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23/03/2003 - 16h25

Crianças e adolescentes assistem à TV de madrugada

RODRIGO RAINHO
da Folha de S. Paulo

Apesar de o Ministério da Justiça desaconselhar a programação da TV a menores de 18 anos após as 23h, milhares de crianças e adolescentes compõem a audiência da madrugada.

Entre os dias 1º e 20 de fevereiro deste ano, por exemplo, dados do Ibope mostram que o erótico "Noite Afora" (Rede TV!, 1h) foi assistido por 6.490 crianças entre 4 e 11 anos só na Grande São Paulo. E o "Eu Vi na TV" (seg.,23h30), da mesma emissora, teve quase 50 mil telespectadores na faixa etária citada.

"Assisto ao programa da Monique [Evans" quase todos os dias. Gosto das reportagens do drag queen Leo Áquila", diz Raul Silva Santucci, 12, aluno da 5ª série, sobre o "Noite Afora".

"Não proíbo nada, mas aí vem a tendência dele de assistir a programas ruins, com temas inadequados", diz Rosemary Santucci, mãe de Raul.

"A abordagem do sexo nessas atrações é mais uma sátira." Lucas Polite, 12, da 6ª série, diz que dorme pouco. "Atrapalha a concentração na aula", afirma. Mas não dispensa as pegadinhas do "Eu Vi na TV". "É bom ver pessoas comuns ficarem bravas. Sinto vontade de ver o ator apanhar", afirma ele, que tem pena dos idosos vitimados pelas armações.

Contramão

Guilherme Lion, 11, da 5ª série, tem TV no quarto desde os cinco anos, mas está no time dos que optam pela programação infantil. "Um amigo convidou quase toda a classe para assistir a um programa erótico no canal Multishow. Decidi não ver, sou uma criança, prefiro os desenhos do Cartoon", diz ele. "Também não quero sair das regras, minha mãe não dá permissão para isso", afirma. A mãe de Guilherme, Maria Eliza Lion, veta alguns programas, como novelas e filmes adultos.

"A violência me preocupa mais que a erotização", diz. Gustavo Raguzzani, 14, aluno da 8ª série, afirma que se não tiver mulher nua no "Noite Afora" muda de canal. Segundo seu pai, Elias Raguzzani, não há patrulhamento. "Aqui, cada um tem a sua TV e vê o que quer. Meus filhos sabem o que é melhor para eles. Esses programas da madrugada são ridículos."

Priscila Castello Branco, 14, também da 8ª série, sente cansaço na primeira aula quando assiste à TV até tarde. Ela vê o "A Noite É Uma Criança" (Band, 0h30). "Quando não tem nada bom na TV, vejo o [Otávio] Mesquita, apesar de achá-lo bobo. A Monique fala muita bobagem e é vulgar", diz. Ariadne Castello Branco, mãe da adolescente, afirma que tenta convencê-la a não assistir a "programas ruins".

"Prefiro conversar, dá mais resultado." Sadomasoquismo é o tema predileto de Rodolfo Alexandre Lopes, 15, na madrugada. "Sexo em geral me atrai, mas a maioria dos programas não mostra."

Prós e contras

Para a psicopedagoga Maria Rosa Sancho Moreira, atrações da madrugada afetam as crianças. "Elas têm o tempo de sono reduzido, ficam hiperexcitadas e ansiosas", diz. "Esses programas prejudicam a formação da personalidade. Os pais devem selecionar a programação e limitar o tempo diante da TV."

A mesma opinião tem Neide Saisi, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP. "Embora o adolescente já tenha o corpo desenvolvido, ele não adquiriu maturidade psicológica para lidar com o sexo. Para a criança é muito pior, ela não entende a erotização."

Para Claudemir Edson Viana, pesquisador do Lapic (Laboratório de Pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação), da ECA-USP, não há problema. Priscila Castello Branco, 14, assiste à TV de madrugada em casa; ela diz que fica cansada na primeira aula do dia seguinte

 

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