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23/05/2003 - 04h58

Baudrillard recusa participação em "Matrix"

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo, em Cannes

Jean Baudrillard, 73, não assistiu a "Matrix Reloaded". Não viu e não gostou. O pensador francês foi procurado pela produção do filme para colaborar com seu roteiro, contou ele à Folha, mas recusou na mesma hora.

"O primeiro filme tinha desvirtuado minhas idéias. Aquela não era minha visão do virtual", opina Baudrillard, que teve seu "Simulacros e Simulações" exibido no "Matrix" original. É dentro de um exemplar desse livro que o personagem Neo guarda um disco com "drogas digitais".

Baudrillard não acha que "Matrix" seja "uma droga". Mas "existem filmes recentes melhores que este sobre o mesmo tema. "Truman Show", por exemplo, é mais sutil. Não deixa o real de um lado e o virtual de outro, como "Matrix". Esse é o problema."

Não foram esses problemas, porém, que trouxeram o pensador ao país. Palestrante de carteirinha no circuito universitário brasileiro, o autor de "A Sociedade de Consumo" pegou o avião ao Rio para receber o título de doutor honoris causa na Universidade Cândido Mendes e falar no Café Literário da Bienal carioca, onde lança o volume de artigos "Power Inferno" (editora Sulina).

Foi em torno dos temas desse livro que girou sua fala, que teve seu momento mais "power" no assunto 11 de setembro. "Talvez as torres gêmeas merecessem ser destruídas", disse. A tradutora ainda tentou confirmar se era aquilo mesmo. Ele assentiu.

Baudrillard não estava tentando preencher a ficha de inscrição na Al-Qaeda. Ele se referia à destruição simbólica de um sistema de poder que era encarnado pelos espigões do World Trade Center.

"Este terrorismo não é uma ameaça externa. É uma metáfora de uma fratura interna dos EUA", disse. O tal "Grand Canyon" estaria relacionado ao "poder sem limites americano". "Neles há uma falta de interesse total em legitimar seu poder", diz, em referência à "arrogância" dos "porta-vozes de Deus".

Baudrillard acredita que esse rolo compressor americano, que passou por cima do Iraque e do Afeganistão, "não resolveu as feridas do 11 de setembro". "O psicodrama que se seguiu a essa humilhação simbólica não foi resolvido nem com a guerra, que é sempre uma espécie de exorcismo."

E olha que os americanos teriam se esforçado, defende ele. "A TV é um simulacro do que acontece. Hoje ela se antecipa a si mesma. Ela já estava pronta para a guerra, e a guerra se desenrolou para ela", diz. "Os milhões que assistem são praticamente atores, consomem o acontecimento antes mesmo da guerra acontecer. Estamos diante de uma lógica de consumo, não mais de guerra."

E a guerra, assim, não passaria de apenas mais um "Matrix".

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