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19/08/2000 - 03h45

Chico Buarque e Edu Lobo falam em entrevista à Folha sobre "Sonhos"

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da Folha de S.Paulo

"Sonhos", que deve estrear em abril em São Paulo, tem quatro músicas prontas. No total, devem ser 12 para o disco que Chico Buarque e Edu Lobo pretendem lançar antes do espetáculo. "A peça é outra coisa", disse Chico.

Edu compõe, e Chico escreve as letras. João e Adriana Falcão desenvolvem a sinopse da história. "Como é um trabalho em gestação simultânea, uma coisa interfere na outra", afirmou Chico.
A seguir, os melhores momentos da entrevista com Chico e Edu.

Folha - Como surgiu a idéia do musical?
Chico Buarque -
Eu e o Edu queríamos fazer um musical há muito tempo. Aí apareceram uns produtores querendo pensar um musical ligado aos 500 anos. Isso foi no ano passado. O tema não atraiu a gente. Mas partiu daí a idéia de "Sonhos". Eu perguntei para a Adriana se ela tinha alguma idéia que não fosse sobre os 500 anos. E assim começou.

Folha - Começou do nada?
Chico -
Simplesmente.

Edu Lobo - A gente resolveu fazer um negócio que acho bacana, que é começar a trabalhar sem nada.

Chico - Não existe a produção montadinha. É difícil isso.

Folha - Por quê?
Chico -
Porque demora e, quando aparece a produção, você já está atrasado. Tem de começar a fazer uma coisa com a produção pressionando. Então, não pode estar tudo em cima.

Folha - Não tem nada definido?
Chico -
A produção existe, tem gente envolvida nisso, mas ainda não está nada definido. Tem uma data porque isso nos obriga a trabalhar também (risadas). Deve ser abril e em São Paulo.

Folha - É, então, uma produção independente?
Edu -
Não.

Chico - Em princípio é. É uma produção voluntarista.

Folha - E se ninguém quiser patrocinar a peça?
Edu -
Então fecha o Brasil e eu vou morar na Guatemala.

Chico - A gente faz uma cooperativa. Agora não vou parar de fazer essas músicas, não... (risos).

Folha - "Sonhos" conta a história de um ídolo pop que sonha ser um sujeito anônimo. Tem a ver com a vida de vocês?
Edu -
Para o Chico, isso é mais difícil. Para mim, é tranquilo.

Folha - É verdade, Chico?
Chico -
Nunca pensei sob esse ponto de vista porque esse artista não se parece com nada, ele também é um sonho. Não tem referência a nada que se possa identificar. O grande sucesso musical que o personagem faz não vai fazer sucesso. A música só faz sucesso na peça. Nunca me passou pela cabeça que essa história tinha a ver com a minha vida.

Folha - Como são essas canções?
Chico -
Por enquanto, temos quatro, duas prontíssimas e duas cujas letras estou terminando. Esse hit é uma canção de sedução. Há também canção inédita, então é uma música inédita e o nome da canção é "Canção Inédita" e a música tem de ficar inédita. O valor da música é esse. Tem também a canção que existe, que é a dos sonhos. O personagem se apaixona por uma mulher sonhada.

Folha - Quais são os ritmos?
Chico -
A "Canção Inédita" é uma valsa. O hit, não sei... Podemos chamar de pop.

Edu - É o pop do Miles Davis do final da vida dele. Tem uma espécie de atmosfera pop, só que é uma música com frases que não existem na chamada música pop tradicional. É um hit idealizado.

Folha - Quantas músicas vão ser?
Chico -
Eu tinha falado em 10, 12. Mas o próprio formato, com atores performáticos e tal, significa que, durante a peça, os diálogos vão ser quase raps cantados, ritmados, falados. Não são canções porque são músicas que aparecem ou vinhetas ou pequenas canções. Vai haver um disco, antes da peça, com 10 ou 12 canções. A peça é outra coisa.

Folha - E como isso tudo vai funcionar no palco?
Chico -
Tudo ao vivo, mas nada de músico no fosso ou no canto. A idéia é integrar tudo.

Folha - Como vocês se dividem?
Chico -
João e Adriana estão desenvolvendo a sinopse já com indicações de situações musicais. O Edu escreve as músicas, e eu, as letras. Como é um trabalho em gestação simultânea, uma coisa vai interferir na outra.

Folha - Vocês não trabalhavam juntos desde 87?
Edu -
Isso é uma loucura. Porque não faz 13 anos que a gente fez as canções para "Dança da Meia-Lua". Parece menos.

Folha - A relação com o tempo mudou?
Chico - É a vida. Mais um dia... (ele canta), e, no final, uma letra enorme. Agora é tudo tumtumtum, parapumpumpum. Morreu. Acabou. O próximo.

Folha - E "Estorvo", o filme?
Chico -
Gosto muito do filme. Acho que não é apropriado para Cannes. O Ruy concorda com isso. E aqui repercutiu muito pelo fato de ter tido críticas negativas. Por outro lado, o "Le Monde" fez críticas boas, ninguém fala disso aqui no Brasil. Eram críticas pequenas, que faziam ressalvas, mas muito elogiosas.

Folha - Gostaria que vocês comentassem o governo FHC
Chico -
Jura? Prefiro não tocar nesse assunto. Há muito tempo que eu me sinto bastante sozinho em relação a esse governo.

Folha - Por que sozinho?
Chico -
Porque eu tentei acreditar nesse governo, no primeiro governo. No segundo, eu já não acreditava mais. Já discordei do processo de reeleição. Fico numa situação desagradável, porque o que eu digo é muito pessoal.
Antes era mais fácil porque nós éramos todos contra a censura, contra o regime militar. Todos tínhamos um adversário comum.

Folha - Chico, você trocaria a seleção oficial pela seleção olímpica?
Chico -
Ronaldinho fez muita falta, ele estava suspenso, não podia jogar. Desmanchou o time todo. (Chico referia-se ao jogo Brasil e Chile da última terça-feira, em que o adversário goleou a seleção, vencendo por 3 a 0.)

Folha - A ausência do Ronaldinho justifica a lavada de 3 a 0 do Chile contra o Brasil?
Chico -
Não, a lavada foi porque aquele cara acertou a perna do chileno. Ali acabou o time. Essas coisas definem a partida.

Leia também:

  • Ouça a íntegra da entrevista de Chico Buarque à Folha de S.Paulo

  • "Sonho" terá performance de uma hora e 40 minutos

  • Chico Buarque reaparece no musical "Sonhos"

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