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19/05/2003 - 03h32

Escritores enxergam EUA por meio de infortúnios familiares

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo, no Rio

Das centenas de milhares de livros que o mercado editorial norte-americano já despejou nas prateleiras desde o começo do novo milênio, foram poucos os que pararam tão de pé quanto "As Correções", de Jonathan Franzen, e "Uma Comovente Obra de Espantoso Talento", de Dave Eggers.

Os dois catataus não são parentes literários de primeiro grau, mas existe ao menos uma boa meia dúzia de genes unindo essa dupla de "espantosos" sucessos de crítica e público, dobradinha não usual na terra do tio Sam.

Franzen e Eggers são jovens, nasceram na Costa Oeste americana e acertaram na Mega-Sena da literatura escrevendo sobre famílias devastadas pelas doenças de seus patriarcas --e abordando o tema nada sorridente com a pena leve e bem-humorada. Quis o acaso que os dois trabalhos desses expoentes da nova ironia ianque brotassem no Brasil na colheita da Bienal 2003.

O estande da Companhia das Letras exibe o recém-saído do forno "As Correções". "Uma Comovente Obra de Espantoso Talento" (U.C.O.E.T) mora no espaço da Rocco. Franzen e Eggers não vieram ao país para o megaevento carioca --ainda que o primeiro tenha sido convidado. Então a Folha foi até eles.

Primeiro, os mais jovens. Eggers, 33 anos, furou a seca narrativa americana como um cacto raro. E sem espinhos. Em 2000, estreou com "U.C.O.E.T", livro no qual narra as memórias da perda repentina do pai e da mãe para o câncer, quase simultaneamente.

Em texto às vezes insuperavelmente irônico, em outros momentos quase abobado, mas com originalidade e competência inegáveis, ele narra como se transformou, junto aos irmãos, um jovem pai do caçula da família, Toph.

Em entrevista por e-mail, das raras concedidas pelo escritor --que lançou, no ano passado, seu segundo livro--, Eggers se mostrou bem menos histriônico. Acompanhe em seguida trechos do bate-papo com um dos queridinhos das letras norte-americanas de hoje.

Folha - Ainda que conte uma história triste, verdadeira e sua, "Uma Comovente..." tem uma forte base humorística. Até que ponto você acha que essa comicidade está relacionada ao seu sofrimento, como quando pessoas que estão muito nervosas gargalham em vez de chorar?
Dave Eggers -
Para ser honesto, não injeto propositalmente nada de humor no que faço. Minha família era engraçada, meus amigos encontram humor na maior parte das coisas, assim como eu. Livros sem humor não estão falando a verdade completa. Na vida, piadas são tão comuns quanto as folhas de árvores. Livros sem leveza descrevem só um mundo árido e invernal.

Folha - As ironias tomam importante espaço na sua escrita. Não seria a auto-ironia uma forma de se proteger dos críticos, já que você mesmo apontou os problemas?
Eggers -
Bem, não sou muito de comentar o tema ironia. É como falar sobre o ar. A ironia é uma parte de como nos comunicamos e assim é algo muito difícil de ser separada e examinada. Há partes do livro que são bem pouco conscientes já que o que descrevo é forte o bastante para obstruir qualquer autovigília.

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