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30/03/2003 - 14h03

Alabarse monta 2ª peça da trilogia sobre Thomas Bernhard

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo, em Curitiba

Não é uma peça sobre circo, mas ela se passa num. Palhaço, malabarista, trapezista, domador, enfim, todos são arrancados de suas funções para servir à "utopia da arte perfeita" do diretor do circo, empenhado em fazer com que seus artistas executem o quinteto "A Truta", de Franz Schubert.

Atração de hoje, último dia da Mostra Oficial, "A Força do Hábito" retrata o embate de artistas de circo obrigados a cavoucar o talento da música em si mesmos para satisfazer aos caprichos totalitários do chefão Garibaldi.

O diretor gaúcho Luciano Alabarse apresenta a segunda peça da trilogia sobre a obra o austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), inaugurada no ano passado com "Almoço na Casa do Sr. Ludwig" e a ser completada em 2004 com "Heldenplatz" (praça dos heróis), último texto do autor para teatro, sobre anexação da Austrália pela Alemanha de Hitler.

Alabarse volta a trabalhar com o ator Luiz Paulo Vasconcellos, que interpreta Garibaldi, o diretor de um circo decadente que subjuga seus artistas.

"A Força do Hábito" marca também a parceria do encenador com o grupo gaúcho Falos & Stercus (Alexandre Vargas, Fábio Rangel, Luka Paz e Fábio Cunha).

Sai o cenário aristocrático de "Almoço na Casa do Sr. Ludwig", entra a lona auxiliar, espaço do circo no qual os artistas se dedicam aos treinamentos.

"Nesse drama, a palavra segue como dona absoluta, apesar de ser um espetáculo mais lúdico", afirma Luciano Alabarse, 49, que conversou com a Folha em Curitiba. Veja a entrevista:

Folha - Por que sua ênfase na obra de Thomas Bernhard?

Luciano Alabarse -
Qual é a primeira sensação quando admiramos um artista? É a capacidade que esse artista tem de chamar atenção, de nos deixar paralisados diante de sua obra. Foi assim que fiquei absolutamente impressionado com a força dramatúrgica de Thomas Bernhard.

Era um autor pouco conhecido e que tinha um universo que realmente merecia que fôssemos mais a fundo, que o revelasse. Eu tinha a sensação de que não havia esgotado a relação com o autor ao montar "Almoço na Casa do Sr. Ludwig". Trata-se de um universo absolutamente mais rico, mais completo que a representação de apenas uma peça.

Folha - De alguma forma, "A Força do Hábito" prolonga temas de "Almoço na Casa do Sr. Ludwig"?

Alabarse -
Sim. Muitos consideram "A Força do Hábito" a obra-prima do autor. Se eu queria mostrar Thomas Bernhard ao público brasileiro, não poderia passar ao largo desse texto.

A peça é uma parábola sobre autoritarismo. Ela ganha uma contundência absoluta neste momento histórico em que vivemos.

Hoje em dia, fica mais perceptível essa figura do Garibaldi, esse ser que massacre os seus aliados, empregados, por meio do fascínio, do autoritarismo, da retórica e da ação para dominá-los. O cenário internacional era bem diferente quando decidimos montar "A Força do Hábito", em julho do ano passado.

É uma parábola que se aplica a países, governos, apesar de não falar exatamente disso. O autor trata do ser humano de uma forma, mais uma vez, cruel, impiedosa. Numa das cenas, por exemplo, Garibaldi diz que "a solidariedade humana é um absurdo". Não é um personagem-clichê de tirano. É mais complexo. [O ator] Luiz Paulo Vasconcellos consegue interpretá-lo até a medula. Se o seu Ludwig era mais poderoso, centrado no campo das idéias, esse Garibaldi é mais físico, se movimenta mais, ainda que manque da perna esquerda.

É interessante notar que o projeto envolve o mesmo autor, o mesmo diretor, o mesmo ator principal, mas "A Força do Hábito" é a outra face da mesma moeda de Thomas Bernhard.

Folha - Esta segunda parte da trilogia incorpora um grupo de Porto Alegre. Como surgiu essa parceria?

Alabarse -
O Falos & Stercus é um dos grupos responsáveis pela renovação da linguagem do teatro gaúcho nos anos 90, fazendo teatro de rua em locais não-convencionais, sempre escolhendo um cenário real. É a primeira vez, acho, que eles estão realmente se apropriando de personagens com perfis mais definidos e levados a um palco italiano.

Os atores do grupo são de uma geração depois da minha minha e uma antes da do Luiz Paulo. Essa junção de tantas visões de teatro, que nos remexe e conduz a novos caminhos, tem sido uma experiência muito boa.

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