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21/05/2003 - 16h19

Zélia revela em livro o que fez para tentar curar Jorge Amado

GIOVANA MOLLONA
free-lance para a Folha Online

Histórias para contar não faltam na vida de Zélia Gattai, 86, ainda mais quando elas são tragicômicas. Pelo menos é o que indicam os planos da escritora para seu próximo livro, que vai reunir episódios recentes vividos com o marido, Jorge Amado, morto aos 88 em 2001.

Jorge Amado, portanto, não poderia ficar de fora. E desta vez, a memorialista revela algumas passagens inéditas, na tentativa de curar o marido, incluindo histórias absurdas, como uma pajelança indígena.

Em entrevista à Folha Online no estande da editora Record durante a 11ª Bienal Internacional do Livro, Zélia falou do livro, acompanhada de sua filha, Paloma Jorge Amado, 51, que está lançando no evento seu livro "A Cozinha Baiana de Jorge Amado". O livro de Paloma fala sobre as receitas que figuram nos romances do pai.

Zélia, que ocupa na ABL (Academia Brasileira de Letras) a cadeira que era do marido, falou sobre o processo de criação da sua nova obra, ainda sem previsão de lançamento. Relutante de início, a escritora se entregou aos poucos, graças à insistência da filha. "Mamãe, conte tudo de uma vez!", disse Paloma. Depois, o que se viu foi uma conversa entre mãe e filha, unidas como são, e uma deliciosa entrevista com uma das maiores -e melhores- memorialistas do país.

Alexandre Campbell/F. Imagem
A escritora Zélia Gattai
Leia trechos da entrevista:

Folha Online - De que trata seu próximo livro?

Zélia Gattai -
Será uma reunião de histórias minhas recentes, ainda inéditas. Tragicômicas....ou melhor, mais cômicas do que trágicas.

Paloma Amado - Eu achei todas trágicas! (risos)

Zélia -Ainda não pensei no título do livro, mas de uma das histórias eu já tenho o nome: será "Pajelança Preventiva".

Folha Online - O que é uma "pajelança preventiva"?

Zélia -
Ah, você não sabe o que é uma pajelança? São aqueles costumes indígenas, com pajés. Vou te contar: minha neta, Maria João [nesta hora, Zélia faz uma pausa e lembra de Jorge Amado: "Jorge chamava ela de Mary Johns!", e ri] conhecia um índio na Bahia que ia receber outro vindo lá de Roraima. Este que estava chegando aplicava uma vacina, daquelas que serve pra tudo, sabe... Na época, Jorge já estava muito doente. Sofria de uma doença degenerativa na retina que o impedia de ler e escrever. Estava deprimido, diria até, revoltado.

Paloma - Mamãe, diga pra ela de quê era feita a vacina.

Zélia - De baba de sapo!! (risos)

Jorge Ruiz/Futura Press
A escritora Paloma Jorge
Folha Online - Mas a senhora tomou a vacina? Por que?

Zélia -
É... na verdade quis servir de cobaia para Jorge. Já tinha levado ele em tudo que era médico, lançado mão de todos os recursos e não via resultados. Então pensei: "Vou fazer uma aplicação. Se nada de ruim me acontecer, vou consultar o médico do meu marido para ver se ele poderia autorizar Jorge a tomar da mesma vacina também".

Folha Online - E como é feita a aplicação?

Zélia -
No lugar da seringa, eles pegam um pedaço de cipó que tem na Amazônia e o moldam para ficar como se fosse um estilete. A ponta afiada é aquecida e, em brasa, é aplicada nas pernas criando umas chagas. Nestas feridas, o índio aplica a baba do sapo.

Paloma - Agora você consegue imaginar o que é ver a sua mãe passar por isso...

Zélia - Ué, mas matar não ia...

Paloma - "Meu medo era que ela tivesse uma reação alérgica e ficasse com cara de sapo! (risos)

Folha Online - E aconteceu alguma reação desagradável?

Zélia -
Na hora da aplicação eu fiquei tonta e senti náuseas. Minha neta, Maria João, também fez e acabou passando mal igual a mim.

Paloma - Mas o pior é que ainda tinha o reforço.

Zélia - Ah, é! Dali dois, três meses, eu tinha que tomar outra dose. O índio falou que era necessário para ter o efeito desejado.

Folha Online - E a senhora teve coragem de tomar?

Zélia -
Claro! O problema é que no dia do reforço uma rádio queria um depoimento meu por causa do Dia do Estudante. Me ligaram justo na hora da sessão, e eu, de novo, estava tonta e enjoada. (risos). Não lembro de nada, mas me contaram que peguei o telefone e saí dizendo bem alto: "E então, para finalizar, eu quero saudar o grande escritor Jorge Amado!" Aí, desmaiei logo em seguida. (risos)

Paloma - A empregada começou a gritar, chamando a atenção da vizinhança e dizendo que a mamãe tinha morrido. O papai estava em outro cômodo e, ao ouvir os gritos, somente perguntou: "Morreu?".

Zélia - [para a filha] Que isso, menina! Seu pai não perguntou assim não... Quanto à rádio, depois desta, nunca mais me procurou.

Folha Online - E as demais histórias do livro? Sobre o que serão?

Zélia -
Além da pajelança, ainda estou pensando o que vou contar. Por enquanto, é segredo, mas posso garantir desde já que serão histórias tragicômicas.

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