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João Moreira Salles retoma trabalho inacabado em "Santiago"
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SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha
Há dois ou três filmes dentro de "Santiago", o novo documentário de João Moreira Salles ("Nelson Freire", "Entreatos"). O mais evidente deles equivale ao que representou o também incomum "Cabra Marcado para Morrer" (1984) para outro grande documentarista brasileiro, Eduardo Coutinho: um retorno a um trabalho inacabado para uma espécie de "acerto de contas".
Em 1992, Salles filmou entrevistas com o antigo mordomo da casa da família, hoje sede do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, e captou imagens adicionais na mansão vazia onde passou a infância. Pensava em fazer um filme a partir desse material, mas não conseguiu trabalhar sobre ele e foi se dedicar a outros projetos. Cerca de 13 anos depois, reviu os depoimentos do mordomo --que morreu logo em seguida às filmagens-- e retomou o longa, agora como um documentário a respeito de um documentário inconcluso.
Outro filme dentro de "Santiago" é o que se detém nos procedimentos do documentarista, na ética da realização, nas armadilhas da manipulação e da simplificação. Essa pauta corresponde a uma aula magna sobre o tema, proferida com notável franqueza. Mas outras coisas, ocultas como em um filme de mistério, vão aos poucos se descortinando para o espectador enquanto também se descortinam para o diretor.
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