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06/05/2003 - 07h36

"O sistema é perdulário", diz Yacoff Sarkovas sobre polêmica cultural

MÔNICA BERGAMO
colunista da Folha de S.Paulo

Contratado pela Secom, de Luiz Gushiken, para ajudar na formulação da política de patrocínios de estatais, Yacoff Sarkovas entrou na linha de tiro de cineastas como Cacá Diegues e Luiz Carlos Barreto, contrários às novas orientações do governo. Ele vem sendo acusado de ser um "ministro da cultura" paralelo do governo.

Folha - Qual foi o seu papel na formulação dessa política?
Yacoff Sarkovas -
Orientei a formatação das regras, mas não seu conteúdo. Essas normas foram produzidas por um colegiado que tem a Secom, diretores das estatais e o Ministério da Cultura. Estão me atribuindo um poder até envaidecedor, mas eu humildemente declino. Não tenho responsabilidade sobre isso.

Folha - Você é um ministro da Cultura paralelo?
Sarkovas -
Parte disso é fruto de ignorância e parte, de má-fé. Esse ataque se dá em decorrência de minhas opiniões sobre o financiamento da cultura no Brasil. Há dez anos denuncio que foi instaurado um sistema perdulário de utilização do dinheiro público por interesses privados. O governo anterior não desenvolveu um sistema de financiamento à cultura. Implementou leis, como a do Audiovisual, que transferem esse dinheiro público, via isenção fiscal, para as empresas, e indivíduos pegam esses recursos no caixa dessas empresas. Não há dinheiro das empresas.

Folha - Não há?
Sarkovas -
Não. A dedução de imposto é de 125%. Você gasta R$ 125 de dinheiro público para fazer com que R$ 100 supostamente entrem no filme. Esse sistema não pode ser perpetuado. Antevendo essa discussão, começaram esses ataques a mim.

Folha - Mas é um sistema que funciona. Foram feitos filmes brasileiros de qualidade, vistos por milhões.
Sarkovas -
Se eu pegar um saco de dinheiro, subir num prédio da avenida Paulista e jogar esse dinheiro para o ar, várias pessoas vão pegar punhados desse dinheiro. Uma vai comprar bicicleta, a outra, feijão, e as pessoas vão dizer: "Olha como funciona!" Mas é a melhor forma de se distribuir dinheiro público? Essa é a discussão. Os próprios beneficiados sabem o absurdo da situação.

Folha - Os cineastas?
Sarkovas -
Todo mundo sabe. Em algum lugar do mundo você senta a bunda numa cadeira para ver um filme e a primeira coisa que aparece são marcas de empresas? Sendo que o dinheiro não pertence a essas empresas? Por que essas pessoas [os cineastas] temem estabelecer regras de fato atreladas a uma política cultural?

Folha - Por quê?
Sarkovas -
Há um status quo em que alguns têm acesso a formas de alcançar esses recursos. Outros não têm. E os que têm se sentem ameaçados.
 

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