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29/03/2003
-
19h03
da Folha de S. Paulo, em Curitiba
Tal qual Marquês de Sade, Os Satyros resistem a tudo, menos à tentação. Pelo menos a tentação de remontar, pela terceira vez, uma das obras mais polêmicas da trajetória do grupo: "Filosofia na Alcova", atração dos últimos dois dias da Mostra Oficial no 12º Festival de Teatro de Curitiba.
O encenador Rodolfo García Vazquez, também o responsável pela adaptação do clássico do filósofo francês "A Filosofia na Alcova ou Os Preceptores Imorais" (1975), montou o espetáculo pela primeira vez 1990, em Curitiba e em São Paulo.
Boa parte do público e da crítica se ateve mais às passagens escatológicas do que às idéias que Sade propunha em sua obra.
Desde então, Os Satyros passaram a ser estigmatizados como um grupo que radicaliza em suas propostas. Não há concessões. Seus espetáculos invariavelmente vão expor o homem usurpado em sua liberdade, oprimido pelos padrões morais, econômicos, sexuais, enfim, pelos "muros" construídos na sociedade em que vive.
Em 1993, quando a peça foi remontada em Lisboa, circulando por outros países da Europa, notou-se que o público estrangeiro era atraído por certo exotismo em torno de uma companhia teatral brasileira que levava ao palco cenas impactantes do universo sadiano.
Ontem como hoje, esse olhar apressado induz a uma conotação erótica ou pornográfica da qual o grupo procura se esquivar.
"Não há essa perspectiva. Não queremos que as pessoas fiquem excitadas na platéia, mas, sim, reflitam sobre as questões que estão em jogo", afirma o ator Ivam Cabral, 38, presente nas duas versões anteriores, e na atual, como o libertino Dolmancé.
Libertinos
Sexo é essência, mas não é tudo. É preciso filosofar, quando se trata de Sade (1740-1814) . "Filosofia na Alcova" narra como dois libertinos, madame de Saint-Ange ou Juliete (Patrícia Aguille) e o nobre Dolmancé (Cabral), atuam na educação sexual da bela Eugénie de Mistival (Valquíria Vieira), 16.
Essa introdução ao mundo da libertinagem é plena em metáforas sobre as violações da existência. Antes de conhecer o mundo do sexo, Eugénie trilhará o caminho da filosofia.
"Quando montamos a peça pela primeira vez, queríamos vociferar. Hoje, vivemos um momento complicado, no qual padronizar a bunda da Carla Perez em nossas casas católicas parece perfeitamente adequado entre os padrões, comportamentos. Aparentemente está tudo escancarado, mas tudo é absolutamente velado", afirma Cabral. É Sade invocado para contrapor a hipocrisia na "era da bunda".
Curiosamente, "Filosofia na Alcova" estréia na mesma Curitiba onde tudo começou, em 1990, no Guairinha. Agora, será no teatro da Reitoria, neste sábado e domingo.
Transexual
Um dos pontos polêmicos do novo projeto dos Satyros é a participação do transexual cubano Phedra D. Cordoba, 66, no papel de um criado. Trata-se de um artista da dança que veio para o Brasil nos anos 50.
Phedra aproximou-se depois que o grupo abriu sua sede na praça Roosevelt, cerca de um ano atrás. "Ele estava perdido pelas noites de São Paulo", brinca Cabral, sobre o artista incorporado ao processo do espetáculo "com coragem para se despir do glamour e realçar o grotesco".
Depois de Curitiba, "Filosofia na Alcova" entra em temporada na capital paulista, a partir de 11 de abril, inaugurando o Espaço Satyros 2 do grupo, na mesma praça Roosevelt.
Antígona
Além de "Filosofia na Alcova", que estréia em Curitiba, Os Satyros estão em cartaz em sua sede com "Antígona", de Sófocles, na qual a tirania de Creonte constitui um bem-acabado retrato de George Walker Bush.
"Sófocles coloca o homem como a maravilha suprema do universo. Para Sade, o homem não é nada, ao contrário, um excremento da natureza, construído a partir da matéria-prima da destruição", filosofa Cabral, ao traçar um paralelo entre as duas montagens.
Especial
Confira o que acontece no Festival de Teatro de Curitiba
Satyros contrapõem "Filosofia na Alcova" à "era da bunda"
VALMIR SANTOSda Folha de S. Paulo, em Curitiba
Tal qual Marquês de Sade, Os Satyros resistem a tudo, menos à tentação. Pelo menos a tentação de remontar, pela terceira vez, uma das obras mais polêmicas da trajetória do grupo: "Filosofia na Alcova", atração dos últimos dois dias da Mostra Oficial no 12º Festival de Teatro de Curitiba.
O encenador Rodolfo García Vazquez, também o responsável pela adaptação do clássico do filósofo francês "A Filosofia na Alcova ou Os Preceptores Imorais" (1975), montou o espetáculo pela primeira vez 1990, em Curitiba e em São Paulo.
Boa parte do público e da crítica se ateve mais às passagens escatológicas do que às idéias que Sade propunha em sua obra.
Desde então, Os Satyros passaram a ser estigmatizados como um grupo que radicaliza em suas propostas. Não há concessões. Seus espetáculos invariavelmente vão expor o homem usurpado em sua liberdade, oprimido pelos padrões morais, econômicos, sexuais, enfim, pelos "muros" construídos na sociedade em que vive.
Em 1993, quando a peça foi remontada em Lisboa, circulando por outros países da Europa, notou-se que o público estrangeiro era atraído por certo exotismo em torno de uma companhia teatral brasileira que levava ao palco cenas impactantes do universo sadiano.
Ontem como hoje, esse olhar apressado induz a uma conotação erótica ou pornográfica da qual o grupo procura se esquivar.
"Não há essa perspectiva. Não queremos que as pessoas fiquem excitadas na platéia, mas, sim, reflitam sobre as questões que estão em jogo", afirma o ator Ivam Cabral, 38, presente nas duas versões anteriores, e na atual, como o libertino Dolmancé.
Libertinos
Sexo é essência, mas não é tudo. É preciso filosofar, quando se trata de Sade (1740-1814) . "Filosofia na Alcova" narra como dois libertinos, madame de Saint-Ange ou Juliete (Patrícia Aguille) e o nobre Dolmancé (Cabral), atuam na educação sexual da bela Eugénie de Mistival (Valquíria Vieira), 16.
Essa introdução ao mundo da libertinagem é plena em metáforas sobre as violações da existência. Antes de conhecer o mundo do sexo, Eugénie trilhará o caminho da filosofia.
"Quando montamos a peça pela primeira vez, queríamos vociferar. Hoje, vivemos um momento complicado, no qual padronizar a bunda da Carla Perez em nossas casas católicas parece perfeitamente adequado entre os padrões, comportamentos. Aparentemente está tudo escancarado, mas tudo é absolutamente velado", afirma Cabral. É Sade invocado para contrapor a hipocrisia na "era da bunda".
Curiosamente, "Filosofia na Alcova" estréia na mesma Curitiba onde tudo começou, em 1990, no Guairinha. Agora, será no teatro da Reitoria, neste sábado e domingo.
Transexual
Um dos pontos polêmicos do novo projeto dos Satyros é a participação do transexual cubano Phedra D. Cordoba, 66, no papel de um criado. Trata-se de um artista da dança que veio para o Brasil nos anos 50.
Phedra aproximou-se depois que o grupo abriu sua sede na praça Roosevelt, cerca de um ano atrás. "Ele estava perdido pelas noites de São Paulo", brinca Cabral, sobre o artista incorporado ao processo do espetáculo "com coragem para se despir do glamour e realçar o grotesco".
Depois de Curitiba, "Filosofia na Alcova" entra em temporada na capital paulista, a partir de 11 de abril, inaugurando o Espaço Satyros 2 do grupo, na mesma praça Roosevelt.
Antígona
Além de "Filosofia na Alcova", que estréia em Curitiba, Os Satyros estão em cartaz em sua sede com "Antígona", de Sófocles, na qual a tirania de Creonte constitui um bem-acabado retrato de George Walker Bush.
"Sófocles coloca o homem como a maravilha suprema do universo. Para Sade, o homem não é nada, ao contrário, um excremento da natureza, construído a partir da matéria-prima da destruição", filosofa Cabral, ao traçar um paralelo entre as duas montagens.
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