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22/05/2003 - 06h30

Salman Rushdie investiga a brevidade dos apogeus

PAULO DANIEL FARAH
especial para a Folha

O romance de Salman Rushdie, 55, "Fúria", em que a criatura (a boneca Pequeno Cérebro) se volta contra o criador (o professor Solanka) e quase o esfacela, foi descrito por alguns críticos como "profético" devido aos atentados de setembro de 2001. Autor do controverso livro "Os Versos Satânicos", o escritor anglo-indiano diz, em entrevista à Folha, que "Fúria" mostra que "a idade de ouro na história de uma cidade ou de um país é sempre breve".

Folha - Em seu romance mais recente, "Fúria", o protagonista satiriza Nova York. Por quê? O sr. também critica a cidade onde vive há quatro anos?
Salman Rushdie -
Essa visão corresponde parcialmente à minha. Eu sou bem menos mal humorado do que Solanka em relação à América e a Nova York. Há críticas contra a América --o que reflete uma tendência mundial-- em relação ao materialismo, aos excessos, e eu queria que Solanka concentrasse toda essa crítica.

Folha - O que representa a fúria que se apossa de Solanka?
Rushdie -M
O romance sugere que o que acontece com ele é uma metáfora daquilo que acontece no mundo. É possível também dizer que o que ele vê no mundo é, na verdade, uma projeção daquilo que está se passando em seu íntimo. Por causa do 11 de setembro, muitas pessoas dizem que este livro é profético. Acho que "Fúria" deixa claro que a idade de ouro na história de uma cidade ou de um país é sempre breve.

Folha - Seu livro "Step Across This Line" parece ser uma tentativa de evitar perguntas sobre a sentença de morte imposta no Irã em 1989...
Rushdie -
Sim. Escrevi vários textos nos nove anos em que tive de me esconder que retratavam minha experiência pessoal. Seria maravilhoso se as pessoas soubessem menos sobre minha vida e mais sobre meus livros.

Folha - O que o sr. gosta de ler quando está escrevendo um livro?
Rushdie -
Gosto de ler poesia quando escrevo prosa, pois é uma forma de lembrar que é preciso dar atenção especial à linguagem. É um problema escrever um texto longo, há um instinto preguiçoso de escrever frases fáceis do tipo "Ele veio e fechou a porta".

Folha - O sr. se policia para evitar carregar demais nos matizes autobiográficos em sua obra?
Rushdie -
Geralmente, não me censuro. Em "Fúria", Solanka tem minha idade, fez a mesma mudança que eu fiz, tem uma namorada semelhante à minha, mas esse é apenas o ponto de partida.

Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

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