro e frequentador assíduo da Banda de Ipanema (que sai nas ruas do tradicional bairro boêmio carioca duas semanas antes do Carnaval), aproveita da intimidade com os personagens do bloco para apresentar sua história e, com isso, fazer história, homenageando Albino ao acompanhar o desfile de 2000.
A banda foi criada em 1965 e, desde então, marca com bom humor sua passagem pelas ruas de Ipanema. É um lugar sem preconceito, que aceita o gordo, o magro, o homossexual, o transformista, o negro, o branco, não escolhe religião nem sexo.
Entre os momentos mais engraçados das histórias do bloco, é imperdível a entrevista do pintor Newton Cavalcanti, que, frente à câmera, não sabe o que dizer e é orientado pelo diretor a falar sobre religião e Carnaval. Cavalcanti recebe outra ordem, do entrevistador, para falar sobre o bloco (e o documentário é sobre o quê?!), mas é surpreendido pelo próprio diretor, que deixa claro o motivo pelo qual faz o filme: "O diretor pode tudo", anuncia, pedindo ao entrevistado para retomar o tema inicial.
Também bêbado, Saraceni faz questão de aparecer no documentário e fazer do filme o seu metiê, como se estivesse em sua sala de estar.
Quem também garante um dos melhores momentos do documentário é o maestro Tom Jobim, que foi padrinho da Banda de Ipanema quando ela completou 30 anos, em 94.
Quando uma repórter de TV lhe pergunta sobre seu tênis novo, sarcástico, o compositor solta a pérola: "Isso foi o que Deus me deu. Ao menos foi o que ele entendeu quando eu pedi".
O documentário é recheado de personalidades como Jaguar, Lan, Ziraldo, Zezé Motta, Anna Maria Nascimento e Silva, Dona Zica, Beth Carvalho e Clóvis Bornay, entre outras, que falam do bloco ou participam do histórico desfile de 2000.
Como dá para contar nos dedos quem são os dois ou três entrevistados que não estão embriagados, "Banda de Ipanema" se torna um filme descompromissado, que se passa em qualquer boteco da esquina, tradição da boemia carioca.
O documentário causa aquela sensação de quem não bebe nas festas e fica só observando os amigos falando besteiras, engasgando e trocando as letras e palavras. É um marco no cinema.
"BANDA DE IPANEMA" (documentário, 86 min.)
Produção: Brasil, 2002
Direção: Paulo Cezar Saraceni
Quando: estréia 28 de fevereiro
Onde: nos cinemas de São Paulo e Rio de Janeiro
Distribuição: Riofilme
Especial
Veja fotos do filme "Banda de Ipanema"
Filme "Banda de Ipanema" se constrói num copo de chope
MARCELO BARTOLOMEIEditor de entretenimento da Folha Online
Quando começa, o documentário "Banda de Ipanema", de Paulo Cezar Saraceni, causa uma sensação estranha. Mostrada em fotos em preto e branco, a história do Carnaval ameaça engatar uma narrativa burocrática e sem graça. Mas se não fosse o chope e a cerveja, o filme não seria tão engajado, bem-humorado e despretensioso ao mesmo tempo.
A história do mais tradicional bloco de Carnaval do Rio de Janeiro, fundado por Albino Pinheiro, se constrói e afunda em alguns momentos, literalmente, num copo da mais popular bebida alcoólica brasileira.
"Banda de Ipanema", que estréia no próximo dia 28 em São Paulo e no Rio de Janeiro, é um filme bêbado. É também um filme de bêbado.
O documentário deslancha quando todo mundo já está pra lá do décimo gole, nos bares, nas ruas ou nas cenas resgatadas de arquivo em que os foliões se reuniam em casa antes de sair no bloco.
Saraceni, representante do Cinema Novo brasileiro e frequentador assíduo da Banda de Ipanema (que sai nas ruas do tradicional bairro boêmio carioca duas semanas antes do Carnaval), aproveita da intimidade com os personagens do bloco para apresentar sua história e, com isso, fazer história, homenageando Albino ao acompanhar o desfile de 2000.
A banda foi criada em 1965 e, desde então, marca com bom humor sua passagem pelas ruas de Ipanema. É um lugar sem preconceito, que aceita o gordo, o magro, o homossexual, o transformista, o negro, o branco, não escolhe religião nem sexo.
Entre os momentos mais engraçados das histórias do bloco, é imperdível a entrevista do pintor Newton Cavalcanti, que, frente à câmera, não sabe o que dizer e é orientado pelo diretor a falar sobre religião e Carnaval. Cavalcanti recebe outra ordem, do entrevistador, para falar sobre o bloco (e o documentário é sobre o quê?!), mas é surpreendido pelo próprio diretor, que deixa claro o motivo pelo qual faz o filme: "O diretor pode tudo", anuncia, pedindo ao entrevistado para retomar o tema inicial.
Também bêbado, Saraceni faz questão de aparecer no documentário e fazer do filme o seu metiê, como se estivesse em sua sala de estar.
Quem também garante um dos melhores momentos do documentário é o maestro Tom Jobim, que foi padrinho da Banda de Ipanema quando ela completou 30 anos, em 94.
Quando uma repórter de TV lhe pergunta sobre seu tênis novo, sarcástico, o compositor solta a pérola: "Isso foi o que Deus me deu. Ao menos foi o que ele entendeu quando eu pedi".
O documentário é recheado de personalidades como Jaguar, Lan, Ziraldo, Zezé Motta, Anna Maria Nascimento e Silva, Dona Zica, Beth Carvalho e Clóvis Bornay, entre outras, que falam do bloco ou participam do histórico desfile de 2000.
Como dá para contar nos dedos quem são os dois ou três entrevistados que não estão embriagados, "Banda de Ipanema" se torna um filme descompromissado, que se passa em qualquer boteco da esquina, tradição da boemia carioca.
O documentário causa aquela sensação de quem não bebe nas festas e fica só observando os amigos falando besteiras, engasgando e trocando as letras e palavras. É um marco no cinema.
"BANDA DE IPANEMA" (documentário, 86 min.)
Produção: Brasil, 2002
Direção: Paulo Cezar Saraceni
Quando: estréia 28 de fevereiro
Onde: nos cinemas de São Paulo e Rio de Janeiro
Distribuição: Riofilme
Especial
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