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19/05/2003 - 09h01

Escolha a pílula azul ou a vermelha antes de ver "Matrix Reloaded"

GUILHERME WERNECK
da Folha de S.Paulo

Assim como Neo, na primeira parte da trilogia, antes de sentar confortavelmente na sala de cinema para assistir a "Matrix Reloaded", você tem duas opções: tomar a pílula azul ou a vermelha.

Se você tomar a azul, vai ver um ótimo filme de ação/ficção, e, talvez, saia do cinema podendo jurar que foi uma testemunha dessa revolução cinematográfica que o filme proclama fazer.

Para quem aceita e quer permanecer no mundo de ilusão, o filme tem todos os ingredientes para fazer com que os truques cênicos em três dimensões e o ritmo alucinante das cenas de ação fiquem grudados na memória.

Afinal, é difícil não ficar impressionado com os efeitos visuais, como o já famoso "tempo de bala" em 360, o kung fu antigravitacional de Neo e companhia ou os vôos de super-homem do hacker transformado em messias, que domina a "Matrix" a ponto de conseguir reverter até morte.

O problema começa se você é fã do "Matrix" original - como a reportagem do Folhateen- e resolve tomar a pílula vermelha antes de ver o filme.

Aí você perceberá que "Matrix Reloaded" chega a ser estúpido se comparado ao seu antecessor.

Enquanto o primeiro usava a tecnologia para contar uma história intrigante, cheia de detalhes e questionamentos, o segundo a usa de forma exponencial, multiplicando as fórmulas que deram certo apenas para entreter e fazer tilintar as caixas registradoras.

Em "Matrix", era possível sair do cinema cheio de inquietações, procurando saber mais sobre as motivações de cada um dos personagens, sobre as implicações filosóficas de suas escolhas ao longo do filme e, principalmente, sobre a mescla de religião, filosofia, ciência e ficção, que possibilitava uma leitura mais rica daquele intrigante simulacro binário da realidade.

Em "Matrix Reloaded" tudo é aplanado. Os diálogos, pontos fortes do primeiro filme, se perdem num didatismo funcional e são apenas muletas para dar pistas da próxima cena de ação.

Com isso, o filme deixa de lado a pretensão de alimentar a cabeça dos espectadores e se fixa em encher os olhos e acelerar os batimentos cardíacos. Como em qualquer blockbuster de ação, os incensados irmãos Wachowski, diretores da trilogia, seguem à risca a receita da dupla Steven Spielberg/ George Lucas, usada à exaustão desde o final da década de 70: enxugar diálogos ao básico do básico para o entendimento literal do roteiro e encadear a ação de modo tão frenético que quem assiste ao filme não tem opção senão se render à montanha-russa de emoções pré-fabricadas.

Pior. Analisando com cuidado, até mesmo as cenas de ação passam do ponto. Muitas delas são longas demais e servem apenas para dar combustível às conversas dos aficionados por tecnologia e efeitos especiais.

Já na primeira cena, em que Trinity salta com sua moto do topo de um prédio, invade um outro edifício, enfrenta forte resistência e troca tiros com um agente em queda livre, dá para perceber que o tom mudou. Só que essa mudança não é criativa, é acumulativa.

Se Neo enfrentava o agente Smith no primeiro, agora ele é o superpoderoso e tem de enfrentar cem agentes Smiths replicados. Se as lutas do primeiro fizeram história, agora elas têm coreografias tão complexas que ninguém conseguirá copiá-las. E assim por diante, com as perseguições de rua, com os vilões etc. Tudo isso para terminar só daqui a seis meses, em "Matrix Revolutions".
 

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