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27/03/2003 - 04h00

Ecos da guerra aportam no Festival de Curitiba

VALMIR SANTOS
da Folha de S. Paulo, em Curitiba

Curitiba acompanha um teatro de operações bem diverso daquele que está em jogo na guerra anglo-americana contra o Iraque.

São cerca de 3.700 pessoas entre artistas e profissionais da organização empenhados durante dez dias, até o próximo domingo, na batalha diária de levar uma média de 70 espetáculos ao público.

Palcos e ruas formam o nicho para histórias ou atitudes que aludem a conflitos do passado e do presente, como a lembrar que a humanidade repete seus erros.

No Fringe, a mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, os três atores do espetáculo de rua "Commedia Dell'Arte Ensina a Preparar Sopa de Pedra" somam à maquiagem tradicional da máscara a palavra "paz".

"A peça fala da tolerância em relação ao próximo, exatamente o que faltou para que não acontecesse a guerra", afirma o diretor Valter Vanir Coelho, 28, da Cia. de Teatro e Poesia sem Máscaras, de São José dos Campos (SP).

De Belo Horizonte, o diretor Luiz Paixão encena "Troianas", um clássico do dramaturgo grego Eurípides. A disputada cidade de Tróia é convertida aqui em campo de concentração nazista.

"Eurípides é de uma atualidade apocalíptica. O ponto principal é o interesse comercial que está por trás de toda guerra. Ele denuncia isso lá na Grécia Antiga, na luta pela roda de oleiro na região do mar Egeu. Hoje, a gente vê os EUA invadindo o Iraque com interesses comerciais bastante claros", diz Paixão, 42.

A dramaturgia político-humanista do alemão Bertolt Brecht é representada por "A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo", escrita antes da ascensão do regime nazista (1933-45).

"O texto discute a idéia da revolução permanente contra poderes ditatoriais, fascistas, transformando o indivíduo para transformar o mundo. Isso é pertinente à sociedade de consumo em que vivemos", diz o diretor Marcelo Lazzaratto, 36.

Na Mostra Oficial, o grupo Parlapatões coloca parênteses na comicidade para tratar da tragédia da vez em "As Nuvens e/ ou Um Deus Chamado Dinheiro", conjunção de duas peças do comediógrafo grego Aristófanes, que viveu há cerca de 400 anos antes de Cristo.

Durante uma fala-rap, com cédula de cem dólares estampada numa persiana ao fundo, um dos personagens cita a transmissão da rede Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) no primeiro pronunciamento de George W. Bush, na noite de 22 de março.

Uma câmara captou o presidente dos EUA treinando fala e sendo penteado para entrar ao vivo. "Aquela imagem é histórica. O Bush parecia um boneco, sorrindo em alguns momentos, numa cena patética, senão trágica, para quem ia matar centenas", afirma o ator e palhaço Hugo Possolo, 40.

A montagem de "Os Sete Afluentes do Rio Ota", texto do canadense Robert Lepage, com direção de Monique Gardenberg, rememora a insensatez das bombas que caíram sobre Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). "É muito assustador ver que depois de cerca de 60 anos a história se repete", diz Monique.

Em "João and Maria", sobre os malefícios da mídia, a curitibana Cia. Senhas invocou a paz com um minuto de silêncio em cena aberta. Hoje pela manhã, os artistas que participam do Fringe estão convocados para um encontro que deverá definir uma manifestação contra a guerra.

O primeiro bombardeio ao Iraque aconteceu na quarta-feira passada (horário brasileiro). Na noite seguinte, a paulistana Fraternal Cia. de Arte e Malas-Artes abriu o festival com "Auto da Paixão e da Alegria". Uma tempestade com efeitos naturais de relâmpagos e trovões desabou sobre o teatro Ópera de Arame.


 

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