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22/05/2003 - 03h41

Lars von Trier radicaliza propostas do Dogma em "Dogville"

PEDRO BUTCHER
da Folha de S.Paulo, em Cannes

Lars von Trier vive caindo em contradição. Ele foi a voz mais ativa na divulgação do manifesto "Dogma 95", mas fez um único filme respeitando suas regras ("Os Idiotas", de 1998). Dois anos depois, negou-as no musical "Dançando no Escuro", com Björk. Quando levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2000, disse que não voltaria a competir. E cá está ele outra vez, disputando. "Não acredite em mim", disse Von Trier à Folha.

O gosto pela polêmica rendeu-lhe a fama de "marqueteiro" --coisa que é, mas que termina ofuscando uma obra sólida e, sobretudo, mais coerente do que suas declarações públicas. O novo filme do cineasta, "Dogville", é forte exemplo dessa coerência.

São três horas de projeção de algo que está entre a literatura e o teatro, mas não deixa de ser cinema. Dentro de um estúdio há um palco retangular. Cada espaço demarcado traz um sinal ("casa de fulano" etc.). Quando é dia, o fundo é branco; quando é noite, preto. Cartelas indicam a passagem dos capítulos. Simples assim.

Tal simplicidade permite evoluções complexas. Com a ajuda de um narrador (John Hurt), o público conhece a infortúnia de Grace (Nicole Kidman), jovem que foge de gângsteres e se refugia na minúscula cidade de Dogville. A partir daí, Von Trier constrói uma fábula de situações metafóricas.

"Dogville" radicaliza as propostas do Dogma. Segundo o diretor, a decisão final em relação ao estilo despojado foi tomada depois de ele ter assistido a "O Senhor dos Anéis" e sua avalanche de efeitos digitais. "Quando um garoto com um mouse torna tudo possível, o cinema fica chato."

Em outro sinal de coerência, o diretor volta a criar uma personagem marcada pela pureza, vítima da crueldade humana, que se manifesta respaldada pela razão. E, de uma forma mais pontual que em "Dançando no Escuro", que fazia uma crítica à pena de morte, "Dogville" expõe um ponto de vista político. Von Trier quer demonstrar, em forma de parábola, as formas de utilização do poder por aqueles que estão numa situação mais forte. Os diálogos são frios, detalhe que o cineasta busca compensar no trabalho dos atores e com a aproximação da câmera.

"Dogville" é longo, mas é sua duração que permite um "crescendo" essencial, culminando com um desfecho de impacto. Mais forte, até, que o de "Dançando no Escuro".

Avaliação:

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