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10/05/2003 - 07h47

Universal reedita discos de Baden Powell

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

A sempre precária discografia brasileira em CD do violonista e inventor fluminense Baden Powell ganha reforço tardio com o lançamento de caixa de luxo com 13 títulos que ele gravou entre 59 e 71.

Em uma de suas últimas entrevistas, em 99, Baden reclamou à Folha da gravadora Universal, que jamais havia relançado em CD títulos de prestígio mundial. "Não existe um na praça, quero até mover um processo", disse.

Baden morreu em 2000, aos 63 anos, e só agora a Universal paga a dívida. Na elegante caixa, está tudo que foi lançado desde a estréia solo de Baden em LP (no ainda convencional "Apresentando Baden Powell e Seu Violão") até sua saída da Philips (hoje Universal).

Isso inclui suas grandes obras-primas, gravadas em meados dos anos 60 pelos selos independentes Elenco e Forma, cujos catálogos também pertencem à Universal.

Pela Forma, ele concebeu, com Vinicius de Moraes, o revolucionário "Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius" (66), que remeteu a bossa nova ao candomblé e à pulsão rítmica do samba, ao mesmo tempo em que desfolclorizava os sons tradicionais da Bahia.

Quando morreu, Baden havia se tornado evangélico e já não aceitava mais os versos "profanos" de Vinicius para "Canto de Iemanjá" nem os "saravás" do "Samba da Bênção". Mas permanecia --e permanece-- a colossal influência dos afro-sambas sobre a música brasileira, erudita ou popular.

Antes e depois da passagem pelo Forma, Baden fixou residência longa no mítico selo Elenco, de Aloysio de Oliveira, um dos homens por trás da bossa nova.

Dessa associação, que persistiu entre 62 e 70 (quando a Elenco já virara selo da Philips), resultaram outros dos discos inquestionáveis de Baden, mas resulta também a balbúrdia documental em que a caixa de CDs chega mergulhada.

Pode-se argumentar que a própria discografia de Baden era confusa. Em 63, ele se mudou para Paris, de onde começou a gravar e lançar abundante discografia internacional. Muitos desses discos só vinham a ser lançados pela Philips com anos de atraso e títulos modificados -mas com repertório idêntico. Nesse caso, está o fortíssimo "Baden", que a Universal data em 68, mas que em 66 fora "Tristeza on Guitar", em histórica primeira edição européia.

A gravadora se justifica afirmando que optou por manter as datas do primeiro registro de cada disco na companhia, e não necessariamente sua edição original.

Mas a presença de dois especialistas --Carlos Alberto Sion e Tárik de Souza-- na condução do projeto de reedição desautorizaria equívocos elementares, como datar em 67 os dois mais importantes discos de Baden pela Elenco, "Baden Powell Swings with Jimmy Pratt" e "À Vontade".

O primeiro é um dos títulos inaugurais da Elenco. Biógrafos se debatem em definir a abertura da gravadora entre 62 ou 63 --em 67 não foi, pode ter certeza. A biógrafa oficial de Baden, Dominique Dreyfus, crava em 63 o crucial "À Vontade", em que o artista revelava "Consolação" e "Berimbau".

A história da Elenco é mesmo nublada pela falta de documentação à época, mas a Universal e seus pesquisadores se atrapalham pelas próprias pernas. Os textos explicativos tentam escapulir pela tangente, mas criam confusões paralelas: até ali se insinua que o velhusco "Apresentando Baden Powell" é de 59, mas a data de registro é 61. E pronto, deixa para lá se houve uma revolução bossa-novista separando as duas datas.

Felizmente, o vexame documental sabota, mas não ofusca a grandeza artística da obra reeditada. Essa se estende não só à volumosa produção de violão e aos afro-sambas cantados por Vinicius com o Quarteto em Cy mas também às diretrizes de sambão que marcaram a parceria posterior com Paulo César Pinheiro.

A redescoberta, aqui, é um disco creditado aos Cantores da Lapinha -na verdade dois membros do MPB-4 e duas integrantes do Quarteto em Cy. Elizeth Cardoso devia protagonizar esse disco, mas sua gravadora desautorizou.

Sambas ali contidos, como "Aviso aos Navegantes" e "Quaquaraquaquá", logo a seguir se tornariam emblemas para Elis Regina, que já namorara a nova dupla em 67 (com "Lapinha"). Voltam à história agora, tardiamente, em versão menos glamourosa, bem ao gosto de Baden.

Avaliação:

Baden Powell
Lançamento:
Universal
Quanto: R$ 150 (caixa com 13 CDs), preço sugerido pela gravadora

 

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