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28/03/2003
-
17h40
da Folha de S. Paulo, em Curitiba
O sonho de todo crítico em um festival de teatro é descobrir o grupo iniciante e excelente que chega sem fazer alarde, tendo como maior trunfo a fé em seu próprio trabalho e que torce para que, das quatro ou cinco pessoas presentes na estréia, se crie um boca a boca consagrador.
Foi assim, no último festival, com "Hysteria", do Grupo XIX.
"Vereda da Salvação" cumpre agora todas as condições para repetir o fenômeno. Fique claro que é, como a maioria vista no Fringe, um grupo de recém-formados, expondo um exercício formal. Mas é a despretensão com que os atores jogam com o difícil texto de Jorge Andrade, associada à apaixonada concentração com que cumprem a partitura do espetáculo, que faz com que o crítico exerça sem constrangimento a função de divulgador.
O grupo, ainda sem nome, é composto de formandos do Palácio das Artes, sob a tutela do diretor-professor Marcelo Bones, que os incentivou a contar a trágica história de Andrade, uma saga dos colonos que, enlouquecidos pelo jejum místico e pela esperança, acabam assassinando os próprios filhos.
Montar "Vereda da Salvação" não é um desafio qualquer. Já a estréia foi marcada por um retumbante fracasso, quando a direção de Antunes Filho, avançada demais para a época (acabara de acontecer o golpe de 1964), foi rechaçada pela direita por denunciar a opressão no campo, e pela esquerda, por considerar relevante a saída pelo misticismo.
Em tempos pós-utópicos, quando a estética pode se desvincular da ideologia, a montagem propõe um interessante meio-termo. Os movimentos estilizados dos atores desde o início do espetáculo suavizam o grotesco dos movimentos finais, pedido pelo texto, quando os colonos tentam voar.
O bom gosto é reforçado pela simples e eficiente cenografia de Marney Heitmann e pela trilha sonora composta também por alunos do Palácio das Artes.
O lado realista, no entanto, não se deixa ofuscar. Nenhum movimento é arbitrário, mesmo quando improvisado, e cada mudança de inflexão marca um conflito, esclarece uma alusão. Apesar de jovens para o papel, a seriedade e sensibilidade dos atores fazem com que a peça não só seja grata surpresa, mas seja imperdível.
Avaliação:
Especial
Confira o que acontece no Festival de Teatro de Curitiba
"Vereda da Salvação" desvela novos talentos do teatro
SERGIO SALVIA COELHOda Folha de S. Paulo, em Curitiba
O sonho de todo crítico em um festival de teatro é descobrir o grupo iniciante e excelente que chega sem fazer alarde, tendo como maior trunfo a fé em seu próprio trabalho e que torce para que, das quatro ou cinco pessoas presentes na estréia, se crie um boca a boca consagrador.
Foi assim, no último festival, com "Hysteria", do Grupo XIX.
"Vereda da Salvação" cumpre agora todas as condições para repetir o fenômeno. Fique claro que é, como a maioria vista no Fringe, um grupo de recém-formados, expondo um exercício formal. Mas é a despretensão com que os atores jogam com o difícil texto de Jorge Andrade, associada à apaixonada concentração com que cumprem a partitura do espetáculo, que faz com que o crítico exerça sem constrangimento a função de divulgador.
O grupo, ainda sem nome, é composto de formandos do Palácio das Artes, sob a tutela do diretor-professor Marcelo Bones, que os incentivou a contar a trágica história de Andrade, uma saga dos colonos que, enlouquecidos pelo jejum místico e pela esperança, acabam assassinando os próprios filhos.
Montar "Vereda da Salvação" não é um desafio qualquer. Já a estréia foi marcada por um retumbante fracasso, quando a direção de Antunes Filho, avançada demais para a época (acabara de acontecer o golpe de 1964), foi rechaçada pela direita por denunciar a opressão no campo, e pela esquerda, por considerar relevante a saída pelo misticismo.
Em tempos pós-utópicos, quando a estética pode se desvincular da ideologia, a montagem propõe um interessante meio-termo. Os movimentos estilizados dos atores desde o início do espetáculo suavizam o grotesco dos movimentos finais, pedido pelo texto, quando os colonos tentam voar.
O bom gosto é reforçado pela simples e eficiente cenografia de Marney Heitmann e pela trilha sonora composta também por alunos do Palácio das Artes.
O lado realista, no entanto, não se deixa ofuscar. Nenhum movimento é arbitrário, mesmo quando improvisado, e cada mudança de inflexão marca um conflito, esclarece uma alusão. Apesar de jovens para o papel, a seriedade e sensibilidade dos atores fazem com que a peça não só seja grata surpresa, mas seja imperdível.
Avaliação:
Especial
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