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19/05/2003
-
04h19
da Folha de S.Paulo, no Rio
Com apenas três romances publicados, Jonathan Franzen já conquistou o papel de um dos principais arautos da ficção contemporânea dos EUA. O sucesso esmagador de "As Correções", história com eixo em uma família cujo pai tem as memórias devastadas pelo Parkinson, alçou o escritor de 43 anos ao papel não apenas de ficcionista "top", mas também de "top" pensador dos rumos do romance de hoje. Leia trechos da entrevista.
Folha - Em um ensaio seu de anos atrás você se mostrava muito pouco confiante sobre o futuro do romance. Até que ponto sua experiência com "As Correções" mudou seu ponto de vista?
Jonathan Franzen - Já havia mudado de opinião logo que terminei esse livro de ensaios. Não teria escrito "As Correções" se não tivesse recuperado minha fé no romance.
Folha - Você disse em entrevista que a literatura séria nunca devia deixar de lado a idéia de entreter. Você acha que essa busca pela satisfação do público foi fundamental para o sucesso de "Correções"?
Franzen - Jogar tênis em uma quadra sem a rede é muito esquisito. Eu já tentei, de verdade. Eu acho que tênis é mais divertido se jogado de acordo com as regras e o mesmo se aplica para a escrita.
Folha - Alguns críticos chamam essa literatura "jogada com a rede" que você e outros americanos vem fazendo de neoconservadora.
Franzen - Não compartilho da opinião dos que acham que a experimentação formal deve ser defendida como forma de resistência social. Acho tolice. Quando leio ficção é como se tivesse um caso de amor. O livro não vai me mudar se não o estiver amando.
Folha - Por que o tema fracasso, que tem destaque em "Correções", é tão importante para autores americanos como William Gaddis, Don DeLillo e Philip Roth?
Franzen - Acho que toda vida humana se desenrola no contexto do fracasso definitivo, a mortalidade. Para mim o fracasso é mais engraçado que o sucesso. Se não estou rindo sei que não estou fazendo o livro certo.
Folha - E como você lida com o grande sucesso, que obteve com esse livro sobre o fracasso?
Franzen - Primeiro passei seis meses enfiado em uma quase que total negação psicológica. Depois, outros seis meses tentando escrever outro romance, o que leva diretamente de volta à sensação de fracasso. Nada como tentar escrever boa ficção para saber o gosto do fracasso. Toda minha vida foi um grande fracasso pontuado por momentos esparsos de sucesso.
Folha - Na época em que negou convite ao programa da apresentadora Oprah Winfrey alegando que era um escritor de alta cultura, você disse: "Os jornais americanos só falavam de antraz, antraz, Afeganistão, Afeganistão e do vilão Franzen". Essa imagem ainda existe?
Franzen - Se encontro alguém em um avião, um encanador, e digo que sou um escritor e fiz tal livro, ele não terá a menor idéia de mim. Se digo que fui eu que tive um problema com Oprah, dirá: "Ah, já sei, claro". Você mesmo, quando for escrever sobre mim, terá de mencionar a história, pois é por ela que sou mais conhecido.
AS CORREÇÕES
Autor: Jonathan Franzen
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (584 págs.)
Especial
Saiba mais sobre a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro
Franzen defende busca pelo entretenimento na literatura séria
CASSIANO ELEK MACHADOda Folha de S.Paulo, no Rio
Com apenas três romances publicados, Jonathan Franzen já conquistou o papel de um dos principais arautos da ficção contemporânea dos EUA. O sucesso esmagador de "As Correções", história com eixo em uma família cujo pai tem as memórias devastadas pelo Parkinson, alçou o escritor de 43 anos ao papel não apenas de ficcionista "top", mas também de "top" pensador dos rumos do romance de hoje. Leia trechos da entrevista.
Folha - Em um ensaio seu de anos atrás você se mostrava muito pouco confiante sobre o futuro do romance. Até que ponto sua experiência com "As Correções" mudou seu ponto de vista?
Jonathan Franzen - Já havia mudado de opinião logo que terminei esse livro de ensaios. Não teria escrito "As Correções" se não tivesse recuperado minha fé no romance.
Folha - Você disse em entrevista que a literatura séria nunca devia deixar de lado a idéia de entreter. Você acha que essa busca pela satisfação do público foi fundamental para o sucesso de "Correções"?
Franzen - Jogar tênis em uma quadra sem a rede é muito esquisito. Eu já tentei, de verdade. Eu acho que tênis é mais divertido se jogado de acordo com as regras e o mesmo se aplica para a escrita.
Folha - Alguns críticos chamam essa literatura "jogada com a rede" que você e outros americanos vem fazendo de neoconservadora.
Franzen - Não compartilho da opinião dos que acham que a experimentação formal deve ser defendida como forma de resistência social. Acho tolice. Quando leio ficção é como se tivesse um caso de amor. O livro não vai me mudar se não o estiver amando.
Folha - Por que o tema fracasso, que tem destaque em "Correções", é tão importante para autores americanos como William Gaddis, Don DeLillo e Philip Roth?
Franzen - Acho que toda vida humana se desenrola no contexto do fracasso definitivo, a mortalidade. Para mim o fracasso é mais engraçado que o sucesso. Se não estou rindo sei que não estou fazendo o livro certo.
Folha - E como você lida com o grande sucesso, que obteve com esse livro sobre o fracasso?
Franzen - Primeiro passei seis meses enfiado em uma quase que total negação psicológica. Depois, outros seis meses tentando escrever outro romance, o que leva diretamente de volta à sensação de fracasso. Nada como tentar escrever boa ficção para saber o gosto do fracasso. Toda minha vida foi um grande fracasso pontuado por momentos esparsos de sucesso.
Folha - Na época em que negou convite ao programa da apresentadora Oprah Winfrey alegando que era um escritor de alta cultura, você disse: "Os jornais americanos só falavam de antraz, antraz, Afeganistão, Afeganistão e do vilão Franzen". Essa imagem ainda existe?
Franzen - Se encontro alguém em um avião, um encanador, e digo que sou um escritor e fiz tal livro, ele não terá a menor idéia de mim. Se digo que fui eu que tive um problema com Oprah, dirá: "Ah, já sei, claro". Você mesmo, quando for escrever sobre mim, terá de mencionar a história, pois é por ela que sou mais conhecido.
AS CORREÇÕES
Autor: Jonathan Franzen
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (584 págs.)
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