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17/05/2003 - 13h04

"Fúria", de Salman Rushdie, é retrato da América

GIOVANA MOLLONA
free-lance para a Folha Online, no Rio

Pela primeira vez no Brasil, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie veio especialmente à 11ª Bienal Internacional do Livro do Rio para lançar no país seu mais recente livro, "Fúria" (Companhia das Letras). Em coletiva à imprensa, ontem, no Hotel Sofitel, em Copacabana, Rushdie falou do processo de criação da obra e do papel da religião hoje. Menções à renovação da sentença do aiatolá Khomeini e à política de Bush também estiveram em pauta. "O personagem principal [Malik Solanka], com seu mau humor e acessos de raiva, é o retrato da crítica mundial que se faz dos Estados Unidos", definiu.

"Fúria" representou uma série de surpresas para o escritor. Primeiro, porque não era esse o livro que tinha em mente de início. "Tentei escrevê-lo anteriormente por três vezes, mas sem sucesso. Até que, um dia, o livro provocou em mim tal urgência que o fiz como num processo de fúria. Passava muitas horas me dedicando a ele e o terminei em menos de um ano."

Depois de pronto, uma terrível coincidência transformaria de vez a forma como o público iria encarar a história de um ex-professor de Cambridge, de 55 anos, que se muda para Nova York, onde passa a se dedicar a fabricação de bonecas. O lançamento oficial do livro foi nos Estados Unidos no dia 11 de setembro de 2001. O que era para ser uma obra satírica da indústria das celebridades se transformou num romance histórico, um retrato nostálgico da "Big Apple" antes dos atentados às Torres Gêmeas.

Sobre o porquê de ter escolhido Nova York como cenário, Rushdie foi taxativo: "A cidade é um eco do que acontece no resto do mundo", e completou: "fiz o livro sob a ótica de um imigrante, assim como eu, e não sob o ponto de vista de um nova-iorquino".

Ainda sobre Nova York, o escritor disse que a cidade, por sua atitude mais liberal, oferece uma falsa impressão do que é a América. "Muitos nova-iorquinos não votaram em Bush", disse. Mesmo assim, para Rushdie, o governo norte-americano não representa o pensamento da maioria dos cidadãos americanos e ele espera que, com a proximidade das eleições, esta oposição e suas idéias ganhem mais espaço. "Vejam o que aconteceu com o George pai? Ele não se reelegeu com a Guerra do Golfo".

O crescimento do papel da religião, principalmente na política, causa preocupação no escritor. Não é para menos. Perseguido pelo aiatolá Khomeini por causa do livro "Os Versos Satânicos", Rushdie comentou que durante um bom tempo esse tema suplantou o interesse pelo seus livros.

"Mesmo com esta renovação da sentença [feita pela Guarda Revolucionária do Irã], isso já é coisa do passado. Tenho observado que meus livros, hoje despertam mais interesse do que fatos como esse. Só mesmo uma crítica ruim é que me deixa chateado", brincou.

Questionado sobre a razão pela qual a religião ganha cada vez mais terreno, o escritor apontou a necessidade de as pessoas se agarrarem a algo estável, por terem dificuldade em absorver a velocidade das transformações que o mundo moderno impõe. "Estamos numa era de gurus e sou contra todos eles. Um país só é viável quando se separa religião e estado."

Hoje, o escritor participa do evento aberto ao público "Recebendo Salman Rushdie", às 18h, no auditório Otto Lara Resende, no Pavilhão Azul.

Na segunda, Rushdie estará em São Paulo onde participa de uma palestra no Masp (Av. Paulista, 1578) às 20h. Reservas pelo telefone 0/xx/11/ 3032-6143/ 6856.

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